Precisamos de gente engajada em melhorar a escola pública

Por Beatriz Azevedo

Comentário ao post “O movimento migratório que vai pressionar a educação pública

Aqui em São Paulo, algumas famílias de classe média, normalmente aquelas com pais mais engajados socialmente, estão migrando os filhos para a escola pública. Especialmente para as escolas onde se descobre que há um projeto pedágico sério, onde a comunidade como um todo é respeitada, os pais podem participar da dinâmica da escola, e talvez de algumas decisões. Algumas raras destas escolas estão até na mídia.

Existe o movimento e eu particularmente o considero muito necessário. Precisamos de gente para brigar pela melhoria da qualidade, para exigir mais pelo que se paga em impostos e é revertido para a educação, para se juntar e trabalhar em prol da escola e também para ficar no pé da gestão escolar e dos professores. Não é fácil. Porque tanto na escola pública quanto na particular, a verdade é que não se quer os pais combatendo as falhas que encontram aos borbotões. Seu filho corre o sério risco de ser hostilizado. 

Pelas minhas pesquisas atrás de uma escola para meu filho e por vários depoimentos de amigos, está evidente que as escolas particulares estão muito ruins mesmo. Arrisco dizer que a maioria dos pais colocam os filhos nas particulares por status, só que é um status advindo de um medo da escola pública, talvez até um horror.  Por uma falsa ideia de que a escola particular é boa e/ou de que como pagadores terão voz nesta relação de consumo com as instituições particulares, os pais ficam com as particulares, mas o que obtêm de volta é um engodo, desde a falta de qualidade do ensino propriamente dito até ao tipo de tratamento que pais e filhos recebem no ambiente escolar, sendo que tenho ouvido da parte de amigos que as escolas têm regras repressoras sem razão de ser, crianças obrigadas a usar uniforme e fazer propaganda involuntária do colégio, pais que não tem voz e que quando tentam conversar são informados que a nível psicopedagógico eles não sabem criar os filhos, além de várias situações de desorganização administrativa tanto na rotina diária, quanto em eventos que ocorrem nas escolas. Seria cômico se não fosse trágico.

Há um tempo saiu uma reportagem no UOL apontando que muitas escolas particulares na faixa de R$ 600,00 tem infraestrutura deficiente e piores do que as instalações de escolas públicas. E eu pude comprovar isto em várias visitas que fiz . Visitei uma suposta escola bilingue no Butantã em São Paulo que cobra atualmente por volta de R$ 900,00 para educação infantil e mais um pouco para o ensino fundamental I e a escola é em um prédio de 4 andares improvisado, que não foi construído para ser escola, o espaço externo é ínfimo, sem uma árvore sequer ou grama ou uma caixa de terra, apenas uma grama sintética com alguns brinquedos de plástico, onde as crianças derretem no sol escaldante. E o projeto pedagógico? Completamente sem consistência.

Visitei uma outra também no Butantã que cobra faixa de R$ 600,00 a 900,00 (do infantil ao médio) e que em pleno mês de março, logo após a volta às aulas, estava com a sala de artes fechada, e a pessoa que me mostrava a escola deu uma desculpa de que estava em reforma.

Há uma escola caríssima (na faixa de R$ 2000,00) , no Parque dos Príncipes em São Paulo, onde o parque infantil, igualmente ao exemplo anterior, se resume à uma área com grama sintética. A escola está em um bairro arborizado porém nas dependências da escola praticamente não há árvores.  

Já falando das públicas, é fácil constatar que várias estão em terrenos privilegiados, grandes, com verde e que os prédios não passam de 2 andares.  Isso falando da estrutura física. E em relação à pedagogia, ao conteúdo, ao nível de qualificação dos professores? Se as particulares fossem tão boas, seus egressos pontuariam excelentemente no ENEM e ingressariam direto nas melhores faculdades e bem, não é isso que vemos ao longo das últimas 2 décadas.  Muitas particulares apesar de conteudistas não tem projetos e filosofia pedagógica que valham o tudo que se cobra nelas, a saber, matrícula, 12 mensalidades, taxa de material, passeios muito bem pagos, parcerias com cursos de inglês mas que são pagos em separado da mensalidade regular, taxa de uniforme (sou totalmente contra!) e muito mais.

Então, dentro deste contexto todo, seja porque cansou de pagar, seja pela perspectiva da cota nas universidades federais, seja porque se quer acreditar que é possível melhorar a educação pública básica, esse movimento migratório já estava na hora.

Redação

Redação

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  • O que vemos aqui no Rio,

    O que vemos aqui no Rio, principalmente na Baixada Fluminense onde leciono, é a depedração da escola pelos próprios alunos. Boa parte das verbas que as escolas recebem, que poderiam ser utilizadas em equipamentos, melhor qualidade da merenda etc, são usadas para compras de cadeiras, lixeiras, extintores e outros materiais que poderiam servir ainda por muito tempo.

  • Muito bom!
    Existem escolas

    Muito bom!

    Existem escolas públicas muito eficientes  na periferia de São Paulo, nem sei se é por status que  pais

    prefiram  escolas da rede privada ,acredito sim que seria mais por questões de segurança, segurança essa

    que é um mito. Invadir a escola pública já! Força de pressão e melhoria para todos.

  • O que falta é vontade

    O que falta é vontade política. PONTO!

    Não precisa nem disto nem daquilo, é só vontade política.

  • particular ou pública destaca-se a sobrecarga...

    sobrecarga de funções, tando das escolas como dos professores

     

    em conversa com alguns professores que se aposentaram recentemente, eles(as) fizeram questão de chamar minha atenção para o seguinte:

     

    quando você fica sem ter como atuar direta e livremente sobre um, você não consegue melhorar o grupo

     

    daí passei a acreditar que os responsáveis diretos pela educação, secretarias, cometem os mesmos erros de um diretor de escola particular que quer apenas investir e ter retorno garantido

     

    enfim, caminho mais fácil para educar um grupo deveria começar no lar

    • comentário fechado aparentemente fora do contexto...

      mas não do contexto histórico...................

       

      estudem porque as escolas públicas eram maravilhosas antigamente

  • Teremos novidades, talvez não muito boas

    A escola de cerca de R$2000 chama-se Albert Sabin. Talvez seja o que tem de melhor nesta faixa. Concordo que devemos exigir o resgate do ensino público, mas vejo que a sociedade ainda não associa o problema com a depreciação da carreira de professor. Os pais dos alunos, em geral, não entendem e não apóiam as greves dos docentes. Mas atenção, já existe projeto para acabar com isso: entregar a administração das escolas à iniciativa privada. Restará chorar pelo leite derramado.

  • Vou pegar carona no

    Vou pegar carona no comentário da colega:

    Em 2003 meu pai faleceu devido a um cancêr generalizado que inclusive serviu de estudo de caso devido à velocidade com que ele se espalhou.

    Até sua morte, que ocorreu em casa, por opção da família, fizemos várias vias sacras pelos hospitais do convênio médico. Um deles era o Hospital Modelo, na Liberdade - Centro de S Paulo.

    Você pode até imaginar que um hospital tradicional, em região central da cidade e "particular" fosse um lugar de excelência, mas o que encontramos foram macas e camas enferrujadas, profissionais de má vontade e, no final da história, meu nome sujo no SPC porque não foi registrado na contabilidade deles meu pagamento de R$ 525,00 por um procedimento realizado e "de fora do plano contratado".

    Em nosso desespero, passamos pelo Einstein e Sírio Libanês onde o médico de meu pai também clinicava.

    A R$ 3mil reais a diária, já é possivel prever que o dinheiro logo acabou pois além de pagar estes "por fora" ainda havia as mensalidades do plano de saúde, aquele do hospital de camas enferrujadas.

    Fomos até a Assistência Social do Sírio Libanês explicar que seria impossível quitar aquela despesa de uma só vez e no final, conseguimos a gratuidade do período de tratamento de meu pai. Acredito que verbas do SUS devem ter sido utilizadas para compensar a "gratuidade" dada pelo hospital.

    Para encurtar a história: o médico de meu pai também dava aulas na UNISA - Universidade Santo Amaro que ajudava o corpo médico do Hospital Geral do Grajaú para onde foi meu pai.

    Em nossa cabeça de classe média preconceituosa - a mesma que pensa como os pais do comentário da colega - fomos "surpreendidos" pela limpeza, organização, bom atendimento e instalações do "hospital-público-de-perifeira"

    Quero deixar claro que a UNISA colaborava com os profissionais e não com as instalações físicas.

    Enfim, a falsa ilusão que o serviço particular sempre é melhor que o público é verdadeira. Quando comento este caso com amigos, sempre ouço histórias semelhantes dos Hospitais do Servidor Público, Santa Casa e etc.

    É dito que o grande problema é o funil da entrada. E devo acreditar já que na época precisamos da interferência direta do médico de meu pai para conseguir uma vaga no Hospital do Grajaú.

    Penso que a migração em andamento também já acontece nos hospitais.

  • O título do texto é ótimo, mas o conteúdo é questionável

    Há a possibilidade da classe média lutar pela melhoria da escola pública, mas tb o risco dela conseguir obter para seus filhos as vagas nas poucas escolas melhores, que se destacam, e os outros ficarem com menos aínda do que já têm. Sem falar na segregaçao interna de turmas melhores e piores (sem nomes tao claros...), os professores mais antigos e com mais experiência podendo escolher primeiro. 

    • Pois é, isso quase aconteceu

      Pois é, isso quase aconteceu em uma escola de ensino fundamental da ZL de Spaulo onde a diretora (excelente)

      conseguiu um padrão de primeira linha , mas acho que se houver monitoramento pode dar certo sim.

  • Me chamou à atenção que no

    Me chamou à atenção que no Rio de Janeiro 93% do corpo docente tem regime de trabalho de 16 à 20 horas. Portanto, apenas 7% trabalham 40 horas em dedicação integral.

    Qual seria a melhor remuneração para quem trabalha apenas 16 ou 20 horas ? 

    Isso dá 64 ou 80 horas mensais respectivamente. Contra as 220 horas (44 horas semanais) da maioria dos trabalhadores. Incluindo os qualificados com 3º grau.

    Qual a solução para atingirmos as metas de educação em tempo integral?

    Será que o pedido de aplicação dos 25% dos recursos do município na educação será suficiente. Pois neste caso, entendo que teríamos que dobrar o nº de professores e ainda manter a estruturas (imóveis e funcionários indiretos) com estes recursos.

    Não sei quem tem razão. Só sei que quem paga é o contribuinte.

     

    QUE ALGUÉM APAREÇA COM UMA PROPOSTA CONCRETA, ONDE O MAIOR BENEFICIADO SEJA A MAIORIA. OU SEJA A POPULAÇÃO.

    TEM QUE "CAPAR" O CARA QUE INVENTOU ESTA MATRICULA DE MEIO-EXPEDIENTE. 

     

     

    SOLUÇÃO: BOM SALÁRIO E DEDICAÇÃO INTEGRAL PARA TODOS.

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