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A sociabildiade artificial das cidades

Acrescento algumas coisas na discussão.

Os que vivem ao meu redor reclamam que eu sou muito “anti-social” (e de fato sou, não sou lá grande fã da humanidade). Mas de vez em quando eu até tento fazer alguma interação social como ir à uma casa de shows (popularmente conhecido como “ir para a balada”).

Só que não há como desligar o meu lado “cientista louco”, e nestas idas e vindas notei algumas coisas que são dignas de nota, diante da estranheza.

Ir â um “barzinho” por exemplo, estes ditos “atuais” onde encontram-se as pessoas com idade entre 18 e 30 anos. Eu presumia que o objetivo de tais lugares era servir como ponto de encontro, para conversar com outras pessoas, para encontrar um par ou para dançar.

Só que geralmente a música é tão alta que conversar com quem está imediatamente do seu lado é um desafio, chamar alguém que esteja à mais do que meio metro de distância então é impossível. Se isso não fosse o bastante, tais lugares costumam ter mais gente do que o espaço comportaria e costumam ter menos luz do que deveriam, o que combinado com o som ensurdecedor faz o objetivo de achar um par ser outro desafio. Dançar então é impossível, dado que o espaço geralmente não permite (falo dançar de verdade, não ficar apenas “sacudindo o corpo” no mesmo lugar) e a música geralmente é mal escolhida, executada de forma medíocre (o “tuch tuch” é tão alto que não dá de ouvir o resto da música) ou “remixada”.

MoraMoral da história? A tão falada “diversão” é ficar no mesmo lugar fingindo que está dançando, fingindo que está ouvindo a música e “enchendo a cara”. Mas isso para um “barzinho”.

Outra experiência foi participar de uma “rave” (show de música eletrônica ao ar livre, de grande porte) ao ar livre, objetivo smilar ao do barzinho na teoria só que com mais espaço e mais gente. Resultados similares ao do barzinho, só que agora tendo uma estrutura de suporte ao evento bem pior (andar na lama por ser ao ar livre, pouca ou nenhuma proteção contra chuva, etc) e com uma “música” que sinceramente não passa de uma afronta aos ouvidos, “dj’s” em uma mesa fingindo que conseguem fazer música. (e com o mesmo defeito de colocar graves em volumes absurdamentente maiores do que todo o resto da música). E com um detalhe importante, o mesmo problema de “sacudir o corpo no mesmo lugar” sendo considerado como “dança”.

Em compensação, a “rave” dá mais opções de socialização dado que é possível manter uma distância da fonte do som de forma tal que conversar se torna possível, mas aí que notei outro fato intrigante: Os participantes EVITAM se aproximar dos outros. Vê-se a formação de pequenos grupos onde se descobre que todos já são conhecidos entre si, a tentativa de um estranho ao grupo se aproximar é quase sempre vista com receio/hostilidade. Esqueçam procurar um par, portanto, exceto se você for um galã de novela ou modelo/atriz de cinema.

Já restaurantes são terrítórios onde socialização (entre estranhos devo frisar) é praticamente considerado tabu pelo que observo, sendo grande por exemplo o número de pessoas que almoçam sozinhas em mesas projetadas para quatro ou mais pessoas. E o detalhe mais pertinente, DIFICILMENTE uma pessoa senta em uma mesa onde já tenha um desconhecido, mesmo que o desconhecido seja a única pessoa sentada na mesa em questão. E já vi  vários casos em que o que estava sentado se levanta e vai procurar outro lugar se o “invasor” decide sentar-se à mesma mesa. Considero esse um dos melhores exemplos do individualismo cada vez maior que ocorre na nossa sociedade.

Parques têm situação similiar à dos restaurantes, observo que qualquer um que se aproxime de uma pessoa desconhecida já causa no mínimo uma reação de “intimidada” ou de incômodo na outra pessoa, como se fosse impossível a outra pessoa querer algo que não fosse agredir ou prejudicar de alguma forma.

 

Resumindo, noto alguns padrões de comportamento recorrentes:

O primeiro é que há uma grande massa de pessoas que faz as coisas de forma “automatizada” segundo um padrão externo, fazendo coisas como por exemplo querer “azaração” em um lugar que é claramente impossível fazer isso, mas é o que a sociedade (revistas, amigos, meios de comunicação, etc) diz ser a “forma correta” e portanto é o que a massa faz sem questionar-se.

O segundo é o fato de que cada vez mais o “outro” é visto como um agressor ao invés de apenas mais uma pessoa, como se os outros só pudessem querer tirar vantagem ao invés de querer apenas interagir.

E o terceiro é que cada vez menos é dada importância para o “outro”, este deixando de ser outro ser humano para se tornar um “objeto” quando não é considerado um agressor.

E deduzo também as causas para alguns desses comportamentos. A principal é que infelizmente o brasileiro é sim um sujeitinho vira-lata, quase sempre visando tirar vantagem encima dos outros. Aí como  a maioria das interações se torna uma questão de levar vantagem ou ser prejudicado, as pessoas acabam tornando isso no padrão do que esperar ao se deparar com um desconhecido.

E noto que a nossa sociedade também é consideravelmente violenta, pois geralmente a interação entre dois estranhos acaba em alguma forma de violência (verbal, física, etc). E frisando que violência neste caso envolve desde agredir o outro com um soco até o olhar de desprezo sobre o que acha ser “inferior”.

E sinceramente não vejo como corrigir isso, a tendência é só piorar. Que não dá de obrigar por decreto as pessoas à pelo menos se respeitarem.

Luis Nassif

Luis Nassif

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