Categories: EconomiaPolítica

Dilma reclama de manipulação de sua fala sobre inflação

Da BBC Brasil

Dilma diz que fala foi manipulada e combate à inflação é valor do governo

Ruth Costas

Presidente disse que já deixou claro que o combate à inflação é um ‘valor’ de seu governo

A presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira que o combate à inflação é um valor em seu governo e que seus comentários sobre o assunto em Durban, na África do Sul, foram interpretados de maneira equivocada.

“Eu sou uma pessoa que já escreveu, e vocês já publicaram, que o combate à inflação é um valor em si. A notícia foi manipulada”, disse a presidente em declaração a jornalistas na cidade sul-africana.

A posição da presidente foi reforçada em nota divulgada pelo Blog do Planalto (blog.planalto.gov.br): “Foi uma manipulação inadmissível de minha fala. O combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do meu governo”, afirmou.

A declaração inicial, publicada pela BBC Brasil e por diversos veículos de imprensa, entre eles a Agência Brasil, era de que a presidente não apoia políticas de controle inflacionário que sacrifiquem o crescimento.

“Eu não concordo com políticas de combate à inflação que ‘olhem’ a questão do crescimento econômico, até porque temos uma contraprova dada pela realidade: tivemos um baixo crescimento no ano passado e um aumento da inflação, porque houve um choque de oferta devido à crise e fatores externos”, havia dito a presidente em entrevista a jornalistas que cobrem a cúpula dos Brics, na África do Sul.

Segundo o Planalto, Dilma fez as novas declarações depois de tomar conhecimento de que agentes do mercado financeiro estavam interpretando erroneamente seus comentários como expressão de leniência em relação à inflação.

Após as declarações de Dilma, as taxas de juros futuros negociadas na BM&FBovespa fecharam em queda.

A presidente também solicitou ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que desse esclarecimentos sobre o assunto.

Encruzilhada

As declarações da presidente foram feitas um dia antes da divulgação de um relatório trimestral do Banco Central que fala sobre as perspectivas para a inflação no ano.

O governo Dilma está vivendo hoje uma encruzilhada financeira. Por um lado, precisa adotar medidas para retomar o crescimento do país, que no ano passado foi de apenas 0,9%. Do outro, tem de manter a inflação sobre controle.

Para alguns economistas, a adoção de políticas fiscais e monetárias expansionistas por parte do governo, especialmente após a crise financeira de 2008, ajudaram a turbinar a inflação.

Entre as medidas, estão, por exemplo, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e da taxa básica de juros, a Selic, como forma de estimular o consumo e impulsionar a retomada do crescimento.

Dilma, porém, rebateu a crítica de que um menor crescimento amortizaria a escalada inflacionária.

“Esse receituário que quer matar o doente antes de curar a doença é complicado. Eu vou acabar com o crescimento do país? Isso daí está datado. É uma política superada.”

Atualmente, a expectativa das instituições financeiras é que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique por volta de 5,71% este ano, longe do centro da meta inflacionária estabelecida pelo BC, de 4,5%.

Pressão

Dilma falou sobre a política inflacionária do país em um momento em que o governo é pressionado pelos mercados para adotar políticas mais firmes em relação à inflação – possivelmente com uma alta dos juros.

Na última segunda-feira, a projeção para a Selic do fim do ano subiu pela terceira semana seguida, de 8,25% para 8,5%.

Atualmente, a taxa básica de juros está a 7,25% ao ano.

Por outro lado, Dilma garantiu que o governo está “atento” e que acompanha a inflação com cuidado, mas disse não acreditar que a alta de preços esteja descontrolada.

“Não achamos que a inflação está fora do controle. Pelo contrário, achamos que ela está controlada e o que há são alterações e flutuações conjunturais”, defendeu a presidente.

“Não achamos que a inflação está fora do controle. Pelo contrário, achamos que ela está controlada e o que há são alterações e flutuações conjunturais.”

Dilma Rousseff

Para ela, tais “flutuações” hoje estariam ligadas ao aumento dos preços das commodities. “Não tem nada que nós possamos fazer internamente, a não ser expandir a nossa produção, para conter o aumento dos preços das commodities derivado da quebra de safra nos Estados Unidos.”

Economistas, no entanto, discordam dessa visão e apontam que a existência de gargalos estruturais na economia brasileira acaba favorecendo a subida dos preços.

Segundo Dilma, o governo está tomando uma série de medidas para conter a alta de preços no médio e longo prazo. Uma delas seria o aumento do investimento em educação e qualificação profissional dos trabalhadores.

“O que vai baixar o custo do trabalho vai ser, primeiro, o aumento da produtividade através da ampliação da capacitação, e nós estamos fazendo junto com o setor privado um grande programa de formação profissional”, disse Dilma.

Como uma segunda medida anti-inflação, a presidente mencionou a desoneração da folha de pagamentos, que também diminuiria a pressão sobre os custos de trabalho.

“A desoneração começou com poucos setores. Agora, todos querem aderir – ou a grande maioria dos setores”, disse Dilma. “Temos 42 (setores desonerados), vamos para 44 e já previmos desoneração para 2015.”

Luis Nassif

Luis Nassif

Recent Posts

Sobe para 56 número de vítimas fatais por temporais no Rio Grande do Sul

De acordo com último boletim da Defesa Civil do estado ainda há 67 desaparecidos. Previsão…

8 minutos ago

Governo federal organiza força-tarefa para trabalho no RS

Escritório de monitoramento em Porto Alegre vai concentrar dados sobre ações a serem tomadas por…

13 horas ago

Justiça anula votação e interrompe venda da Sabesp

Decisão afirma que Câmara dos Vereadores de São Paulo aprovou texto sem realizar audiência pública…

15 horas ago

União e Espírito Santo rejeitam proposta da Vale/Samarco

Oferta de compensação apresentada pelas mineradoras “não representa avanço em relação à proposta anterior (...)”

16 horas ago

Concurso Nacional Unificado é adiado por estado de calamidade do RS

"O nosso objetivo, desde o início, é garantir o acesso de todos os candidatos", disse…

17 horas ago

Ministro Alexandre de Moraes determina soltura de Mauro Cid

Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro assinou acordo de colaboração premiada; militar estava preso desde…

17 horas ago