Bancos europeus entre a numismática e a reserva de valores

Do The Wall Street Journal

Bancos se preparam para negociar antigas moedas europeias


European Pressphoto Agency: Moedas da dracma grega, que foram substituídas pelo euro em 2002

Com a intensificação da crise da dívida da zona do euro nos últimos meses, pelo menos dois bancos multinacionais tomaram medidas para instalar sistemas eletrônicos de reserva capazes de lidar com as antigas moedas europeias, como a dracma grega, o escudo português e a lira italiana.

Mas fazer isso, como os bancos logo descobriram, não é tão fácil em um mundo financeiro que está tentando, ao mesmo tempo, mostrar confiança no debilitado euro e — por precaução — fazer planos para o possível desaparecimento da moeda comum.

Executivos de tecnologia nesses bancos contataram a Swift, cooperativa sediada na Bélgica que administra a rede utilizada nas transações financeiras internacionais, disseram pessoas a par do assunto. Os bancos queriam o apoio tecnológico da Swift e os códigos das várias moedas que seriam necessários para criar sistemas de becape.

Mas a Swift se recusou a dar algumas informações para esses planos e não revelou se os antigos códigos poderiam ser usados no sistema, disseram as pessoas a par do assunto.

Isso ocorre, em parte, porque os diretores da cooperativa temiam que divulgar as informações poderia alimentar mais dúvidas e instabilidade na zona do euro, segundo essas pessoas.

É um revés relativamente pequeno para os bancos, que agora estudam as mais diversas possibilidades, desde contratos de empréstimos até a segurança dos funcionários de suas filiais, caso algum país decida se retirar do euro.

Mas é um exemplo dos obstáculos que os políticos, bancos e empresas europeias têm que enfrentar à medida que tentam se preparar para uma quebra da zona euro e, ao mesmo tempo, aplacar os temores do mercado.

“Assim que você começa a planejar para essa eventualidade […] isso pode gerar conclusões precipitadas”, disse Alastair Newton, analista político sênior da Nomura PLC. “Mas se as coisas derem errado e você não tiver um plano de contingência pronto, você estará em apuros.”

O planejamento ocorre em um momento em que a ideia de uma ruptura da zona do euro ainda é mal vista por muitos.

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, disse recentemente que essas especulações sobre o fim do euro são “mórbidas”.

Mas tanto governos como empresas e firmas financeiras vêm intensificando discretamente seus planos, nas últimas semanas, para se preparar para a pior das hipóteses.

A Autoridade dos Serviços Financeiros britânica, agência de fiscalização dos bancos do Reino Unido, enviou cartas aos principais bancos do país pedindo informações atualizadas sobre seu nível de preparação. Um diálogo semelhante já foi iniciado entre os bancos e as agências reguladoras nos Estados Unidos nas últimas semanas, disseram pessoas a par do assunto.

O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido já começou a fazer planos de contingência para evacuar cidadãos britânicos da Espanha e Portugal, caso haja um colapso bancário nesses países, disse uma pessoa a par do assunto. Mostrando preocupação em não causar pânico, um porta-voz não quis dar nenhum detalhe, dizendo apenas que o Ministério está sempre se preparando para todo tipo de eventualidade.

Em outro sinal dos temores crescentes, algumas multinacionais com atividades na Grécia e em outros países no sul da Europa começaram a tirar seu dinheiro da Grécia quase diariamente — em comparação com o intervalo normal de duas semanas —, como precaução contra uma súbita desvalorização caso alguma moeda seja ressuscitada, disse um banqueiro a par das atividades das empresas.

Preparar seus sistemas para lidar com as antigas moedas europeias é uma das medidas que os bancos estão tomando para se proteger contra grandes interrupções em suas atividades, caso algum país saia de repente da zona do euro.

As moedas têm códigos de três letras — tais como USD para o dólar americano — que os bancos usam em uma ampla gama de transações financeiras, de operações complexas feitas por bancos de investimentos até básicas transferências de recursos. Os códigos são determinados pela Organização Internacional para Padronização, com sede em Genebra, e usados pela Swift, cooperativa que formata e manda as ordens de pagamentos para cerca de 10.000 instituições em mais de 200 países.

Uma dúvida que os bancos têm, e que até agora não conseguiram esclarecer, é se os códigos que deixaram de ser usados, como GRD para a dracma grega, valerão no sistema atual da Swift.

Um porta-voz da Swift disse que a empresa está preparada para tomar quaisquer medidas necessárias para manter as operações normais, mas que “não é apropriado neste momento que a Swift comente sobre questões especificamente associadas à zona do euro”.

Se uma nova moeda surge, ela fica a cargo da agência de manutenção afiliada à Organização Internacional para Padronização. Um porta-voz dessa agência, a SIX Interbank Clearing Ltd., disse que o grupo tem vários projetos para “cenários calamitosos”, mas que os planos de contingência para tais situações até o momento são sigilosos.

Uma vez que um banco saiba qual é o código, será relativamente simples criar um programa para aquela nova moeda, de acordo com especialistas em tecnologia. O banco precisará, então, ajustar sua infraestrutura para o volume esperado e garantir que os dados relativos aos bancos correspondentes estejam corretos. O sistemas precisarão, então, ser modificados e testados, disse um executivo do setor de tecnologia de um banco em Londres, um processo que leva de uma a duas semanas.

Luis Nassif

Luis Nassif

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