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A incógnita das contas externas

Coluna Econômica – 18/02/2009

A balança comercial continua uma incógnita este ano. Manter um bom superávit é essencial para equilibrar as contas externas, já que o Brasil é deficitário nas demais contas que compõem o balanço de pagamentos.
No momento, há dois problemas maiores emperrando o aumento do saldo. O primeiro, a queda nos preços das principais commodities e o refluxo do comércio mundial. O segundo, as dificuldades para se obter financiamento.

Esse quadro fez com que janeiro registrasse o primeiro déficit comercial em muitos anos. Em fevereiro a situação melhorou um pouco. A explicação do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), para uma aposta na volta dos superávits não é de todo convincente.

Constata ele que nos dez primeiros dias úteis de fevereiro o saldo comercial foi positivo em US$ 690,6 milhões ou US$ 69,6 milhões por dia útil. Em janeiro o déficit total foi de US$ 518 milhões.

A leitura do IEDI é que a crise afeta mais rapidamente as exportações brasileiras (muito baseadas em commodities, cujas cotações tendem a cair mais rapidamente) e menos as importações, compostas, em sua maioria, de produtos manufaturados. Segundo o IEDI, os preços desses produtos demoram mais a cair, porque baseados em contratos de prazo mais longo. Assim, só no vencimento do contrato, os preços poderão cair.

É possível que haja contratos de fornecimento para bens e equipamentos, assim como para fornecimento de peças. Mas não consta que bens de consumo durável sejam objeto de contratos de fornecimento. Mais provável é que a crise mundial tenha provocado uma desova de estoques nos grandes exportadores, que passaram a inundar as demais economias com preços abaixo do custo.

***

Mesmo que haja alguma recuperação do saldo comercial, muitas consultorias sólidas estão apostando em um saldo inferior a US$ 10 bilhões – contra US$ 14 bilhões de saldo da pesquisa Focus, do Banco Central.

A projeção da consultoria LCA é de um saldo de US$ 8,3 bilhões para este ano. “É uma estimativa mais pessimista que a do mercado, por conta de demanda menor e preços em queda, não só do petróleo, mas de outros produtos industriais”, disse o economista Francisco de Faria a André Inohara.

O saldo da balança comercial deve cair para US$ 9,5 bilhões em 2009, estima, por sua vez, a economista da Rosemberg Consultores, Fernanda Feil. “A soja sofreu com a queda do preço e agora tem se recuperado, mas mesmo assim deve ficar em patamar mais baixo que o do ano passado”, exemplifica. É importante notar que, desde dezembro, praticamente todas as commodities brasileiras vêm registrando melhora nas cotações.

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O segundo ponto a emperrar as exportações é a escassez de linhas de financiamento, como os ACC (adiantamento de contratos de câmbio). As linhas externas, oferecidas por bancos internacionais, praticamente secaram, em função da falta de liquidez dessas instituições. “Apesar da atuação do BC para prover crédito aos exportadores, é obvio que ele não consegue fazer o papel do mercado privado”, disse Fernanda Feil, da Rosemberg, sobre as medidas adotadas pelo governo para injetar liquidez no sistema.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Creio que em 2009 pode
    Creio que em 2009 pode ocorrer uma forte queda do Superávit Comercial em função da atual condição de competição das empresas instaladas no Brasil tanto para exportar como para importar, que fará prevalecer as condições de mercado, de preço e demanda.

    Este é um dos principais motivos para ter preservado as Reservas Cambiais. Agora podemos usar as Reservas Cambiais para financiar a Balança de pagamentos caso ocorra uma grande queda do Superávit Comercial.
    E durante este período melhorar as condições de competitividade das empresas instaladas no Brasil, onde a queda dos juros da Selic será fundamental, precisamos reduzir os juros para no mínimo equiparar as condições de concorrências com os principais concorrentes das empresas instaladas no Brasil.

    A captação do Tesouro e da Petrobras ajudarão também a financiar o Balanço de pagamentos, e ainda há a perspectiva da Petrobrás conseguir uma linha de financiamento externo junto com o banco de investimento da China, reforçando as condições para passar este período.

    Sem dúvida foi um dos principais erros da atual Política Monetária que desprezou os enormes riscos de queda da liquidez internacional, mas agora o importante é trabalhar para reverter a atual tendência de queda do Superávit Comercial,

    Mas de qualquer maneira será uma grande oprtunidade para vender parte das reservas cambiais, para dimininuir a dívida pública bruta, garantindo uma estabilidade cambial mesmo com uma forte queda dos juros da selic.

  • Nassif, em matéria
    Nassif, em matéria recentemente publicada no Valor Econômico (não me lembro o dia exato) afirmou-se que o resultado de janeiro da balança comercial foi muito influenciado pela baixa nas exportações de petróleo e derivados. Parece que a Petrobras inflou as receitas de exportação em dezembro, prejudicando o mês de janeiro. Mas a tendência é que os números se reequilibrem em fevereiro.
    Portanto, é preciso cautela na análise dos números de janeiro.

  • Creio que é mais um tema que
    Creio que é mais um tema que reforça a importância do BLOG LUIZ NASSIF ONLINE no debate econômico.

    O atual cenário foi largamente discutido em 2008, assim como a necessidade de preservar as Reservas Cambiais, o risco de permitir o aumento do déficit em conta corrente, o passivo externo, a grande possibilidade de redução da dívida em relação ao PIB, a necessidade urgente de uma correção cambial, a disputa predatória no comércio exterior, a grande depedência da economia chinesa das exportações para os EUA, Europa e Japão, a queda dos preços das commodities.

    Sem a correção a atual situação seria insustentável, e nem a polítca monetária maluca dos juros altos seria capaz de evitar uma grande e rápida correção do dólar no Brasil.

  • Roberto, gosto muito de suas
    Roberto, gosto muito de suas observações...

    Porém, em todas elas vc cita a queda selic como primordial.

    Vc acredita nessa queda substancial da selic?

    Caso contrário muitas dessas suas observações seriam prejudicadas.

    Tem economista falando na queda de 1,5 ponto na próxima reunião.

    O que vc acha?

    abs

  • "...equilibrar as contas
    "...equilibrar as contas externas, já que o Brasil é deficitário nas demais contas que compõem o balanço de pagamentos..." ? Tá louco? Já deu uma olhada na conta de capitais? A conta corrente é que está com problema...agora no geral, ou seja, o BP tá em ordem...

  • Parece-me, Nassif, que se a
    Parece-me, Nassif, que se a questão é avaliar o saldo comercial, seria pertinente considerar o comportamento das importações, não? Sua queda foi surpreendentemente rápida em fev. Como o câmbio não deve se mover muito doravante, o nível de atividade externo vai ser determinante a curto prazo. Mais para o final do ano, a se manterem a expectativas correntes de USD1=R$2 para 2010 e sob certas hipóteses plausíveis de comportamento do câmbio de concorrentes diretos, certamente teremos algum movimento de substiuição de importações em bens de consumo menos sofisticados e em algumas faixas das cadeias de bk e bcd. Com algum otimismo, pode-se pensar tb em reação das export em alguns mercados externos em que o Brasil vinha perdendo participação.

  • Com a seca no RS e a quebra
    Com a seca no RS e a quebra da safra da soja e milho aqui, os preços de ambos já estão subindo, por isso nossa balança deve continuar melhorando.

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