Campanhas presidenciais: os sinais da primeira semana, por Aldo Fornazieri

O peso e a importância específicos dos programas eleitorais na TV sobre a definição de voto do eleitor são ainda uma incógnita. Sabe-se que influenciam. Mas, aparentemente, essa influência é limitada. Custam caro: nas eleições de 2014 o governo arca com R$ 840 milhões em benefícios fiscais para bancar as campanhas gratuitas para os candidatos e partidos. Quem paga, no final das contas, é o contribuinte. O Tribunal Superior Eleitoral comete uma falha grave ao não fazer pesquisas sistemáticas sobre a importância dos programas de TV junto aos eleitores. Uma das poucas pesquisas que existem sobre o tema foi feita por um centro de estudos da UFMG . A pesquisa incide sobre a campanha presidencial de 2010 e mostra que 43,2% dos eleitores não assistem os programas eleitorais na TV , contra 54,4% que assistem. Desses últimos, 65,9% assistiram ao menos uma vez por semana. Ou seja, de modo geral, os programas contam com baixa audiência.

Os programas de TV são o item mais caro de uma campanha eleitoral. As campanhas no Brasil são absurdamente caras, o que faz aumentar a influência do poder econômico, que se torna patrocinador dos candidatos em troca de benéficos futuros. A previsão de gatos de Dilma na campanha é de R$ 298 milhões; a de Aécio de 290 milhões e a de Campos – agora de Marina – de R$ 150 milhões. A primeira prestação de contas dos candidatos feita ao TSE apresenta um retrato do perfil dos financiadores: 91% de todo o dinheiro arrecadado foi doado por empresas; apenas 3% foram de pessoas físicas; três empresas – a JBS Friboi, a AmBev e a construtora OAS doaram 60% dos recursos arrecadados pelas campanhas presidenciais. Quer dizer, o peso do poder econômico salta aos olhos, assim como a expropriação do protagonismo dos cidadãos nos processos eleitorais.

O que se pode dizer da propaganda eleitoral na TV é que sua principal função consiste em universalizar e tornar igual o conhecimento dos candidatos. Sem dúvida, ela é um dos elementos que contribui para definir a decisão de voto do eleitor. Mas não é nem o único e, provavelmente, nem o mais importante. Quem acompanha as eleições sistematicamente percebe que as conjunturas eleitorais têm uma determinação maior na definição das eleições do que os programas de TV, da ação dos apoiadores ou da amplitude da coalizão. Seguindo critérios maquiavelianos de análise de conjuntura, podemos defini-las, grosso modo, de dois tipos: ou elas são de continuidade (conservação) ou de mudança. Para melhor compreender os conceitos, basta apresentar dois exemplos. Em 2010, a conjuntura era de continuidade, pois o eleitor queria que o governo Lula continuasse na sua sucessão. Esta conjuntura favoreceu a vitória de Dilma. Na campanha presidencial de 2002, a conjuntura era de mudança, já que o último governo de FHC era mal avaliado pela maioria da população, que almejava mudanças, fator que favoreceu Lula.

O Extravio de Aécio

Os programas de TV permitem perceber qual a leitura que cada campanha faz da conjuntura e como se pretende abordá-la para capturar a atenção e o voto do eleitor. Como os programas são acompanhados por pesquisas Quali, eles podem ser mudados ou retificados de acordo com as reações dos eleitores. As retificações e ajustes, no entanto, têm alcances e êxitos parciais já que existem outros fatores que incidem sobre a definição de voto do eleitor para além da propaganda televisiva.

A primeira semana de propaganda eleitoral na TV revela a leitura extraviada que a campanha de Aécio faz da conjuntura. Aparentemente, essa leitura adota como ponto de partida a constatação das pesquisas de que mais de 70% dos brasileiros querem mudanças na política. A campanha de Aécio lê esse anseio de mudança apenas como uma mudança em relação ao governo Dilma e ao PT. Na verdade, esse anseio de mudança é bem mais amplo do que a simples troca de governo. É uma mudança que se refere ao modo geral da prática política que vem sendo desenvolvida no país. É uma mudança que se conecta com a crise de representatividade dos políticos, dos partidos e das instituições.

Ao não compreender na natureza da mudança almejada pela sociedade, Aécio descambou para um conservadorismo puro e simples. Quer credenciar-se como o candidato da mudança ao apresentar-se como o anti-PT e o anti-Dilma. Desenvolve uma campanha negativista sem credenciar-se como candidato da esperança. Ademais, caiu numa posição defensiva ao insistir na tese de que não acabará com os programas sociais, a exemplo do Bolsa Família. Procura capturar os votos das chamadas classes C e D, algo difícil, pois são mais fiéis ao PT e a Dilma. Desta forma, abandona o campo de batalha onde teria mais chances de arregimentar votos: as classes médias médias e altas. Com isto, este terreno fica livre para ser capturado por Marina Silva, o que poderá fazer Aécio resvalar cada vez mais para um terceiro lugar.

A campanha de Dilma, por sua vez, tem uma leitura mais correta da conjuntura e seus programas de TV procuram focar os dois principais problemas da caminhada para a reeleição: a recuperação da avaliação do governo e a reconfiguração da imagem de Dilma. Apesar dos erros na condução da política econômica e no início tardio de investimentos na infra-estrutura, o governo tem muitas realizações a mostrar. Conta a favor de Dilma o fato de que o desemprego permanece baixo e a renda ainda acusa ganhos. A campanha, no entanto, terá que se esforçar para mostrar uma Dilma diferente do que foi durante o governo: arrogante, sem diálogo com os partidos e a sociedade civil, avessa ao exercício da política e praticamente do mandonismo burocrático. Não bastará refazer sua imagem, apresentando-se como uma pessoa normal e uma mulher sensível: se reeleita, terá que adotar outra postura como presidente para não derrapar para o isolamento palaciano. Dilma terá também que sinalizar uma mudança da equipe econômica.

As Indefinições de Marina

Em que pese a competitividade demonstrada por Marina em sua estréia como cabeça de chapa, em conseqüência do infortúnio de Campos, ela terá que enfrentar muitos desafios para poder passar mais credibilidade e ganhar confiança de setores mais amplos da sociedade. A “nova política”, por enquanto, é uma fantasia carente de conteúdo. Marina será convocada a criar uma face concreta, visível, a essa ideia. Se continuar com o discurso anti-conchavo, terá que dizer como dará sustentação política ao seu governo. Dizer que poderá contar com pessoas corretas e honestas que existem em todos os partidos ou é dizer que usará o governo para cooptar essas pessoas ou é aventureiro, pois o governo terá que se compor partidariamente. Terá, assim, se eleita, que negociar com os partidos, desmentindo suas promessas de campanha, Se governar sozinha, apenas com os seus, poderá cair no mesmo isolamento político em que caiu Collor de Mello, o que também poderá ser uma aventura. Como Marina apresenta chances de vitória, terá que se despir do discurso genérico e do dever ser. Terá que apresentar os meios pelos quais pretende realizar os nobres fins. É nos meios onde se abriga o demônio da política. Há que se esperar para ver.

Aldo Fornazieri – Cientista Político e Professor da Escola de Sociologia e Política.

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

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  • Uma propaganda tão cara para

    Uma propaganda tão cara para resultar nessa mediocridade que estamos cansados de ver e ouvir. O pior é envolver as pessoas mais humildes na mentiras, como tem feito, sempre, Aécio. Ele vai na casa de uma senhora e aproveita a chance pra puxar uma conversa de acordo com um scrip seu. São perguntas e respostas calculada. Por certo, essa senhora vai levar uns trocados, enquanto Aécio sai da casa dela com cara de covarde, de um aproveitador da pobreza, ou da miséria de muitos. Isso é muito ridículo. Por que Aécio, que diz ter saído do governo de MG com 95% de aprovação, nao aproveita a oportunidade pra ir mostrando seus feitos? E o que ele fez como Senador da República? Quais foram seus grandes projetos, se já tinha em mente vir a se candidatar ao cargo mais importante do Brasil? Eu, que muito acompanho a TV Senado, só vi Aécio subir á tribuna para esculhambar com Dilma, tal como fazem seus companheiros e puxa-sacos, como Agripino, que é outro, cheio de teses contra, mais nada faz pelo seu estado, o RN. Exemplos não faltam de políticos se aproveitando de pessoas incautas para apresentarem suas ideias, que, na verdade, não são ideias, mas a mentira necesária para enganar os coitados. Isso devia ser crime.

     

  • acho qu vandré tinha

    acho qu vandré tinha razão.

    quem sabe faz a hora

    não espera acontcer.

    agopra que é a hora da luta para manter as conquistas dos últimos doze anos

    ou a entrega do país ao reino da misitificação do neoliberalismo que   afunda a europa e outos países pelo mundo e que quebrou o brasil tres vezes na era fhc.

    esse esejo não é mero proselitismo político,  como suporão alguns alienados neoliberais

    é uma tomada de posição crucial neste momento para a história do país.

    pois jstamente neste dia há 60 anos o suicídio de vargas mostrou a que ponto chegou o udenismo dilacerador das isntituições brasileiras, que depois tb derrubou  jango em 64 e implantou uma cruel ditadura cívico-militar para defender os interesses economicos  e políticos alienígenas e acabou  praticamente com os sindicatos e com os movimentos sociais.

     

  • Considero a análise

    Considero a análise parcialmente correta, mas é preciso colocar mais alguns pontos. O foco inicial da campanha do Aécio nas classes C e D estava correta, pois eram nessas classes que ele precisava penetrar, para garantir a ida para o segundo e iniciar as conversas para uma quase certa disputa com dilma . No entanto, com a trágica mudança na companha, provocada pelo falecimento de Eduardo Campos, acredito que todos os candidatos terão que realinhar suas campanhas, o que só deverá ocorrer nas próximas semanas. 

        Porém, uma coisa é certa, a entrada de Marina na disputa presidencial, afeta muito mais a campanha de Aéco do que a de qualquer outro candidato. É verdade que a campanha de Dilma, sonhava com o vitória no primeiro turno, o que era plausível com Campos na disputa, mas que no momento parece inviável. Mas em relação a campanha de Aécio, o baque foi enorme, pois a sua briga era para levar a campanha para o segundo turno, o que era factível. Mas nesse momento a sua briga será para abater Marina e ir para o segundo turno. O que fará que a sua estratégia de focar nas classes C e D, terá que ser revista e sua campanha inevitavelmente entrará em rota de colisão com a de Marina. Já Marina parte com o mesmo potencial de votos em que deixou a última campanha. No entanto, já que dessa vez tem chances reais de ir para o segundo turno, terá que mostrar mais ao que veio e deiálogar com setores que anaisarão o risco Marina. Além disso, logo, logo se deparará com a artilharia pesada do psdebistas, já que dessa vez ela ameaça a tirar o candidato desses da disputa. Já a campanha de Dilma, cairá na real e se preparará para um quase certo segundo turno. Contudo poderá focar sua campanha nas suas relizações e nas correções de rumo, já que os outros dois principais candidados se degladiarão na conquista dos votos necessários, para passarem para o segudo turno.

  • Revisor posto no olho da rua... (e muito muito) REVOLTADO!

    "Os programas de TV são o item mais caro de uma campanha eleitoral. As campanhas no Brasil são absurdamente caras, o que faz aumentar a influência do poder econômico, que se torna patrocinador dos candidatos em troca de benéficos futuros. A previsão de gatos de Dilma na campanha é de R$ 298 milhões; a de Aécio de 290 milhões e a de Campos – agora de Marina – de R$ 150 milhões."

    Erramos, por favor, queiram ler: A previsão de "gatos" de Dilma na campanha... e por ai afora... na correria incessante babélica das más-línguas subliminares fortuitas certeiras verdadeiras da fornada fast-food a la fornazieri.

     

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