A invencível invasão chinesa

Coluna Econômica

Em O Globo de ontem, a informação de que as editoras brasileiras estão mandando imprimir seus livros na China.

É rápido e indolor. Pela Internet, faz-se o pedido e enviam-se as provas. Os custos são, em média, metade do mercado brasileiro. Depois, há o frete. Da China ao Brasil, por navio, o frete de um livro de 1,5 kg sai pelo mesmo valor de um frete rodoviário Rio-São Paulo.

Segundo explicou a Cosac ao Globo, o livro  “Linha do tempo do design gráfico do Brasil” é vendido a R$ 212. Se fosse impresso no Brasil, a edição custaria R$ 400. A Sextante lançou uma série a R$ 59,90. Se impressa no Brasil, sairia por R$ 100,00.

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Dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) indicam que em 2012 o Brasil importou 13,5 mil toneladas de livros da China – o equivalente a 3,5 milhões de exemplares.

O único inconveniente chinês é o tempo de entrega: 120 dias, adequado para livros não best-sellers, que podem ser distribuídos a qualquer momento.

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Vamos a pequenos exercício sobre o câmbio, imaginando um livro chinês de R$ 100,00 e um brasileiro de R$ 200,00.

Suponha que, no custo final do livro, 40% sejam de insumos dolarizados (papel, cuja cotação é dolarizada).

No Momento 0, o custo do livro brasileiro é 100% superior ao do chinês.

Suponha, agora, uma maxidesvalorização de 50%. No produto brasileiro, o impacto de custos seria apenas sobre os 40% dolarizados. O produto brasileiro passaria para R$ 240 e o chinês para R$ 150. A diferença cairia para meros 60%.

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É por isso que produtores de frutas do nordeste estão importando embalagens de papelão da África do Sul, ou editoras, se não vão para a China, mandam fazer livros especiais no Chile.

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A primeira conclusão que se tira é que, um cálculo isento sobre a taxa de câmbio, exigiria uma desvalorização gigantesca para devolver a competitividade à produção nacional.

A segunda conclusão é que, enquanto não chega a maxi, nem avançam os investimentos em infraestrutura, há que se avançar na defesa comercial. Mas de que maneira?

Hoje em dia, o grande desafio brasileiro é revitalizar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e as negociações multilaterais. Nas relações bilaterais, o país mais forte impõe sua lógica. Nas multilaterais, há espaço para se perseguir algum equilíbrio nas relações comerciais, tratando de forma desigual os desiguais.

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No âmbito da OMC, o foco atual dos países emergentes é não apenas abrir espaço para as commodities mas também para manufaturados. Ocorre que, nos níveis atuais de desajuste de câmbio, o Brasil jamais teria condições de definir alíquotas universais para classes de produtos. Em igualdade de condições tarifárias, a indústria brasileira seria esmagada pelos importados.

Por isso mesmo, para revitalizar a OMC, o ponto central seria incluir o câmbio nas questões comerciais. Uma defasagem cambial de 50% mata qualquer eficácia de alíquotas protetoras de importação.

Mas aí se esbarra em limitações consideráveis. No âmbito diplomático, há uma tendência brasileira de se aproximar da China, como maneira de equilibrar o poder diplomático dos Estados Unidos.  E, para a China, o câmbio é tabu.

Internamente, a barreira é maior ainda. Apenas o Sr. Crise conseguiria tirar o câmbio da sua inércia atual.

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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