Do Valor
“A gente acaba” se BNDES não financiar grandes empresas, diz Conceição Tavares
Vera Saavedra Durão | Do Rio
14/09/2010
A economista Maria da Conceição Tavares defendeu ontem o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) das críticas que vem recebendo por subsidiar empréstimos a grandes grupos com dinheiro do Tesouro. Segundo ela, o banco age assim para que as empresas se tornem competitivas na etapa atual de internacionalização do capital. “Senão, a gente acaba”, disse a economista, homenageada pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento pela passagem do seu 80º aniversário. Conceição Tavares começou sua vida profissional no BNDES, com a elaboração do Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek.
Luciano Coutinho, presidente da instituição, reforçou a defesa do banco e considerou a homenagem à economista um momento especial e oportuno, já que na ocasião também estava sendo lançado um livro sobre a história do BNDES, coordenado por Conceição e intitulado “Os anos dourados do desenvolvimento – 1952 a 1980”.
Isto”Isto é muito oportuno, pois veio num momento em que os bancos de desenvolvimento parecem cada vez mais obviamente fundamentais”, afirmou Coutinho. Segundo ele, apesar de o governo estar empenhado em desenvolver um sistema de financiamento de longo prazo em bases privadas – “certamente não é conveniente que todo o investimento novo no Brasil repouse quase exclusivamente sobre o banco público”, disse – é relevante sublinhar a importância do banco público. “Como ensinou a professora Conceição Tavares o sistema de crédito é fortemente pró-cíclico. A história do capitalismo mostra que o ciclo de crédito se expande na euforia e depois se retrai na crise por longos períodos. Então, a economia que dispõe de capacidade pública de operar sistemas bancários e de crédito é uma economia que tem uma superioridade estrutural”, afirmou.
A seu ver, uma das dificuldades para a recuperação da economia americana é que, embora a infraestrutura do país esteja “em pandarecos”, seriamente avariada, precisando de grandes investimentos, “nem o governo americano nem os Estados dispõem de mecanismos de financiamento de longo prazo para recuperá-la, ainda que fosse via concessão ao setor privado”.
Para ele, a ausência de bancos públicos, bancos de desenvolvimento que pudessem fazer isso, dificulta a recuperação e faz com que tudo no governo americano dependa de gastos orçamentários.
Coutinho informou que o novo governo inglês, apesar de “altamente conservador”, estuda a criação de um banco de desenvolvimento. “E nos Estados Unidos há hoje uma grande divisão dentro do governo Obama, pois uma parte está propondo a criação do Infrastructure Bank. É importante essa lição”, disse.
Conceição Tavares se mostrou cética quanto à capacidade de o setor privado emprestar no longo prazo para garantir projetos de investimento. Para ela, o destino do BNDES é continuar a contribuir para o desenvolvimento do Brasil como fez nos governos Vargas, Geisel, e agora, no governo Lula. “Estamos no meio de uma crise internacional gigantesca, por mais que a gente queira fazer com que o mercado de capitais seja um instrumento auxiliar do desenvolvimento. Se isso fosse possível, a Inglaterra conservadora não estaria fazendo um banco de desenvolvimento. Estão fazendo porque não há outro remédio, porque a City de Londres obviamente não vai colaborar para a recuperação da Inglaterra. Ao contrário, ela colaborou com o afundamento da Inglaterra”, disse a economista durante sua palestra.
No caso brasileiro, a economista admite, porém, que se houver uma estabilização do desenvolvimento econômico de maneira sustentada, é possível que, a reboque desse mesmo desenvolvimento, seja possível desenvolver realmente um mercado de capitais mais interessante.
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