Economia

Nova Economia: Propostas para o espaço urbano são tímidas em nova política industrial

O programa Nova Economia da última quinta-feira (21) contou com a participação de especialistas em espaço urbano para comentar o eixo de Cidades do Programa Nova Indústria Brasil (NIB). 

Entre os convidados, houve a unanimidade de que ter uma política industrial é um importante avanço. Porém, todos classificaram a proposta como tímida em relação às propostas apresentadas, assim como o volume de investimento para realizá-las. 

Fraya Frehse, de Sociologia da Cidade, do Espaço e da Vida Cotidiana na Universidade de São Paulo (USP), observou que o governo está atuando mais sobre produtos do que sobre a produção do espaço urbano.

“Temos de pensar qual espaço urbano está sendo produzido e pode ser produzido com a ajuda de uma política industrial. A minha sensação é que o governo está tímido na sua proposta na urbanização via industrialização”, comenta. 

No NIB, o Planalto propõe mais investimentos em eletromobilidade, cadeia produtiva da bateria, construção civil digital e de baixo carbono e indústria metroviária. Segundo Fraya, todos são produtos específicos relacionados à mobilidade, mas que não refletem soluções do segmento, como a meta de reduzir o tempo de deslocamento dos trabalhadores entre casa e trabalho. 

“Seria importante essa nova política industrial definir como a indústria vai interferir urbanisticamente na cidade, não apenas em padrões de moradia mais amplos, envolvendo o uso de espaços públicos, pois mesmo com a história do Minha Casa Minha Vida que é bacana, é bom pensar em induzir indústrias em lugares específicos da cidade”, emenda. 

Indústria Automobilística

Diretor do Instituto de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Frederico Rocha observou que a política industrial anterior, na tentativa de garantir o desenvolvimento econômico, entupiu as cidades de automóveis. 

Ainda que o NIB tenha qualidades ao criar missões e propor mudanças a partir das necessidades sociais, ele peca ao retomar a velha política industrial. 

“Estou muito preocupado com o problema ambiental, temos problemas ambientais seríssimos. Em cada página tem sustentabilidade, mas na hora de formular política, recorre-se à velha indústria automobilística. A expressão ‘transporte coletivo’ não é encontrada. A ideia de que tenho de mudar a perspectiva da cidade largando o transporte individual e passando para o transporte coletivo não aparece na política industrial”, analisa. 

Saneamento

Mais de 33 milhões de brasileiros ainda vivem sem acesso à água potável, de acordo com o levantamento do Trata Brasil. Em relação ao esgoto, o quadro é ainda mais grave: 90 milhões de pessoas não podem contar com o serviço. 

Mas o NIB também não oferece, de acordo com Eduardo Mario Mendiondo, professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, soluções reais para a universalização do saneamento básico no país. 

“Um em cada três brasileiros está vivendo no nível de Zâmbia, com baixos índices de saneamento. [o NIB] tem números muito aquém do que podemos almejar ainda na universalização, dando um salto que remonta às várias décadas e séculos onde o saneamento foi um ponto de virada para o desenvolvimento”, alerta o docente. 

Para a infraestrutura em resíduos urbanos e industriais, o programa prevê R$ 100 milhões de investimento entre 2024 e 2026, números que são tímidos na avaliação de Mendiondo, pois apenas a cidade onde ele reside, São Carlos, no interior de São Paulo, conta com R$ 1,3 bilhão de orçamento na área de saneamento básico. 

“Extremamente bem quisto esse momento esse ponto de partida do programa, mas os números estão aquém do que necessitamos para trabalhar essas parcerias público privadas e trazer esse elemento do saneamento como elemento de desenvolvimento. Sem saneamento não tem como haver desenvolvimento”, observa o especialista. 

Confira o debate na íntegra na TVGGN:

Confira também o NIB completo: nova-industria-brasil-plano-de-acao

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Camila Bezerra

Jornalista

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Jornalista

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