Meio Ambiente

Amazônia é agora a “fossa” de poluição no mundo, diz Washington Post

Do Washington Post

A floresta amazônica é a fossa de carbono do mundo. Partes dela agora liberam mais carbono do que pode ser absorvido.

Por Rachel Pannett

A Amazônia está emitindo mais carbono do que pode absorver, o que os cientistas dizem ser um sinal novo e perturbador de que a Terra pode estar chegando a um ponto crítico com a mudança climática.

Um estudo publicado recentemente na revista Nature sugere que o fogo e o desmatamento, junto com temperaturas mais quentes e condições marcadamente mais secas, significam que a maior floresta tropical do mundo está gradualmente perdendo sua capacidade de ser um sumidouro de carbono.

O impacto das mudanças na Amazônia vai muito além da América do Sul. Por gerações, a floresta tropical armazenou uma imensa quantidade de carbono em seu solo e árvores enormes, desempenhando um papel importante na manutenção da estabilidade do meio ambiente global.

“Quando este estudo mostra que o balanço de uma área considerada como o escoador de carbono é, na verdade, uma fonte de 0,3 bilhão de toneladas de carbono por ano, soa o alarme”, disse Lucas Domingues, um cientista ambiental e um dos co-autores do artigo.

“Precisamos repensar as estratégias globais de combate às mudanças climáticas, acelerando as ações de forma efetiva”, acrescentou o pesquisador, atualmente membro do instituto GNS Science da Nova Zelândia.

Ao longo de quase uma década, os pesquisadores usaram pequenos aviões para coletar centenas de amostras de ar a até 14.800 pés acima do nível do mar. Eles descobriram que não apenas as emissões de carbono eram maiores na parte oriental da Amazônia do que no oeste, mas que a área sudeste – um ponto quente de desmatamento – agora está agindo como uma fonte de emissões de carbono para a atmosfera, em vez de uma fonte de absorção de carbono.

As áreas com maiores níveis de desmatamento foram responsáveis ​​pela emissão de carbono 10 vezes maior do que as áreas preservadas, disse Domingues.

Nos últimos anos, a combinação de temperaturas crescentes, incêndios florestais paralisantes e desmatamento contínuo para pecuária e plantações estenderam as estações secas, mataram a vegetação sensível à água e criaram condições para mais incêndios.

O número de incêndios na Amazônia em 2020 excedeu o total do ano anterior, quando a floresta úmida em chamas dominou as notícias por semanas e inspirou apelos globais para ações emergenciais. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Amazônia perdeu o equivalente a dois Delawares de floresta, o The Washington Post relatou anteriormente.

Acadêmicos e ativistas ambientais alertaram que se Jair Bolsonaro, um populista de direita com laços estreitos com o agronegócio, permanecer como presidente do Brasil, a floresta amazônica entrará em colapso.

“O pior pesadelo dos climatologistas parece já estar se confirmando”, tuitou a rede de ativistas do Observatório Brasileiro do Clima em resposta ao último estudo.

O Ministério da Defesa do Brasil descreveu as ações do governo – enviar militares para a Amazônia para combater incêndios, emitir multas e fazer prisões – como “sem precedentes” e saudou seus resultados como “impressionantes”.

A revelação de que partes da Amazônia estão se tornando uma fonte de emissões não é nova. Mas estudos anteriores foram realizados com dados de satélite, que podem ser afetados pela cobertura de nuvens, e medições do solo de árvores em uma área menor. Este estudo é o primeiro a usar medições atmosféricas diretas abrangendo uma ampla região.

O mundo experimentou cerca de 1 grau Celsius, ou 1,8 grau Fahrenheit, de aquecimento desde o final do século 19, de acordo com a NASA, em grande parte por causa das emissões de gases de efeito estufa da atividade humana.

Se a Amazônia e as florestas boreais forem irreversivelmente danificadas, isso significaria que “perdemos o controle do clima”, disse David Bowman, professor de pirogeografia e ciência do fogo na Universidade da Tasmânia, na Austrália, que não fez parte do estudo. “Se [a mudança climática é] um reator nuclear, somos um pouco como o povo de Chernobyl, onde fazemos alguns testes de estresse que podem na verdade escapar do nosso controle. Esse é o problema.”

Luciana Gatti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil e principal autora do estudo, disse ao site de notícias de meio ambiente Mongabay: “Minha pergunta é, se pararmos agora com os incêndios e desmatamentos e iniciarmos o importantíssimo processo de reparação das florestas, poderíamos invertemos o quadro? Não sei.”

Chris Mooney, Brady Dennis, Terrence McCoy e Heloísa Traiano contribuíram para este relatório.

Redação

Redação

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  • Quando os EUA panejaram o golpe contra Dilma e a prisão de Lula eles não pensaram nisso?

    Acharam que qualquer um que entrasse manteria algum compromisso com o meio ambiente?

    Da próxima vez que tramarem seus golpes contra governos progressistas levem em consideração que são eles, os progressistas que mais tem compromissos com a preservação ambiental.

    Nessas hora os patrocinadores de golpes tão se lixando para essas questões. Paguem o preço.

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