Grupo da Receita hoje sob mira tinha relação com a Lava Jato

Jornal GGN – A recente Operação Armadeira da Polícia Federal contra servidores da Receita, acusados de extorquir dinheiro de investigados da Lava Jato, guarda um conflito de interesses da força-tarefa da Lava Jato, em busca de recuperar credibilidade. Reportagens e documentos revelam que o grupo da Receita, hoje sob a mira de mandados de prisão, tinha relação direta com a Operação Lava Jato, ao contrário do que sustenta a força-tarefa do Rio.

Treze pessoas foram alvos da Operação, deflagrada nesta quarta-feira (02), sendo 11 delas alvos de mandados de prisão autorizados pelo juiz Marcelo Bretas, da Justiça Federal do Rio de Janeiro, acusados de participar de esquema de extorsão dentro da Receita contra investigados da força-tarefa da Lava Jato fluminense.

O auditor Marco Aurelio Canal, supervisor de Programação da Receita da Lava Jato no Rio, foi acusado de ser o chefe do esquema, e foi um dos presos desta quarta. Canal foi apontado em fevereiro deste ano por receber o dossiê sobre o ministro Gilmar Mendes e outros 134 agentes públicos, e foi mencionado pelo próprio ministro que sugeriu que a  Lava Jato era quem coordenava essa busca de informações da Receita.

“Tenho curiosidade de saber quem mandou a Receita fazer [a investigação]. O que se sabe é que quem coordenou essa operação é um sujeito de nome Marco Aurélio da Silva Canal, chefe de programação da Lava Jato do Rio de Janeiro. Portanto, isso explica um pouco esse tipo de operação e o baixo nível. Às vezes, querem atingir fazendo esse tipo de coisa. Estão incomodados com o quê? Com algum habeas corpus que eu tenha concedido na Lava Jato?”, havia dito Gilmar, à época, em entrevista à GloboNews.

Com a prisão de Canal, o procurador Almir Sanches cobrou do ministro uma “retratação”, após “as diversas insinuações” de que a Lava Jato teria ordenado esta busca envolvendo o ministro e outras autoridades dentro da Receita.

O que os procuradores informam hoje é que a investigação já existia desde o ano passado: “As autoridades que fizeram essas ilações, que nós julgamos bastante descabidas, não tinham como saber que a investigação estava em curso. Mas também não tinham por que supor que membros do Ministério Público, do Judiciário ou da polícia estavam envolvidos com isso. Agora há um novo fato. Espera-se alguma retratação de acusações graves que foram feitas”, disse Sanches à reportagem da Folha de S.Paulo.

Por outro lado, o blog Reinaldo Azevedo defende que “há antecedentes preocupantes” no caso da Receita, uma vez que revelações do The Intercept Brasil, há dois meses, davam conta de que o procurador da Lava Jato de Curitiba, Deltan Dallagnol, tinha uma parceria dentro da Receita com o propósito específico de investigar alguns alvos, entre eles Gilmar Mendes e Dias Toffoli, como havia sugerido o próprio ministro.

Assim pontuava reportagem da Folha, no dia 1o de agosto: “Deltan, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, buscou informações sobre as finanças pessoais de Toffoli e sua mulher e evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras. (…) As mensagens examinadas pela Folha e pelo Intercept mostram que Deltan (…) estimulou uma ofensiva contra Toffoli e sugerem que ele também recorreu à Receita Federal para levantar informações sobre o escritório de advocacia da mulher do ministro, Roberta Rangel.”

Azevedo indica, também, que o auditor da Receita Marco Aurélio Canal, um dos presos hoje pela Lava Jato fluminense, não somente era o responsável pela equipe de programação da Lava Jato, em cargo que os procuradores apontam não guardar relação direta com a Operação, mas também da Calicute, um dos braços da Lava Jato no Rio.

Também contrariando a informação dada pela força-tarefa do Rio, por meio do procurador Almir Sanches, reportagem de fevereiro deste ano do Consultor Jurídico revelava que o setor do qual Canal era responsável e supervisor tinha ligação direta com a Lava Jato, com a remessa de documentos e apurações para os procuradores nos casos suspeitos.

“Documentos obtidos pela Procuradoria-Geral da República a que a ConJur teve acesso mostram que, pelo menos desde agosto de 2018, existe um canal de envio de relatórios entre a chamada ‘equipe especial de fraudes’ e a operação ‘lava jato’. Extrato datado de 6 de agosto de 2018 comprova que relatórios produzidos pela equipe em meio a investigações secretas foram enviados à operação Calicute, braço da ‘lava jato’ no Rio de Janeiro”, apontou o jornal.

Continuava a reportagem: “Quem recebeu os relatórios foi o auditor fiscal Marco Aurélio Canal, supervisor nacional da equipe de programação da Receita na ‘lava jato’. O carimbo do envio é mais um indício de que as investigações secretas tocadas pela Receita, reveladas pela ConJur no início do mês, não servem apenas à fiscalização tributária. Servem também para alimentar inquéritos contra os alvos da autoproclamada força-tarefa da ‘lava jato’, que reúne juízes federais, procuradores da República, policiais federais e auditores fiscais.”

 

Redação

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  • Agora imagina quanto receberam os de SP e MG que vem há anos engavetando tudo o que há, envolvendo os afiliados do golpe em especial os políticos do partido da ave bicuda, empresários e mídias associados.

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