Apostar na sustentabilidade para superar desigualdades e desequilíbrios
Foto: Arquivos Wikipedia
Jornal GGN – Minas Gerais precisa de grandes transformações econômicas e sociais para voltar a crescer num ritmo mais acelerado. Para isso, serão necessárias mudanças que surjam da mobilização social e política, com a valorização dos indicadores de capitais intangíveis – humano, social e cívico –, para vencer desigualdades regionais e o desequilíbrio interestadual.
Esse é um momento importante para que se faça esse diagnóstico, avalia o economista Paulo Roberto Haddad, ex-ministro do Planejamento e da Fazenda do governo Itamar Franco e um dos fundadores do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), do qual foi diretor de 1968 a 1973.
Atualmente, ele enxerga no crescimento endógeno – a partir das riquezas locais – a necessidade de valorizar o desenvolvimento sustentável. “É preciso romper com a lentidão que se observa na economia mineira há 40 anos e ter em mente que o meio ambiente é o invólucro da economia”, afirma.
Assim, devem ser observadas regras de sustentabilidade, como reabilitar áreas ambientais degradadas, anteriormente exploradas por atividades econômicas. Ao mesmo tempo, no planejamento endógeno, as inovações tecnológicas devem estar voltadas ao desenvolvimento econômico, no sentido do aumento da produtividade do trabalho e dos recursos naturais.
Como Paulo Haddad acredita que o desenvolvimento de Minas Gerais pode ser mais rápido diante das potencialidades que já existem no estado e de sua força de trabalho, alguns aspectos e situações que permeiam instituições e empresas precisam e podem ser mudadas.
Dentre elas, ele observa setores sem lideranças; agrupamento de empresas do mesmo setor que não compartilham etapas da cadeia de valor da indústria; produtos sem diferenciação ou vantagem competitiva; empresas verticalizadas e oligopólios regionais cartelizados.
No lugar desses quadros ultrapassados, novos perfis produtivos devem ser estimulados, como “empresas e instituições que interajam entre si para gerar e capturar sinergias com potencial de atingir crescimento contínuo superior a uma simples aglomeração econômica, geograficamente próxima e pertencente a um setor econômico”.
Nesse novo patamar de gestão, benefícios potenciais estarão na maior atração de capital, aumento do dinamismo empresarial; redução do lead time – tempo para um produto percorrer todas as etapas de um processo ou fluxo de valor; redução de custos e riscos; mais qualidade e flexibilidade da mão de obra, com aumento da qualidade de vida da região.
O desenvolvimento endógeno proposto por Haddad pressupõe preocupação constante com a redução da desigualdade social. “Quando não se equaciona essa questão ocorrem problemas que emperram o desenvolvimento econômico”. No caso específico de Minas, há a dualidade espacial, com regiões economicamente deprimidas e outras prósperas.
Em retrospectiva histórica, indicadores econômicos apontam que a economia mineira cresceu 10% ao ano na década de 1970-1980, enquanto o Brasil cresceu abaixo disso, a 7,8% ao ano no mesmo período. Esse foi um movimento contrário ao anterior, da década de 1960, quando o estado em situação precária levou à migração de mais de 17% de sua mão de obra em busca de emprego e renda, em todos os segmentos sociais. “Foi uma saída expressiva de capital humano, inclusive de jornalistas, como Carlos Drummond de Andrade”, destaca.
De 1980 a 1990, a taxa anual de crescimento do PIB de Minas Gerais foi negativa em -0,1% ao ano, a chamada década perdida. De 1991 a 2000, foram modestos 0,3% ao ano e de 2001 a 2010, crescimento de 3,7% ao ano. Mas nos últimos quatro anos, esse percentual voltou a desacelerar.
Paulo Haddad lembra que houve também um importante período da industrialização em Minas, quando Juscelino Kubitschek (JK) era governador do estado (1951-1955), quando ocorreu “uma revolução científica e tecnológica em Minas”, inclusive com a criação da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), em 1952, para suficiência de energia de qualidade a fim de alavancar o desenvolvimento.
O processo de desenvolvimento pressupõe uma fase de diagnóstico para identificar deficiências, potencialidades não mobilizadas e problemas socioeconômicos que geraram inconformismo social. Nesse contexto, ele propõe uma “diagnose participativa”, por meio de informações técnicas e fóruns de debates, com uma agenda de mudanças que inclua instrumentos de trabalho e recursos disponíveis, com consultas às lideranças.
Na sequência das sugestões, o ex-ministro propõe elaboração de um Plano de Mudanças para um projeto capaz de orientar pela consistência técnica e por um amplo processo de negociação. Para que seja implantado vai requerer um sistema de indicadores de processos e resultados e, ao mesmo tempo, mecanismo de controle e avaliação.
*Apresentação de Paulo Roberto Haddad realizada no Seminário Minas e seus caminhos, promovido pelo BDMG Cultural, com curadoria do historiador Caio Boschi, em Belo Horizonte, maio de 2018, em comemoração aos 30 anos da entidade vinculada ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

 

Redação

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