Médicos cearenses hostilizam profissionais cubanos e envergonham o país

Jornal GGN – Num clima de aversão, médicos brasileiros hostilizaram os profissionais cubanos, em protesto no primeiro dia de curso do programa Mais Médicos, em Fortaleza (CE). O protesto organizado pelo Simec (Sindicato dos Médicos do Ceará) assustou os profissionais estrangeiros, que foram chamados de “escravos” pelos manifestantes.

Na aula inaugural estavam presentes 96 médicos, 79 deles cubanos. Foi preciso pedir reforço policial para impedir a invasão dos que protestavam à porta do prédio. Na saída, os insultos contra os médicos cubanos continuaram (veja vídeo abaixo).

Nas redes sociais, a manifestação no Ceará está sendo vista com revolta, como uma vergonha nacional. As pessoas pedem aos médicos brasileiros um pouco mais de dignidade. Diferentemente da posição de alguns profissionais, a maioria da população brasileira é a favor do programa Mais Médicos e na vinda dos cubanos.  

Curso

Os profissionais estrangeiros do programa Mais Médicos iniciaram nesta segunda-feira (26) as aulas preparatórias para trabalhar  no Brasil. Segundo a grade, serão 120 horas de curso, das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira. No programa de treinamento serão exibidos documentários e de vídeos sobre a realidade brasileira, além de visitas a centros de saúde.

No primeiro dia de aula, os profissionais assistiram ao documentário “O Povo Brasileiro”, baseado na obra de Darcy Ribeiro, e estudaram as diferenças culturais entre os nordestinos e a população do Sul e Sudeste. “É preciso explicar como se consegue ter (no Brasil) Corola e Hilux, e não se consegue botar médico (em todas as cidades)”, explicou Rodrigo Cariri, coordenador do curso em Pernambuco, à Folha de S. Paulo.

Além disso, antes da prova final, os profissionais estrangeiros passarão pelo menos dez horas discutindo o marco ético-jurídico do trabalho médico no Brasil.

Entraves

Os médicos cubanos foram criticados e coagidos por não dominarem a língua portuguesa. Em sua defesa, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha disse aos profissionais que “não precisam sentir vergonha de não saber falar português”. No entanto, apesar dos esforços do ministro em minimizar as críticas sobre a falta do domínio da língua, esse será um critério indispensável para aceitação do candidato ao programa.

Padilha lembra que os profissionais estrangeiros passarão por um processo intenso de avaliação, de troca de experiências e de conhecimentos. Em entrevista à Folha, o ministro disse que “quem vai para área indígena, além dos conteúdos nacionais, dos cursos, de avaliação sobre a língua portuguesa, vai ter também módulos específicos sobre a cultura da região onde trabalhará”.

Em Pernambuco, um médico do programa pediu à reportagem da Folha que discorresse em espanhol; outro, que falasse mais devagar. Já o cubano Danilo Sanchez joga suas expectativas no treinamento para sanar o problema do dialeto.  “A gente sabe que há regionalismo no Brasil, por isso serão importantes essas semanas de aula”.

Para evitar mais entraves entre as organizações representantes dos profissionais da saúde e o programa Mais Médicos, o governo Dilma Rousseff publicou decreto determinando que os médicos estrangeiros não atuarão fora do programa oficial. Alexandre Padilha informou que os profissionais formados no exterior não disputarão mercado com médicos brasileiros.

Com informações da Folha de S. Paulo e do Estado de S. Paulo

Redação

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