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O descolamento dos emergentes

HOJE NO TERRA MAGAZINE:

Do Terra Magazine

E aí, descolou ou não?

Rui Daher
De São Paulo


dez.2009/The New York Times 

Tão logo, no final de 2007, os sintomas da crise econômica internacional ficaram mais evidentes, ocorreram incontáveis embates impressos e televisivos entre quem achava que o planeta iria pro beleléu e os que viam nos países emergentes uma possibilidade de salvação.

Naquele momento, até mesmo Mrs. Judith Lynch, 84, produtora da premiadablueberry jelly, de Reedsport, Oregon, tremeu. Afinal, lembrara não poder mais contar com o ator John Wayne (1907 – 1979) para protegê-la.

Bem que filhos e sobrinhos tentavam acalmá-la fazendo menção ao decoupling(descolamento). As economias emergentes seriam pouco afetadas e logo tudo voltaria ao normal. Isto apenas enquanto a sós com Judith. Bastava se reunirem em torno do barbecue e murmúrio geral: “tsk, tsk, tem jeito não, sem a força dos EUA o mundo não anda”.

Três anos se passaram, assistimos a vários trailers do épico roliudiano que um dia mostrará as grandes transformações para o século XXI, e os sinais de reconhecimento começam a aparecer: descolou, sim!

Segundo a OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, pelo menos até 2012, os emergentes responderão por 80% da expansão da economia mundial. Além dos BRIC (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China), estão aí incluídos África do Sul e Indonésia.

Vejam o crescimento da economia como previsto pelas OCDE e agência internacional FITCH Ratings: 

Note-se que assim como a ONU sempre se entendeu monitorando a vida de todos os países do planeta, pobres ou ricos, a OCDE sempre foi uma espécie de clube de elite, onde apenas estavam representadas as economias mais avançadas. Hoje, com a admissão de alguns países mais ou menos e do mexicano Angel Gurría, como Secretário Geral, a entidade procura afastar esse estigma.

Suas palavras: “Não podemos nos basear em paradigmas de crescimento que prevaleceram antes da crise. Para relançar a economia, precisamos de novas fontes de crescimento, a partir de padrões verdes de consumo e produção”.

Tudo a ver com o Brasil. Neste novo século os centros hegemônicos estarão mais dispersos e neles estaremos incluídos. Não se está falando apenas de taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas de fatores potenciais que reordenarão o poder não-militar do mundo.

Se não formos tontos.

A ignorância com o fato de a biodiversidade ser um dos principais vetores a garantir o futuro dos brasileiros, por exemplo, é uma imensa ameaça.

Desproteger o meio ambiente com uma legislação acochambrada em interesses particulares é crime como o é autorizar a construção em encostas de há muito condenadas.

É burrice ou má intenção não se dobrar diante das evidências de que o crescimento potencial da produção agropecuária independe de se comprometer os biomas nacionais.

É imoral não reconhecer legitimidade e expressão na agricultura familiar, nos programas que a atendem, e nos movimentos sociais que procuram harmonizar a relação capital-trabalho no meio rural.

Existe abundância de terras para aumentar a área plantada. Há culturas com índices de produtividade ainda insatisfatórios. Há pesquisas e produtos de baixo custo capazes de baratear os preços dos alimentos e aumentar a competitividade das exportações.

Podemos plantar alimentos, bioenergia, pastorear criações, fazer aumentar o saldo da balança comercial, em volumes expressivos, sem deteriorar um metro de mata ciliar.

Estes os fundamentos que até a OCDE reconhece. 

Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola. 

Luis Nassif

Luis Nassif

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