Meio Ambiente

Planeta Terra quer diálogos, por Heraldo Campos

Planeta Terra quer diálogos

por Heraldo Campos

O Planeta Terra quer diálogos. Ele vive nos lembrando que, com relação a gestão dos recursos hídricos, por exemplo, sejam eles superficiais ou subterrâneos, o homem acaba por retirar mais água do que deve dos corpos d’água, causando desperdício e, não raras vezes, por desatenção e negligência com o meio ambiente e as fragilidades dos reservatórios de água que abastecem as populações, provoca contaminações muitas vezes irreversíveis.

De um modo geral, pode-se dizer que as águas superficiais, que ocorrem nos rios, lagos e represas a gente vê a olho nu quando estão contaminadas por esgoto urbano (é possível a sua identificação primária), ao passo que as águas subterrâneas, como estão escondidas sob nossos pés, nos reservatórios subterrâneos ou aquíferos, essa identificação é mais complicada e, geralmente, depende de amostragens das águas dos poços de captação para um diagnóstico mais apurado da contaminação, se ela estiver ocorrendo. Porém, tanto as águas superficiais, como as águas subterrâneas, que são abastecidas pelas águas das chuvas, estão sujeitas às mudanças climáticas que vêm alterando as quantidades das precipitações, para mais ou para menos, dependendo da região do planeta.

Nunca é demais lembrar que a importância dessas águas é essencial para a manutenção dos recursos hídricos para o suprimento de água para os seres vivos do planeta, ressaltando que o maior volume de água doce é a água subterrânea, totalizando cerca de 97% do volume disponível para o consumo humano; os outros 3% restantes é que estão distribuídos nos rios, lagos e represas. Uma água contaminada por esgoto doméstico pode provocar na população as moléstias de veiculação hídrica como amebíase, giardíase, gastroenterite, febre tifoide, hepatite, entre outras. O esgoto deve ser adequadamente tratado e a água distribuída para a população deve ser de boa qualidade e sempre sendo monitorada no que diz respeito aos seus aspectos de potabilidade.

Acrescenta-se que além da contaminação das águas e dos solos pelo lançamento de esgoto não tratado, o uso indiscriminado de agrotóxicos nos solos e o consequente carreamento desses produtos para os rios e aquíferos, como também do lançamento de rejeitos industriais, contribuem para o agravamento da situação dos recursos hídricos. Por isso entende-se que, pelas atividades envolvidas nessas ações, 100% estão relacionadas a atividade humana. Um exemplo disso são os nitratos presentes nas águas quando um corpo d’água, superficial ou subterrâneo, está recebendo descarga de esgoto de alguma fonte de contaminação, como é o caso da proximidade de fossas negras e dos solos sobrecarregados de fertilizantes agrícolas lançados para determinado tipo de agricultura.

As pesquisas mostram que o excesso do nitrato nas águas, que causam a metamoglobinemia (síndrome do bebê azul) e o câncer gástrico, devem ser evitados, com medidas de controle e monitoramento das águas captadas e distribuídas para a população, onde o nitrato deve estar dentro dos limites de potabilidade. Segundo a Portaria do Ministério da Saúde nº 2914 de 12/12/2011 o valor máximo permitido é de 10 mg/l e a precariedade construtiva dos poços, com ausência de tubo de boca com cimentação e tampa protetora, falta de laje de proteção e de perímetro de proteção sanitária, são as principais causas da contaminação dos aquíferos pelos nitratos.

Como no caso do Aquífero Guarani, que se estende por oito estados brasileiros, além de áreas na Argentina, Paraguai e Uruguai e sua água é, no geral, de boa qualidade, convém deixar aqui um alerta: esse mega-reservatório de águas subterrâneas é recarregado ao longo do tempo geológico pelas águas de chuvas que se infiltram nas suas camadas rochosas; períodos de secas prolongados podem afetar as reservas hídricas disponíveis desse aquífero. Por isso é que uma boa gestão desse importante recurso, no tocante aos volumes extraídos e o controle de sua qualidade, é imprescindível para o atendimento das necessidades atuais e das próximas gerações.

“A maioria das pessoas imagina que o mais importante no diálogo é a palavra. Engano: o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.”  (Nelson Rodrigues)

Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

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Redação

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