O bolsonarista raiz e a intervenção na UFFS, por Luis Felipe Miguel

O bolsonarista raiz e a intervenção na UFFS

por Luis Felipe Miguel

Colegas da Universidade Federal da Fronteira Sul relatam que a instituição está sob intervenção. O governo Bolsonaro nomeou o último colocado da lista tríplice para a reitoria.

O interventor é um típico representante da categoria que mais prospera no Brasil de hoje: o oportunista. Esteve nas duas últimas gestões, ambas de centro-esquerda, como pró-reitor.

Só largou o osso quando vislumbrou o caminho: um discurso reacionário, obscurantista mesmo, não o faria ganhar votos na eleição para reitor, mas garantiria a nomeação. Daí abraçou o bolsonarismo.

Sua página neste facebook, que tive o desprazer de visitar, é dedicada à exaltação do “mito”, à reprodução das teorias da conspiração correntes na extrema-direita brasileira, ao compartilhamento de vídeos de Alexandre Garcia, à defesa de Dallagnol e outros malfeitores e à pregação evangélica ultraconservadora. (Apresento exemplos nos comentários.)

Minha hipótese é que o bolsonarista raiz é tipicamente o troglodita – e uso a palavra quase como descrição, em vez de como metáfora. É um sujeito que padece de uma incultura brutal, de um déficit cognitivo incurável e da incapacidade de sequer disfarçar sua condição.

É assim o presidente da República. Mas, como regra, os integrantes do grupo não têm como ocupar os cargos mais importante do Estado. (O ministro da Educação é aquela exceção que confirma a norma.)

Então quem prospera são os oportunistas. Quanto mais abjeto o oportunismo, quanto maior a capacidade de defender sem ruborizar as ideias mais desatinadas, maiores as chances de se dar bem.

Eles estão nas universidades, como os interventores da Universidade Federal do Ceará e da UFFS bem mostram.

Estão no Ministério Público – basta ver o triste espetáculo dos candidatos à procuradoria-geral batendo no peito para dizer “eu odeio direitos, eu fecho os olhos para milicianos, eu não tenho moral”.

Estão no Itamaraty, atropelando promoções, ganhando cargos em descompasso com a própria capacidade e experiência. O próprio Ernesto Araújo, aliás, é um caso a ser investigado. Tem aquele olhar fixo de fanatizado, é verdade. Mas só deixou a posição de diplomata discreto, silencioso, apagado mesmo, sem quaisquer ideias fossem elas boas ou ruins, para “intelectual” formulador dos disparates mais absurdos quando a vitória do Biroliro já estava se desenhando no horizonte.

Qualquer pessoa que tenha um mínimo de dignidade pessoal não aceita participar deste governo. Quem aceitou por ingenuidade ou cegueira voluntária mas queria fazer seu trabalho com alguma seriedade está tendo que sair.

São os oportunistas, aqueles com a espinha dorsal mais flexível e o caráter mais maleável, que ocupam os espaços.

Luis Felipe Miguel

Luis Felipe Miguel

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