Muito além do subsídio, por Arthur Koblitz

Jornal GGN – Em participação hoje na Folha, Arthur Koblitz, vice-presidente da Associação dos Funcionários do BNDES e economista, discorre sobre o “rombo” causado nas contas públicas pelos subsídios ao BNDES. Traz à discussão a MP 777, que acaba com a TJLP para supostamente acabar com esse desequilíbrio, mas que nada diz sobre os benefícios fiscais gerados por este sistema.

Koblitz destaca a importância de uma análise de números e custos. E dos impactos do BNDES na economia e o fato de que os custos se tornam falácias ideologicamente motivadas.

 Leia o artigo a seguir.

da Folha

Muito além do subsídio

por Arthur Koblitz

Muito tem sido dito sobre o “rombo” nas contas públicas causado pelos subsídios ao BNDES decorrentes da diferença entre a Selic e a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), índice pelo qual o banco remunera a maior parte do seu funding.

No debate sobre a MP 777, que promete acabar com a TJLP para estancar esse suposto desequilíbrio, chama a atenção o silêncio a respeito dos benefícios fiscais gerados pelo sistema TJLP-BNDES.

Todavia, são indiscutíveis os ganhos desse sistema, seja diretamente, via pagamento de impostos e distribuição de dividendos, seja na forma de tributos pagos pelo setor privado, decorrentes das atividades induzidas por empréstimos do BNDES.

É preciso analisar mais de perto os números segundo os quais o impacto fiscal da TJLP-BNDES teria alcançado a cifra de R$ 284,7 bilhões entre os anos de 2007 e 2016 (voto do relator da MP 777 ).

Em primeiro lugar, a análise dos custos é superestimada. Não faz sentido calcular o subsídio associado ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), uma vez que os recursos repassados ao BNDES foram criados para financiá-lo.

O total pago pelo banco à União, a título de dividendos e impostos, de 2007 a 2016, correspondeu a R$ 153 bilhões.

Apenas essas duas considerações contábeis -retirar o “custo fiscal” do FAT (R$ 82,4 bilhões) e incluir os benefícios na forma de dividendos e tributos pagos pelo BNDES- implicam reduzir o custo fiscal líquido de R$ 284,7 bilhões para R$ 49,2 bilhões.

Se adicionarmos a análise do volume dos impostos pagos pelo setor privado, verifica-se que o sistema não gera custo, mas um benefício fiscal.

O cálculo é simples e considera, conservadoramente, apenas os desembolsos do BNDES destinados ao financiamento da Formação Bruta de Capital Fixo (investimento produtivo) e que, para cada R$ 1 de desembolso para investimento, menos de R$ 0,25 não ocorreriam sem o apoio do banco.

Sob essas hipóteses, o impacto do BNDES, apenas sobre a arrecadação de impostos do setor privado fornecedor de bens e serviços voltados para atender o investimento, atinge cerca de R$ 69,8 bilhões. Incluindo o valor encontrado no balanço, chegamos a um benefício fiscal líquido de R$ 20,6 bilhões.

Finalmente, pode-se mostrar que mesmo que admitíssemos que os “custos fiscais” do FAT fossem considerados, bastaria um multiplicador do gasto autônomo de 0,64 (valor ridiculamente baixo em face dos usuais 1,3 ou 1,5) para que o custo fiscal líquido fosse nulo.

O arranjo TJLP-BNDES está longe de ser um fardo fiscal para o país. Sendo assim, desmorona-se o principal argumento em defesa da MP 777. Procura-se, oportunisticamente, angariar apoio à medida provisória com base na narrativa de que vivemos uma crise derivada dos excessos dos gastos públicos.

Além disso, o tema ganhou o papel de fundamento para a urgência e relevância da MP. Isso ajuda a entender a relutância em considerar mesmo a mais elementar medida de benefício fiscal do BNDES.

O que resta de válido na MP 777 se seu fundamento fiscal é uma falácia ideologicamente motivada ou uma tentativa deliberada de manipulação do Congresso?

ARTHUR KOBLITZ, doutor em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é vice-presidente da Associação dos Funcionários do BNDES

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

View Comments

  • Subsídio

    À margem do texto. Por falar em subsídio, é um desalento ver, ouvir os jornalistas da tevê pronunciarem subsídio como  "subiZídio". Sempre. Todos muito cultos, professorais, mas cheios de subiZídios. Dá um "Sumbido" nas ouças.

  • A cortina do Economês.

    A linguagem do doutor poderia ser mais acessível. Quanto a conta perdi algum valor. Senão vejamos:

     

    A - "o impacto fiscal da TJLP-BNDES teria alcançado a cifra de R$ 284,7 bilhões entre os anos de 2007 e 2016"

    R$ 284,7 bi. Dedita!

    B - "O total pago pelo banco à União, a título de dividendos e impostos, de 2007 a 2016, correspondeu a R$ 153 bilhões."

    R$ 153 bilhões. Credita!

    D - "Apenas essas duas considerações contábeis -retirar o C-"custo fiscal" do FAT (R$ 82,4 bilhões) e incluir os benefícios na forma de dividendos e tributos pagos pelo BNDES- implicam reduzir o custo fiscal líquido de R$ 284,7 bilhões para R$ 49,2 bilhões."

    C-"custo fiscal" do FAT

    D =  A - B - C

    D = 284,7 - 153 - 82,4

    D = 49,3bi (Custo Fiscal Líquido)

     

    Linguagem e cálculos truncados para não economistas e contadores.

Recent Posts

Deputadas de direita querem impedir fiscalização da Lei da Igualdade Salarial

Filiadas ao PL, União Brasil, Cidadania e ao Novo apresentaram proposta na Câmara Federal

13 horas ago

CNU: tire suas dúvidas sobre o adiamento do concurso

Fortes chuvas no sul levaram governo a adiar aplicação das provas em todo país

13 horas ago

Cozinhas solidárias distribuem marmitas aos atingidos pelas enchentes no RS; veja como colaborar

Distribuição começou nesta sexta-feira (3) e deve seguir durante o final de semana; movimentos pedem…

15 horas ago

Hamas chega ao Egito e acordo de cessar-fogo pode ser divulgado em breve, diz mídia árabe

Jornais árabes afirmaram o Hamas teria aprovado a implementação da primeira fase do acordo, que…

15 horas ago

SP: agora, até as águas correm para trás, por Rita Casaro

Empresa-símbolo da engenharia brasileira está à beira de privatização predatória e ilegal, que afetará serviços…

16 horas ago

Em apenas 24 horas, Brasil registra mais 35 mil casos prováveis de dengue

O número de mortes confirmadas pela doença nos primeiros meses deste ano chegou a 2.197

16 horas ago