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Julian Assange: O homem que fez sangrar as veias da Internet

Julian Assange fala sobre livro que aborda futuro da internet PUBLICADO EM 05/02/2013, por Elizabeth Carvalho

O fundador do site Wikileaks, maior fonte de divulgação de documentos secretos de países poderosos, pediu asilo político ao Equador. Lá, ele falou exclusivamente sobre o crime que diz não ter cometido e seu livro.

Muitas são as perguntas a fazer a Julian Assange, a começar pelas razões que fazem dele um personagem tão controverso: o vazamento de documentos secretos de Estado no WikiLeaks servem ou não para fazer avançar a liberdade de imprensa, são ou não positivos para a democracia? 

São perguntas que me assaltam a caminho da embaixada do Equador em Londres e se misturam a lembranças de uma era ainda pré-WikiLeaks, quando fotos tenebrosas vazadas para a mídia internacional correram o mundo, mostrando soldados americanos torturando prisioneiros iraquianos.  

Gostaria muito de discutir essas questões com ele. Pertenço a uma categoria de profissionais que reconhece no trabalho de Assange, independente de qualquer tipo de julgamento, um momento marcante na história do jornalismo contemporâneo, porque sua filosofia se apoia num princípio incômodo, que funciona mais ou menos como um termômetro do modus operandi de nossa profissão:  segredos são feitos para serem desvendados.  

Não fosse assim, e o Primeiro Ministro Mariano Rajoy não teria agora que explicar aos espanhóis o que faz o seu nome entre os beneficiários de depósitos polpudos que constam no “livro secreto” do tesoureiro de seu Partido Popular, apenas para mencionar um escândalo recente que me assalta agora, no momento em que  escrevo essas linhas, assim como as fotos das torturas e humilhações de prisioneiros iraquianos me assaltaram em Londres.  

Segredos.  Fontes. E a preservação das fontes. Que tipo de sentimentos sofre um profissional quando uma de suas fontes secretas amarga uma prisão desumana pelas informações que passou?  Como teria sido possível que o soldado Bradley Manning terminasse sendo vítima de hackers – os que trabalham para a CIA?

Sim, eu gostaria muito de discutir essas questões com ele.

Mas não haverá tempo para discussões. Na sala de reuniões da pequena e modesta Embaixada do Equador para a qual Paulo Pimentel e eu somos conduzidos, a porta se fecha e uma voz se levanta:  “você está ciente de que Julian Assange vai falar nessa entrevista exclusivamente sobre seu livro”? De pronto, respondo ter deixado claro, na troca de correspondência com a editora Boitempo, dona dos direitos de sua publicação no Brasil, que mesmo considerando interessante o conteúdo do livro eu tinha outras perguntas a fazer e não pretendia que fossem censuradas.

Começo perturbador.  Na sala de reuniões, um segundo jovem sorridente de longos cabelos avisa que vai gravar a nossa gravação da entrevista.  Esta é a sua função no staff de Assange: registrar com sua câmera tudo o que acontece com ele.  “Bem,” argumentamos, “é um pouco incômodo, mas”…  Mais incômoda ainda será a pressão de um terceiro membro da equipe, que abre e fecha a porta por três ou quatro vezes, pedindo que aceleremos a montagem dos equipamentos de câmera e luz.   Assange não tem muito tempo, porque  vai conceder mais entrevistas a jornalistas brasileiros depois da nossa.  O rapaz adverte que não haverá contemplação para além dos vinte minutos que nos foram reservados.  Ainda mais perturbador.

Finalmente entra Assange.  Um homem magro, pálido, com cabelos lisos e brancos em abundância,  caminha rapidamente em minha direção, vestido com uma velha camisa da seleção brasileira que não lhe cai nada bem.  “Mas o que é isso”?, eu pergunto.  Vamos jogar futebol”?   Ele responde desajeitadamente:  “Homenagem ao Brasil”.  

Mais e mais perturbador.  Brasil e futebol.  O clichê dos clichês.  Percebo no comportamento de Assange e seu staff um viés do marketing que cerca uma estrela de cinema em véspera de lançamento de filme. Um tema para a entrevista, um tempo cronometrado, algum simbolismo a passar do tipo “eu visto a camisa de vocês.”. 

Começo com uma pergunta pessoal, sobre seus sete meses de confinamento na embaixada do Equador.  Ele responde falando do livro.  Este é um jogo de cartas marcadas, eu penso, em que ele tem que sair vencedor.  Percebo a agilidade da inteligência de Assange e a frieza do jogador que não move um músculo da face.  Por trás da câmera, o “croupier” que cronometra o tempo vai me acenando com uma irritante contagem regressiva.  

Lamento”, diz Assange.  “A embaixada é latino-americana, mas o horário é anglo-saxônico”.   Soa pouco elegante ouvir isso de um homem que enaltece no prefácio do livro os avanços em direção à auto-determinação  do país que o acolhe e de seus vizinhos.

Julian Assange é um anglo-saxão num espaço latino-americano e parece não se sentir à vontade dentro dele.  Nem diante da mídia que o ajuda a transmitir suas idéias pelo continente.  Mas, por mais perturbador que isso possa parecer, é indispensável conhecê-las.  Elas ajudam a pensar e refletir melhor sobre a grande teia em que todos nos encontramos.      

 

 

 

O homem que fez sangrar as veias da Internet

 

 

 

sex, 01/02/13

 

por rodrigo.bodstein |

 

 

 

Na próxima segunda-feira, o Milênio apresenta uma entrevista com Julian Assange, fundador do Wikileaks, e discute a guerra virtual pela informação, os rumos da Internet e a importância da criptografia para a liberdade dos usuários. 23h30, na Globo News.

A Internet talvez não seja tão etérea quanto parece. O sonho de um mundo nas nuvens, quase como uma mistura do universo do filme Tron com viagens intergalácticas em que tudo flui em um rio digital e as distâncias não mais importam, precisa de uma estrutura bem real para existir. Tubos, cabos intercontinentais, fibras óticas, centros de endereçamento e hubs nas principais cidades mantém a roda girando, como lembra o jornalista Andrew Blum em seu livro “Tubes”.

O primeiro passo aconteceu com a ARPANET, um experimento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e de algumas universidades, ganhou volume em 1983, com a adoção do protocolo TCP/IP, o que permitiu unificar diversas redes ao redor do mundo e, a partir daí, o crescimento foi exponencial. De alguns laboratórios isolados, na década de 1970, a “rede das redes” tornou-se tão densa que está hoje em nossos celulares, aparelhos de televisão, computadores, tablets e, no futuro próximo, em nossos óculos.

Por mais que ela tenha crescido, alguns princípios continuam os mesmos. Segundo Andrew Blum, “cada endereço de IP é de conhecimento público e todo o processo é baseado na confiança de que a informação chegará ao seu destino.” Enquanto a confiança é a base da parte técnica, o desafio parece ser o uso que se faz da rede. São inúmeros os casos em que empresas são processadas por violação de privacidade ou por vender os dados dos usuários. Nas palavras de Julian Assange, “a Internet tornou-se a mais importante máquina de espionagem já inventada.”

Todo tipo de comunicação flui por essas veias que atravessam o planeta e pulsam na velocidade da luz. Governos, usuários civis, militares, todos utilizam essa ferramenta, e, como Assange disse “não há mais divisão entre a Internet e a civilização moderna.” Essa integração, porém, tem custos. Em artigo para a Vanity Fair, em 2012, Michael Joseph Gross resumiu as consequências da expansão. Os principais desafios da rede, segundo Gross, giram em torno de quatro temas: 1 – soberania, 2 – pirataria e propriedade intelectual, 3 – privacidade e 4 – segurança.

Essas fronteiras, delimitadas por interesses políticos e econômicos, colocam novas questões com relação à ética e implicam em um novo tipo de guerra. Antes, a batalha pela informação era baseada em “quem iria escrever a história” ou “quem iria desenhar os mapas”. Hoje, mais do que o conteúdo a ser escrito, a guerra é pautada pelo controle sobre o que é veiculado, sobre a forma com que os dados vão circular. É um conflito mais sutil, mas que envolve bilhões de dólares. Informação é o petróleo do século XXI.

Em 2012, o Congresso e o Senado dos Estados Unidos concordaram em dar aos militares norteamericanos o poder de conduzir ataques online e veio a público a operação “Jogos Olímpicos”, realizada desde 2010 contra o programa nuclear iraniano. Esta semana, foi noticiado que hackers chineses atacaram computadores do New York Times, supostamente por causa de um relatório sobre o enriquecimento do premiê Wen Jiabao. O ciberespaço, considerado por uns o ápice da liberdade humana, ganhou, oficialmente, a categoria de campo de batalha. Ainda nessa linha, Assange ressalta que a NSA, National Security Agency, em comunicado ao Congresso afirmou interceptar, pelo menos, “1.6 bilhões de comunicações por dia” e, ele ressalta, “há 7 bilhões de pessoas no planeta.”

Pirataria e privacidade foram questões em alta ano passado. O debate sobre SOPA (Stop Online Piracy Act), o PIPA (Protect IP Act) e o ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Agreement)) levou milhares de pessoas às ruas nas principais capitais do mundo contra esses projetos de lei, que buscam maior “ordem” na internet. A questão, sustentam os críticos, é quem seriam os beneficiados por esses esforços e que riscos para os direitos de privacidade e liberdade de expressão haveriam.

Nesse conflito virtual, dominado por corporações e governos e com consequências reais, uma organização ganhou destaque. Fundado em 2006,o Wikileaks começou a jogar na rede informações confidenciais. Procedimentos de Guantánamo, comunicações entre embaixadas americanas (Cablegate), interceptações telefônicas do escândalo do petróleo no Peru, documentos sobre a crise na Islândia, sobre a guerra no Iraque – pelos quais o soldado Bradley Manning está sendo julgado e o que traz a questão sobre a segurança das fontes – e sobre a guerra do Afeganistão. A lista parece não ter fim.

Julian Assange talvez seja tão polêmico quanto a organização que dirige. Alvo de investigações por parte dos Estados Unidos por causa dos vazamentos, acusado de ter estuprado duas mulheres na Suécia – fato que nega -, obcecado pelo trabalho, pediu asilo político ao Equador – país que recentemente foi foco de críticas com relação à liberdade de imprensa, um valor que está como norma absoluta do Wikileaks. Esta semana, anunciou sua candidatura ao senado australiano e, mesmo confinado, vai publicar um livro. O Milênio apresenta, na próxima segunda-feira, o homem que fez sangrar as veias da Internet. Dia 04 de fevereiro, 23h30, na Globo News.

por Rodrigo Bodstein

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