Categories: Economia

Governo estuda reduzir a tributação sobre renda fixa

Do Valor

Aplicação prefixada pode ter IR reduzido de 22,5% para 15%

Por Leandra Peres

Proposta do governo para mudar a tributação dos investimentos em renda fixa prevê incentivos fiscais para aplicações em produtos prefixados e aumento da taxação daqueles atrelados ao DI. No caso dos prefixados, o Imposto de Renda, que hoje chega a 22,5% para resgates em até seis meses, cairia para 15% independentemente do tempo em que o dinheiro ficou aplicado. Hoje o que determina o benefício fiscal é o prazo pelo qual o investidor deixa o dinheiro aplicado, e a alíquota mais baixa só vale para operações que superam dois anos. A ideia é atrelar o benefício ao prazo de correção dos papéis, tanto para fundos como para outros produtos, como títulos do Tesouro.

O projeto da área técnica do governo, em sua versão mais conservadora, prevê que produtos prefixados com prazo de correção das carteiras superior a dois anos paguem IR de 15%. Mas outra versão da proposta, mais arrojada, prevê IR de 15% para investimentos com prazo de correção superior a um ano.

A proposta de alteração na tributação da renda fixa, em estudo pelo governo, reduz de 22,5% para 15% o Imposto de Renda nos fundos e nos títulos prefixados cujos prazos de correção (e não prazo de vencimento) sejam superiores a um ano.

A área técnica da equipe econômica também apresentou uma sugestão mais conservadora. Nesse caso, o benefício fiscal só seria dado para os fundos e ativos com prazo superior a dois anos.

A medida faz parte dos esforços oficiais para estimular um aumento no prazo dos investimentos e reduzir a vinculação a taxas de juros de curtíssimo prazo. Também beneficia diretamente o Tesouro Nacional, aumentando a demanda por títulos prefixados de maior prazo.

No caso dos fundos, a exigência de prazos mais longos será feita apenas para os gestores. Os investidores finais não terão nenhum tipo de carência. Se o investidor aplicar num fundo prefixado e resgatar sua quota em três meses ou dois anos, pagará sempre um IR de 15%.

No entanto, terá que lidar com uma volatilidade muito maior nas quotas do que num fundo DI. No momento do resgate, o valor da aplicação será influenciado pela curva de juros dos papéis – projeção da taxa ao longo do tempo.

Na avaliação do governo, o perfil do investidor em fundos prefixados já é naturalmente de mais longo prazo e o incentivo tributário não tende a funcionar como um gatilho para resgates antecipados.

Se por um lado, o governo fala em investimentos de prazo mais longo, por outro tributará com mais peso os fundos DI e aqueles indexados à Selic, conforme o Valor já havia informado.

Pela regra atual, esses investimentos têm tributação decrescente de acordo com o prazo de aplicação. Se inferior a seis meses, o IR é de 22,5%, sendo progressivamente reduzido a até 15% após 24 meses. O projeto em estudo na área econômica acaba com esse benefício. Esses fundos seriam sempre tributados à alíquota máxima, independente do prazo de aplicação.

Não haverá limitação à oferta desses produtos. O que o governo pretende é diminuir gradativamente sua participação total na indústria e transformá-los numa opção menos atrativa.

A alteração na tributação do mercado de renda fixa é parte do esforço que o governo vem fazendo para adequar a indústria de fundos a um ambiente macroeconômico mais previsível e de taxas de juros mais baixas. Viciado na época da hiperinflação à correção diária das aplicações, o mercado financeiro hoje já opera com produtos de prazo mais longo.

Mas o governo considera que os fundos DI ainda têm um peso muito grande nessa indústria e que é preciso incentivar a migração para prazos mais longos. Hoje, o patrimônio total dos fundos é de R$ 2 trilhões e 15% desse valor estão em aplicações de curto prazo ou indexados à Selic.

“O objetivo é incentivar aplicações de prazo mais longo e desindexá-las do DI”, explicou uma fonte da área econômica.

O novo modelo também beneficiará diretamente o Tesouro Nacional, criando demanda mais forte por títulos públicos. O governo acredita que o perfil do investidor que ficará nos fundos com IR mais baixo aceitará prazos mais longos e já estará acostumado ao risco de uma aplicação prefixada, assim como à maior volatilidade das quotas.

No final de 2012, a equipe econômica fez um movimento semelhante na regulação dos fundos de previdência complementar. Eles terão que aumentar o prazo médio de vencimento dos juros de suas carteiras para cinco anos.

Um dos pontos mais polêmicos da discussão e onde ainda não há consenso no caso da renda fixa é como tratar as operações de derivativos.

Hoje, boa parte dos fundos compra papéis prefixados e na outra ponta tem um derivativo que, na prática, transforma o título num papel atrelado à Selic. Os gestores de fundos querem que essas operações entrem no cálculo do prazo de correção da carteira que definirá o benefício fiscal. Na prática, o que ocorre é que os derivativos reduzem o prazo médio de vencimento das carteiras. O governo resiste, mas reconhece que será preciso encontrar uma fórmula que dê flexibilidade aos gestores. A regra usada para os fundos de previdência complementar permitiu a inclusão dos derivativos, que possibilitou uma queda no prazo médio das carteiras de cinco para três anos.

Luis Nassif

Luis Nassif

Recent Posts

Mais de 70 trabalhadores são encontrados em condição análoga à escravidão em um dos garimpos mais lucrativos da América Latina

Operação federal cita “servidão por dívida”, em que os garimpeiros realizavam atividade sem qualquer proteção

1 hora ago

Mauro Cid pode ter negociado perdão judicial em troca da delação premiada, diz jornalista

Acordo poderia ajudar o tenente-coronel a pelo menos manter o cargo e não perder totalmente…

3 horas ago

Desoneração traz risco de nova reforma da Previdência, diz Haddad

Apesar da advertência, o ministro se disse confiante em um acordo para resolver o impasse…

3 horas ago

Brasil soma mais de 4 milhões de casos de dengue em 2024

Nove estados e o Distrito Federal já decretaram emergência em decorrência da dengue. Minas Gerais…

3 horas ago

Parece que uma anistia está sendo urdida, por Fernando Castilho

Muita gente já esqueceu as centenas de milhares de mortes pela Covid-19, a tentativa de…

3 horas ago

A Lei de Alienação Parental no Brasil, por Salvio Kotter

Entre a Tutela da Justiça e a Proteção da Infância, nem manter nem revogar, reformar…

4 horas ago