Forbes: donos de cervejarias se aproximam dos banqueiros no Brasil

Da Rede Brasil Atual

Fortuna de donos de cervejarias é quase igual à de banqueiros no Brasil, aponta Forbes

Segundo a lista de bilionários da revista Forbes, apenas 50 milhões de dólares separam as fortunas de 13 banqueiros tupiniquins da de quatro brasileiros donos de empresas de bebidas. Não que os banqueiros estejam mal das pernas. A fortuna pessoal somada chega a US$ 42,65 bilhões, contra US$ 42,6 bi dos cervejeiros e fabricantes de refrigerantes. Mas incita a pergunta: estariam os black blocs chutando a vidraça errada? Seria mais produtivo para combater o capitalismo parar de tomar cerveja?

Sem dúvida, o consumo excessivo da bebida fermentada é danoso. Segundo o Ministério da Saúde, 21% dos atendimentos de acidentes de trânsito do Sistema Único de Saúde são de pessoas que beberam antes de dirigir. Mas só uma parte dos US$ 19,7 bilhões de Jorge Paulo Lemann é obtida com a venda da bebida pela Ambev. Ele tem participação em vários outros negócios, mas é classificado pela revista pela participação na indústria de bebidas, especialmente o de cervejas.

Além dele representanto o setor, aparecem Marcel Hermann Telles, Carlos Alberto Sicupira e Walter Faria. Entre os banqueiros, estão Joseph Safra, do Banco Safra; Aloysio de Andrade Faria, ex-proprietário do Banco Real; Andre Esteves, do BGT Pactual e Fernando Roberto Moreira Salles, João Moreira Salles, Walther Moreira Salles Jr e Pedro Moreira Salles, herdeiros do fundador do Unibando, Walther Moreira Salles.

Para João Roberto Lopes Pinto, coordenador do Mais Democracia e responsável pelo ranking Donos do Brasil, que mapeia a estrutura de poder econômico no país, os bancos ainda são mais simbólicos do ponto de vista de quem dá as cartas, mas é preciso ir além da ideia da agência bancária. O jogo se dá em outra esfera, cheia de ramificações com o poder e o setor especulativo.

“O que a gente tem que entender é que, na verdade, o sistema produtivo está conectado ao financeiro. Entendido não só como banco, mas fundos de investimento e holdings que atuam na parte financeira. E esses donos do Brasil e do mundo têm sua riqueza associada a essa estrutura financeira”, afirma.

Para ele, não há estranhamento, portanto, no fato de Lemann ser o mais rico do Brasil, já que parte de seu sucesso e de sua empresa está relacionado com a abertura de capital e a internacionalização da Ambev, que se tornou InBev, a maior cervejaria do mundo. “Mesmo que ele não seja banqueiro, ele está por trás de uma financeira. O controle dele se dá através de uma holding, um CNPJ financeiro.”

“A questão elementar hoje é entender essa estrutura, que é muito complexa. Ainda se fala de empresa de maneira muito individualizada, ainda se fala de banco como se banco fosse uma agência ali na esquina, quando na verdade esse sistema está muito integrado por conta do mercado de ações, onde essas coisas se cruzam através do controle das empresas produtivas de maneira muito concentrada”, afirma.

Pinto relativiza a lista da Forbes, que só leva em consideração a renda declarada e omite fatores que não aparecem em forma de dinheiro: poder e patrimônio. “O próprio sistema de controle é uma forma de você dividir a renda. Todo esse sistema de controle que eles criam: uma empresa que controla a outra que controla a outra é para fugir do imposto de renda. Para diluir a incidência do imposto de renda”, avalia.

Um desses casos seria o de Rubens Ometto Silveira Mello, controlador da Cosan, empresa que nasceu no setor sucroenergético, e que aparece com fortuna avaliada em U$$ 1,9 bilhão, ocupando a 931º posição da lista geral e a 31º entre os brasileiros. “Ele controla uma holding que controla toda a Cosan. Esse cara é muito poderoso porque ele controla capital mesmo. Empresas que têm patrimônio que não redundam necessariamente na quantidade de dinheiro que ele declara possuir”, argumenta. “É um mundo pouco debatido na sociedade e que tem muita capacidade de influência. A gente fica debatendo o cara mais rico, menos rico. Mas o fato é que isso representa uma concentração econômica absurda e que obviamente tem consequências políticas.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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