Categories: Economia

Os desenvolvimentistas analisam a crise global

da Folha.com

Desenvolvimentistas avaliam que mundo está à beira da recessão

MARIANA CARNEIRO

O mundo desenvolvido está entrando num ciclo de recessão. A previsão foi feita por economistas considerados desenvolvimentistas reunidos em seminário na segunda-feira (15) na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.

“Estamos entrando em um regime de recessão. Salários baixos e corte de gastos públicos é uma combinação suicida”, disse o economista alemão Heiner Flassbeck, diretor da Unctad (braço da ONU para o desenvolvimento e o comércio), sobre a economia americana.

Ele observa que a decisão do Fed, o banco central americano, de manter as taxas de juros entre zero e 0,25% ao ano pelos próximos dois anos é uma “tentativa desesperada” de reativar a economia, e indica uma mudança de crença dos economistas.

“Os EUA estão fixando taxas de juros. Isso depois de 20 anos acreditando que os mercados é que deveriam definir taxas de juros, câmbio e salários. Isso é uma mudança de paradigma”, afirma.

A avaliação dos economistas dessa teoria econômica é que a crise atual é resultado do baixo consumo e, a reboque, do baixo investimento. E não do excesso de endividamento das famílias e governos.

E a estagnação econômica será inevitável caso sejam dadas respostas consideradas “neoliberais”, como corte de gastos do governo.

“Será que os EUA aprenderam a lição do Japão?”, questiona, referindo-se ao país que há 20 anos tenta se safar da estagnação e da deflação –queda de preços generalizada.

Flassbeck argumenta que os salários nominais nos EUA não aumentam há dois anos e que, na Alemanha, esse movimento tem 15 anos, sendo compensado pelo consumo em outros países da União Européia.

“O sistema financeiro cobriu essa lacuna [de baixo consumo], mas com a crise isso não é mais possível”, afirma o economista americano Thomas Palley, da New Foundation, para quem a falta de demanda, provocada pelos salários comprimidos, é a gênese da crise.

“Como os salários estagnaram, a inflação da dívida se tornou o único combustível para a demanda”.

Para o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, a solução da crise via cortes de gastos não é a saída.

“A solução clássica dada para a crise é baixar os valores dos salários, mas com isso se baixa a demanda”, afirma.

O professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo observa que os bancos americanos têm reservas de US$ 1,4 trilhão, “um empoçamento de recursos”. E acrescenta que o governo dos EUA deve gastar com a geração de empregos e renda:

“A política fiscal é necessária para manter a economia americana. Uma nova injeção de recursos no mercado teria poucos efeitos”, avalia.

SOBRE O BRASIL

Os reflexos de uma desaceleração nas economias líderes sobre os emergentes não é consenso entre economistas desenvolvimentistas reunidos na FGV.

Para Carlos Medeiros, professor da UFRJ, a desaceleração americana não afetará preços de matérias-primas porque a China continuará demandando produtos básicos.

“A expansão e a urbanização chinesa são os indutores do consumo de matérias-primas e de alimentos”, afirma.

Para Belluzzo, a China crescerá menos, o que servirá de “amortecedor” para a alta de commodities. Mas não provocará recessão no Brasil.

Isso, no entanto, provocará uma revisão das taxas de juros praticadas no Brasil.

“Se tiver outra rodada de incentivos nos EUA, haverá nova pressão no câmbio. Como o governo [brasileiro] vai manter uma taxa de juros como essa?”, questionou, referindo-se aos efeitos dos juros como atração de investidores para o Brasil.

Luis Nassif

Luis Nassif

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