Depois da comoção, o grande desafio é lidar com desalojados, dizem especialistas – do UOL
Características geomorfológicas
Para além das condições meteorológicas, não é possível apenas explicar a tragédia pelo viés da ocupação irregular de encostas. Para o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Sérgio Magalhães, a tragédia não se deve somente à ocupação indevida.
“Não é só a ocupação irregular. Tem o caso do Vale do Cuiabá, em Petrópolis, que não é ocupação irregular e o centro principal de Friburgo, que também não é. As condições geológicas que formam toda aquela região têm razão mais precisa. Tem uma dose de características geomorfológicas”, explica Magalhães.
Para o presidente do IAB, mesmo se não houvesse ocupação irregular, algumas encostas desmoronariam de qualquer jeito numa situação de grande chuva, mas em menor magnitude. “Se houvesse uma consciência de um monitoramento das comunidades e avaliação de riscos geológicos, o número de vítimais seria menor. É um processo histórico em que a ocupação irregular não é a razão exclusiva, e ninguém tem a capacidade de prever o que vai se desenvolver lá”, ressaltou.
Magalhães concorda com Ribeiro ao destacar que existem outros motivos que devem ser considerados como a necessidade de haver um reconhecimento do ponto de vista geológico para minimizar os riscos da cada um dos locais vulneráveis. Falta nas cidades do interior do Estado do Rio um instituto de geotecnia nos moldes da Geo-Rio, que existe na capital, para monitorar as áreas e investir em contenção de encostas. “O governo do estado não tem um instituto de geotecnia. Falta que isso aconteça nos demais municípios”, salientou Magalhães ao defender uma “reação positiva” com direcionamento de recursos para compensar e mitigar os danos, além de instrumentos tecnológicos e de comunicação para avisar a população que está em condição de risco.
Remoção forçada
Os especialistas veem com cautela a polêmica de remoção forçada de moradores das áreas de risco. “Não é achar que remover vai resolver o problema. Há casos de ocupação de casas de classe alta que também sofreram e não havia informação se naquele local seria perigoso. É um assunto complexo para ter uma só resposta. É preciso haver estudos técnicos de órgãos competentes, o que nem existe”, opina o presidente do IAB.
O sociólogo Luiz César vê a necessidade urgente de se ter um plano de mudança das pessoas que estão em áreas de risco, “mas também que respeite essas pessoas”. Para o coordenador do Observatório das Metrópoles, “não é simplesmente retirar a pessoa e desorganizar a sua vida, falta um plano corajoso de indenizaçao e dar outra opção que não seja de maneira autoritária”, enfatiza.
Essa situação poderia ser mitigada com investimentos do poder público em obras de infraestrutura, como contenções, sistemas eficientes de coleta de água de chuva, além de um maior controle da ocupação do solo urbano, defende também arquiteta urbanista funcionária da Universidade Federal Fluminense, Milena Sampaio da Costa.
A arquiteta, de 27 anos, também viveu momentos de tensão esta semana mesmo morando distante da tragédia em Niterói. Parte de sua família é de Friburgo e, como toda a cidade, ficou ilhada sem comunicação.
“Foi muito inesperado apesar de saber que as chuvas de verão são sempre fortes e causam estragos, principalmente na região serrana que são cidades construídas em encostas. Fiquei surpresa quando soube que tinha sido com tanta intensidade a chuva”, conta Milena.
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