Crônica

A mulher e o carcereiro 1, por Giselle Mathias

Mas ela gostava de contar as histórias para mostrar como agem a maioria dos homens, (claro que há exceções, mas não vou falar sobre elas), sempre com muita ironia e um largo sorriso no rosto quando dava sua impressão sobre os seres masculinos que conheceu.

A mulher e o carcereiro 1

por Giselle Mathias

Antes da pandemia quando ainda podíamos nos sentar em mesas de bares e conhecer novas pessoas, e ter contatos pessoais, eu conheci uma jornalista, uma mulher de 50 anos, inteligente, altiva, autossuficiente e muito divertida.

Fiquei impressionada como ela encarava e falava sobre os diversos encontros que tinha tido no decorrer da vida, e como se divertia narrando até mesmo quando fora rejeitada, (não sei se é a palavra correta, mas vamos usá-la), pelos homens que cruzaram seu caminho.

Nunca a vi dizer que era um mulherão da porra, que não precisava deles ou que eles a haviam perdido, ou seja, esse discurso de psicologia de boteco de se enaltecer, dizia que assim são as coisas, assim é a vida e da mesma forma que era desejada por uns e não os queria, ela desejava outros que não a queriam, portanto, seguia seu caminho com lucidez e a certeza que lá na frente se depararia com outro que poderia ser mais um visitante ou se tornar um morador na sua vida.

Mas ela gostava de contar as histórias para mostrar como agem a maioria dos homens, (claro que há exceções, mas não vou falar sobre elas), sempre com muita ironia e um largo sorriso no rosto quando dava sua impressão sobre os seres masculinos que conheceu.

Hoje vou contar a história de um deles.

Um dia a jornalista sentada em um bar conversando com uma amiga sobre a conjuntura política do país, e lhe contando sobre a impressão de políticos que entrevistara acerca de denúncias apresentadas pelo Ministério Público ao Judiciário contra um determinado governador, observou a chegada de um homem que se sentara na mesa mais próxima e de frente para ela.

Esse homem chegou só e com um computador em suas mãos, sentou-se, o abriu e iniciou sua escrita. Ela achou a cena peculiar, uma pessoa ir trabalhar na mesa de um bar, era algo incomum e interessante, mas como sempre fez, simplesmente, manteve-se como se nada tivesse lhe chamado a atenção.

A amiga resolveu ir ao banheiro e enquanto aguardava a sua volta, começou a deslizar seus dedos no celular como se estivesse distraída, e delicadamente levantou seu olhar na direção daquele homem curioso, e como calculado e esperado por ela, eles cruzaram o olhar.

Quando sua amiga retornou lhe disse quase sussurrando que ao sair observara que o homem da mesa em frente não tirava os olhos dela, e com um sorriso jocoso ela respondeu: “Eu já tinha percebido, tanto que lhe concedi uma troca de olhares, como se fosse apenas uma coincidência do destino!”.

Depois de umas boas risadas, as duas se levantaram para fumar no jardim, onde era permitido. A jornalista se levantou, andando suavemente e quando passou próximo a mesa, levemente virou a cabeça na direção daquele homem e o olhou nos olhos com um breve sorriso nos lábios.

Após alguns minutos, suficientes para terminar o cigarro, retornaram à mesa, conversou mais um pouco com sua amiga, e decidiram encerrar a conta por que já estavam atrasadas para outro compromisso que assumiram.

Pagaram a conta e se levantaram para irem embora, quando ela de relance observa o homem do computador escrever algo em um pequeno papel e chamar o garçom. Ela conta que nesse momento apenas sorriu e pensou: Lá vem mais um bilhetinho!

Depois relato outra história de bilhetinhos recebidos por ela.

Assim, quando já estavam se encaminhando para a saída o garçom rapidamente se aproximou dela e disse que o homem do computador havia pedido para que lhe entregasse o bilhete, em que constava o número do telefone e o nome de quem o enviara. Ela se vira, pega o pequeno papel, sorri ao homem e coloca o bilhete no bolso de trás da calça.

A amiga lhe perguntou o que faria, ela respondeu que iria mandar uma mensagem, pois ficara curiosa com aquela figura que decidira trabalhar com seu computador em um feriado no bar.

Assim foi feito, entrou em contato pelo meio de comunicação mais popular hoje e iniciaram a famosa troca de mensagens via whatsapp, e nessas mensagens aquele homem lhe disse que era escritor, depois lhe encaminhou o conto que terminara de escrever no dia em que a tinha visto pela primeira vez. Não direi aqui a impressão que ela teve sobre a qualidade do conto, até porque ela apenas me disse que estava bem escrito, e resguardou sua opinião sobre o que achara, apesar de ter sido questionada sobre isso.

A comunicação virtual ocorreu por meses, o que a deixou cansada e entediada por várias vezes, mas disse que tentava entender pois descobrira que se tratava de um homem mais novo, com pouco mais de 10 anos a menos que ela, e como tivera algumas conversas interessantes sobre filosofia, literatura, conjuntura política, humanidade e a vida, temas que lhe agradam profundamente decidiu manter a comunicação, mesmo que virtual.

Nesse momento da história já estávamos todas encantadas com aquele homem, que apesar da ausência de encontros nos parecia ser diferente da maioria dos que encontramos por aí.

Mas como nada é tão bom quanto parece, ela nos pede paciência para continuar a história. Afinal, trata-se de mais um homem…  

Giselle Mathias é advogada em Brasília e integra a ABJD/DF, a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF.

Redação

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