Primavera sul-americana na Bolívia, por Luis Piemonte

Primavera sul-americana na Bolívia

por Luis Piemonte

Apesar do respeito à democracia não ser historicamente uma prática respeitada na Bolívia, tudo indica que desta vez parece ser diferente. Após o golpe contra o presidente Evo Morales, em 2019, quando ele tentava o quarto mandato consecutivo – um problema bastante comum entre mandatários populistas, como acontece atualmente na Venezuela –, se instalou um governo de direita.

A despeito de críticas, o período de três mandatos de Morales foi de forte crescimento e distribuição de renda, diminuindo as desigualdades tradicionais nesse país. A economia liderada pelo novo presidente  Luis Arce, que foi ministro de Morales durante todos os mandatos, mostrou o acerto de sua política, uma conquista que o povo parece não ter esquecido, visto o crescimento econômico superior apresentado nesse período se comparado aos governos anteriores.

A Bolívia não é um país potencialmente pobre, como muitos pensam. No entanto, as riquezas lá existentes nunca foram bem exploradas. Além de diversos minerais (quarto maior exportador de estanho), possui as maiores reservas de lítio no mundo, chamado atualmente de “ouro branco” por ser uma matéria-prima importantíssima para fabricação de baterias para aparelhos elétricos, incluindo a dos carros.

O novo presidente eleito se diferencia dos líderes tradicionais, principalmente os da esquerda, ao reconhecer seus erros. Vale lembrar que ele recomendou que Morales não tentasse o quarto mandato consecutivo, mostrando-se sempre extremamente ponderado e educado.  Acre é um político com bom trânsito na economia mundial e com boas relações com países parceiros. Contudo, terá enormes desafios pela frente para tentar “reparar” os estragos decorrente do golpe no país e os efeitos da pandemia, que devolveram a pobreza para milhares de cidadãos que tinham saído dela nos últimos anos.

Novos ares

As tendências políticas que se detectam cada vez mais claras nos últimos anos, mostram que as sociedades de vários países parecem iniciar uma mudança de orientação, percebendo como os índices de desigualdade crescem quando os governos aderem à extrema direita e ao liberalismo excessivo, desprezando os cuidados sociais. A sequência de mudanças para governos mais comprometidos com a área social começou em 2018 com a Espanha e México. Em 2019 a mudança aconteceu na Argentina. E continuou na França, este ano, com o partido verde assumindo as principais prefeituras das maiores cidades francesas. Para 2021 se esperam resultados semelhantes nas eleições no Chile e na Colômbia, onde os governos de extrema direita são atualmente bastante repudiados.

Caso aconteça ainda uma mudança nos Estados Unidos, este processo será acelerado. Seria muito positivo que as brisas desta primavera tragam ares mais frescos. Também temos de torcer que os novos governantes de espírito mais voltado para o social, tenham aprendido com os erros dos seus antecessores e correspondam melhor as expectativas criadas.

 Luis Piemonte é autor do livro “É possível construir uma sociedade mais justa”, obra em que analisa o comportamento e o modelo de desenvolvimento econômico de três sociedades que conheceu profundamente: Argentina, Alemanha e Brasil. Dentro de uma carreira de quase 50 anos como executivo de multinacionais nas áreas de melhorias de desempenho e produtividade, além de vinte anos como professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Piemonte tem pesquisado nesse período todo questões sociais que lhe dão base para debater e analisar a sociedade atual em que vivemos.

Redação

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