Coluna Econômica – 01/05/2007
Morto no domingo, Otávio Frias de Oliveira, o seu Frias, foi o mais importante jornalista brasileiro das últimas duas décadas. Era fundamentalmente empresário; era fundamentalmente empresário-jornalista. E foi com a mentalidade empresarial, e com um pragmatismo absoluto que forneceu as bases para o moderno jornalismo de opinião no Brasil.
Critica-se nele o fato de ter cedido ao regime militar nos anos 60, e também nos anos 70, quando trocou o diretor de redação Cláudio Abramo pelo jornalista Boris Casoy, depois de uma crônica de Lourenço Diaféria que desagradou os militares. A alternativa teria sido enfrentar os militares e ver seu jornal desaparecer.
Para chegar aonde chegou enfrentou todo tipo de dificuldades, fez vários tipos de acordos, superou um sem-número de crises, da qual a mais grave foi a quebra do Banco Nacional de Investimentos (BNI), do banqueiro Orozimbo Roxo Loureiro, do qual seu Frias tinha 10%.
Essa experiência de vida tornou-o extremamente intransigente nos negócios. A empresa sempre esteve acima de tudo. Mas também desenvolveu um lado generoso, de admiração pelos poderosos caídos, de resistência a qualquer tipo de lisonja.
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Sua experiência com a “Folha”, que adquiriu nos anos 60, é um dos exemplos mais bem sucedidos de estratégia empresarial continuada. Pouco a pouco foi acertando a condição financeira do jornal, inovando nos maquinários e na distribuição. No plano editorial, Cláudio Abramo daria a marca do jornal para as décadas seguintes, definindo um público leitor de centro-esquerda e um estilo de diagramação muito mais light.
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Nos anos 80, com o jornal já saneado, sólido financeiramente, seu Frias finalmente foi a mercado e passou a contratar jornalistas de outros órgãos. No meio desse processo, teve a extraordinária percepção para a nova opinião pública que surgia e o que significava o movimento das “diretas já”. Nos anos seguintes, descobriu a reação da opinião pública contra o corporativismo que dominava a infante democracia brasileira, e lançou o slogan “de rabo preso com o leitor”, outra sacada de gênio.
Finalmente, constatou a importância decisiva de ressaltar os chamados valores intrínsecos do jornalismo – isenção, pluralismo, independência. Em nenhum momento transigiu com isso. Durante quinze anos a “Folha” foi a maior formadora de opinião do país.
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Fez por convicção? Não, por estratégia empresarial. E aí reside sua contribuição ao jornalismo brasileiro. Sabia que um jornal, para ser grande, precisava conquistar o espectro mais amplo possível de leitores, ser plural, evitar ser o condutor dos povos, e ter independência em relação a todos os governos.
Em todo o período em que trabalhei na “Folha”, apenas uma vez seu Frias insinuou, de modo absolutamente suave, sua contrariedade em relação a um tema: uma entrevista com Fernando Collor, anos depois da sua queda.
Disse apenas o seguinte: “Você tem toda a liberdade para publicar a entrevista. Mas se o Collor voltar ao poder, provavelmente eu já terei morrido, mas juro por Deus que volto para puxar sua (minha perna) perna”.
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brilhante e sucinta este seu
brilhante e sucinta este seu post sobre o modelo empreendedor do seu Frias em relação ao jornal folha de São Paulo.Infelizmente seus filhos aparentemente trocaram o rabo preso com o leitor para o rabo preso com o "eleitor" e,mais que isso,colocaram um rato como mascote.Pelo bem da democracia é preciso que a morte de seu Frias não reperesente a morte de um importante jornal brasileiro.
Nassif,
Então..o que
Nassif,
Então..o que aconteceu com a "folha"?
A culpa é dos filhos do Sr. Frias?
Acompanhei a trajetória desse jornal desde os anos setenta ( era moleque, juro!). Este jornal ajudou-me a valorizar a pluralidade. Mas, este ano encerrei minha assinatura, quase chorando. Não admito o que fizeram, se entregaram de corpo e alma ao neoliberalismo. Até o caderno "mais" que tinha ótimas matérias sobre História e Filosofia, agora é fútil. Fico triste, acho que não foi o Sr. Frias que morreu, foi uma idéia, uma atitude. Seus herdeiros são mesquinhos, pensam com o bolso.
O Vladimir,que postou
O Vladimir,que postou abaixo,está cheio de razão,o legado do sr.Frias,que apesar de alguns tropeços políticos,era um empresário com visão e que dava independencia aos seus colaboradores,é o mesmo deixado e não continuado pela família Mesquita,do Estadão,que tomou partido pelos neo-capitalistas,e que deixaram de praticar um jornalismo ileso,e por isso,estão perdendo material humano e leitores,numa "queda"que talvez leve à bancarrota,como aconteceu com órgãos de imprensa de porte igual,que partiram pra esta linha,e quebraram,exemplos:Revista Visão;Realidade;Manchete,e outras que esqueceram a lição de casa,e os ensinamentos dos seus fundadores.
Raí, já tenho alguns anos de
Raí, já tenho alguns anos de janela para não me inebriar pelo bem estar passageiro de um câmbio apreciado. Coloquei a matéria porque é informativa do estado de espírito mundial em relação ao Lula -- ao contrário dos que teimam em taxá-lo de um novo Chaves.
Nem pensei em absolvê-lo,
Nem pensei em absolvê-lo, Thiago. O que tento passar na coluna é a lógica de negócios que norteou inclusive o fato da "Folha", durante algum tempo, ter sido o baluarte da democratização.
E ainda por cima o elogiei (o
E ainda por cima o elogiei (o Collor) no meu livro.
ah sim, concordo.
Mais ou
ah sim, concordo.
Mais ou menos o que o Dirceu chamou: "um homem de seu tempo".
Com grandes feitos.
No meu livro "O Jornalismo
No meu livro "O Jornalismo dos anos 90" analiso umas vintes coberturas com esse vício do escândalo vazio, do padrão monotônico da indignação sem conteúdo.
Daniel, do Collor não foi
Daniel, do Collor não foi censura. Quanto a uma coluna vetada em 15 anos, e não propriamente por razões de opinião nas de lógica interna do jornal, não creio que nenhum outro veículo me desse essa liberdade.
Nassif,permita-me tentar
Nassif,permita-me tentar replicar aos companheiros Virgilio Tamberlini e Fábio Passos,ainda sobre o assunto Rubens Ricúpero.Claro que uma simples frase colocada no tempo errado,e sobre um assunto tão "sem importancia"como querem acreditar os amigos do blog,por qualquer ser mortal,nada acrescentaria ao momento vivido,entretanto quem falou a frase,que parecia ser a tônica oficial,foi nada menos que o Ministro da Fazenda do Brasil,e se suas credenciais como estudioso e culto em todos os assuntos pertinentes,não está sendo colocada em questão,e sim a responsabilidade e o comportamento que deveria ser exemplar de quem ocupa tal cargo.Nem sempre a excelencia de alguem em alguns assuntos,vindo de sua formação catedrática,significa conduta correta,quando desafiado pela situação real de gerir uma economia tão complexa como a nossa,daí o fracasso daquele ex-ministro,que foi "apenas"mais um escolhido a dedo pelo então Presidente da República,para tentar colocar nossas finanças em órdem,e que fracassou.O mesmo não se pode dizer dos Ministros da Fazenda do atual governo,pois mesmo sendo um extranho no ninho,a gestão do Palocci,e sua continuidade com o Guido Mantega,está mostrando que basta ter compromisso com a austeridade;falar sempre a verdade;não querer governar com canetadas,e jogar o jôgo da globalização,que a lição de casa torna-se fácil de ser feita.Abraços do amigo Raí.