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O estímulo à economia chinesa

Da Carta Capital

Economia da China: Estímulo insuficiente

A relutância do governo chinês em revelar um grande programa de estímulo econômico na linha do que se viu em 2009-10 gera uma considerável incerteza sobre a previsão econômica. Projetos de infraestrutura já programados estão sendo antecipados e alguns grandes investimentos foram aprovados. Também foram anunciados alguns subsídios ao consumidor. No entanto, a impressão geral é de que as taxas de juros mais baixas e os empréstimos bancários mais fáceis serão o principal instrumento para enfrentar a desaceleração econômica. O investimento em infraestrutura e o desenvolvimento de moradias de baixo custo deverão ajudar as cidades do interior, mas a falta de um verdadeiro programa de estímulo dá pouco enfoque regional aos projetos do governo.

Em comparação com 2009, quando ele revelou um pacote de gastos de 4 trilhões de renminbi (586 bilhões de dólares) para tirar a economia do buraco, o governo reluta em dar o valor dos atuais esforços para incentivar o crescimento. A esperança de que se divulgasse um pacote de 1 a 2 trilhões de renminbi não se realizou, possivelmente porque a liderança central desenvolveu reservas sobre dar um sinal verde para jurisdições locais difíceis de controlar, que poderiam interpretar qualquer estímulo como uma autorização para uma nova rodada de investimentos em imóveis.

No entanto, parece haver tentativas de antecipar projetos de investimentos ou acelerar o processo de aprovação dos mesmos. A grande maioria dos projetos anunciados parece estar entre os listados no 12º plano quinquenal (2011-15) que poderão ser antecipados. Outros grandes projetos aprovados incluem novas siderúrgicas em Zhanjiang, na província de Guangdong, e Fangchenggang, na província de Guangxi, e outra fase na relocação de aciarias de Pequim para Qian’an na província de Hebei. Obras preparatórias para uma usina térmica em Ankang, na província de Shaanxi, começaram. Espera-se que diversos projetos de energia solar, eólica e hídrica também sejam antecipados.

Mais infraestrutura

Os projetos de infraestrutura também estão sendo usados como uma forma de reforçar a indústria da construção sem causar problemas no mercado de imóveis residenciais. O governo planeja construir 70 novos aeroportos e expandir outros cem até 2015, apesar de muitos aeroportos existentes serem deficitários. As autoridades chinesas recentemente autorizaram quatro projetos de construção ou ampliação de aeroportos, incluindo a expansão do de Hongqiao, em Xangai, a construção de um novo em Yushu, na província ocidental de Qinghai, a terceira ampliação do aeroporto de Urumqi em Xinjiang e uma expansão da área de voo no aeroporto de Nanning em Guangxi. Vários outros projetos de aeroportos estão sendo analisados, incluindo a ampliação de aeroporto de Zhengzhou em Henan e do aeroporto de Pudong em Xangai. A construção de um novo aeroporto internacional, possivelmente com oito pistas civis, também começará em Pequim no final do ano.

Vários projetos de metrô estão em andamento, incluindo obras no metrô de Lanzhou na China ocidental e ampliações do metrô em cidades como Nanjing, Chengdu e Xi’an. Um investimento anual em ferrovias de aproximadamente 400 a 500 bilhões de renminbi é esperado para os próximos quatro anos, embora isto represente uma redução do ritmo rápido de expansão ferroviária em 2009-11 (e portanto uma redução do crescimento em termos anuais). Esses tipos de projetos poderão incentivar as indústrias estatais de cimento e aço, assim como a indústria de construção como um todo.

 Casas acessíveis e consumo doméstico

A bolha imobiliária em algumas partes da China torna desaconselhável um novo estímulo ao mercado habitacional, mas um recente aumento nas vendas em algumas regiões indica a probabilidade de que algumas localidades tenham interpretado as tentativas do governo de reforçar a economia através de políticas monetárias como uma autorização tácita para abrandar as restrições à construção. O governo central está subsidiando a construção de casas de baixo custo: 5 milhões delas deverão estar concluídas este ano, e 36 milhões estão planejadas até o fim de 2015.

O consumo das famílias também terá o apoio de subsídios governamentais para a troca de carros antigos por modelos mais novos. A compra de carros de baixo consumo de combustível é coberta por um esquema de subsídios de 6 bilhões de renminbi, e 26,5 bilhões de renminbi em subsídios para a compra de eletrodomésticos de consumo eficiente também foram anunciados. Estes substituem programas anteriores de subsídios que terminaram no final de 2011.

 O impacto provável

Novos programas poderão ser implementados se a economia continuar com desempenho insuficiente. No entanto, com base no que foi anunciado até agora, parece haver pouco apetite por muita coisa além de uma aceleração de projetos já anunciados e empreendimentos menores como reformas nas estradas ou iniciativas de energia limpa. O crédito para as companhias estatais provavelmente será o principal mecanismo de transmissão, apesar das declarações do governo de que facilitará o crédito para pequenas empresas privadas.

O foco na infraestrutura e na habitação de baixo custo deverá ser positivo para o interior do país. Estradas, ferrovias e aeroportos melhores abrirão essas regiões para maiores investimentos, e a urbanização em curso no centro e oeste da China também será reforçada pela maior disponibilidade de moradias. Além disso, o impacto das medidas recentes será localizado, dependendo da aprovação de projetos limitados como os de Zhanjiang e Fangchenggang. Mesmo estes poderão ter pequeno impacto na economia local. A mídia local relatou que as obras na instalação de Zhanjiang desaceleraram até parar desde a cerimônia de fundação, pois a siderúrgica estatal que lidera o projeto, a Baosteel, reluta em aumentar a capacidade do setor neste momento, quando a demanda por aço é muito menor.

Esforços mais amplos para reforçar a economia dependerão da facilitação monetária. No entanto, a expansão do crédito mais lenta que a esperada no sistema bancário estatal em junho projetou dúvidas sobre a rapidez com que o investimento maior por empresas estatais entrará em jogo. Problemas maiores no setor bancário, exacerbados pelo último surto de empréstimos, ainda estão claros na mente das autoridades econômicas. Há uma probabilidade considerável de novos problemas no setor bancário nos próximos anos, o que explica a natureza insuficiente dos atuais “estímulos”, enquanto a China continua esperando uma recuperação da economia global.

Luis Nassif

Luis Nassif

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