O padrão Branco e Nulo

O padrão Branco e Nulo

por Pós-Graduação em Opinião Pública e Inteligência de Mercado/FESPSP

O artigo busca chamar a atenção sobre possibilidades de aumento de voto branco e nulo, considerando dois aspectos: 1) a campanha de “voto” útil que cresce nas redes sociais, e a consequente indefinição do eleitor em tal cenário; 2) a escolha entre Haddad e Bolsonaro, se confirmadas as tendências de segundo turno até aqui.

A participação democrática é obrigatória aos brasileiros em território doméstico ou estrangeiro, mas a escolha de um candidato não. Voto branco e nulo são os dois meios de decisão para não participar do processo eleitoral. Entretanto, são desconsiderados no resultado, pois este é sobre votos válidos.

Há três hipóteses sobre o voto nulo: erro de digitação, esquecimento do número do candidato escolhido, e desatenção na hora de votar. Considerando que o voto é secreto, não há como afirmar a intenção do eleitor, inclusive quando “especialistas” dizem que é um voto de protesto.

Uma variável a ser considerada é o grau de escolaridade dos eleitores: 62,92% tem até segundo grau incompleto.

 

1 – Os votos indefinidos em pesquisas eleitorais

Para tal análise considera-se voto indefinido o agrupamento de votos brancos, nulos e indecisos. Este dado é importante porque até o momento da votação, eles não estão previstos e, em uma disputa acirrada podem surpreender. Daí a importância de considerar o grau de insatisfação do eleitorado, que consequentemente se manifesta na falta de interesse em participar do processo.

Na sequência um cruzamento de grau de instrução por votos branco e nulo desde às eleições gerais de 2002, quando a votação chega a 100% na urna eletrônica.

Eleições 2002

Eleições 2006

Eleições 2010

Eleições 2014

         O aumento de votos brancos e nulos não deveria ser ignorado pelo TSE, pois sinalizam que o eleitor tem uma percepção sobre o processo um tanto diferente do que dizem empresas de pesquisas, analistas políticos e os próprios políticos/Partidos.

Cada ponto no mapa é uma zona eleitoral. Uma cidade tem diversas zonas. Observando a dispersão, nota-se que em 2002 havia maior percentual de votos brancos e nulos dentre as zonas com menor grau de escolaridade. Mas, tal comportamento eleitoral foi se modificando, e em 2016 tem-se um aumento de votos brancos e nulos em cidades com maior grau de escolaridade.

É o descontentamento com a política? É a ausência de candidatos que realmente falem o que o eleitor quer ouvir? Será que não é hora de perguntar para o eleitor sobre voto obrigatório? Há que se investigar com profundidade tal mudança no comportamento, pois a tendência de cristalização do voto banco e nulo é o que de fato pode colocar em xeque a democracia representativa no Brasil, já que é um problema que outros países, com sistema eleitoral similar, vêm enfrentado.

O advento das redes sociais e o consequente net-ativismo daí decorrente tem assegurando algumas ações/mobilizações/reivindicações e “conquistas” da população de forma mais “direta”. Como eleitores já começam a questionar: “se realizamos quando nos organizamos por redes, para que precisamos de um parlamento, principalmente, que não tem projetos para grande maioria da população?”

O gráfico a seguir faz uma comparação entre pesquisas de intenção de voto da eleição atual e de eleições presidenciais anteriores. Para tanto foi considerado pesquisas realizadas por um único Instituto, no caso IBOPE, entre junho e setembro de cada ano.

Fonte: Agregador de Pesquisa – Poder360 – IBOPE

 

Analisando o gráfico acima, percebe-se que os votos indefinidos subiram em comparação ao mesmo período nos anos selecionados. Em 2002, 8% do eleitorado não tinha definido a intenção de voto no começo do pleito. Em 2018, no mesmo período de comparação das pesquisas, 41% estava indefinido. Uma das hipóteses, além do “descontentamento com a política”, é o aumento de número de candidatos. Em 2002, seis candidatos concorreram à Presidência da República, em 2006 foram oito, em 2010 foram nove, em 2014 foram onze e, finalmente, em 2018 são 13 candidatos.  

Lembrando que em 2014 Dilma e Marina, até o meio da última semana de campanha apareciam em primeiro e segundo lugar. Essa semana têm debate, teve a mobilização das mulheres no dia 29, estimado em quase 4 milhões no país. Qual o peso desses fatos sobre a decisão de voto nessa reta final? Apenas para refletir.

Assinam este artigo os alunos: Beatriz Ramires de Britto, Camila P. Monteiro Costa, Danilo de Oliveira Romano, Débora Toniolo, Felipe Pragmacio Travassos Teles, Ivair J.A. Junior, Julia Isabel Miranda Travaglini, Jimmy Augusto Moreira Pitondo, Jusuá Jihad Alves Soares, Kathleen Ângulo, Larissa Regina Ramos da Silva, Marcela Pereira Pedro, Mariana de Camargo Rodrigues, Rodrigo da Silva Pereira, Rosimeire da Silva dos Anjos + Nicholas Domene, aluno da Escola de Comunicação e Artes – ECA/USP, com seus estudos de big data (votos brancos e nulos em Phyton). Pós-Graduação em Opinião Pública e Inteligência de Mercado/FESPSP, ministrada pela- profª . Jacqueline Quaresemin

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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