Memória

Um memorial para Elza e Mané Garrincha, por Luis Nassif

Nos anos 60, o Brasil acompanhava diariamente duas histórias de amor. Elizabeth Taylor e Richard Burton, e Elza Soares e Mané Garrincha. Mas com dois enfoques diferentes: enaltecia-se o casal Liz-Burton e se atacava Elza Sores, apresentada como oportunista, por ter se apaixonado pelo mais amado dos brasileiros da época.

A estrela de Mané começou a se apagar em 1966;  a de Elza não. E ela segurou as pontas na fase de decadência do ídolo. Especialmente depois que a ditadura os ameaçou, sua casa foi metralhada e ambos tiveram que fugir para a Itália. Na Itália, Elza fez bicos para sobreviver e teve que se mudar para Portugal, quando descobriram que não tinha autorização para trabalhar no país. E teve que apoiar o marido quando o Brasil se sagrou campeão do mundo, e Garrincha nem pode comemorar.

Até o fim de sua vida, Garrinha foi amparado por Elza. E a belíssima história de amor encerrou-se hoje, com Elza morrendo no mesmo dia da morte de Garrincha, em 1983.

Falta apenas um capítulo para o romance ter o fim adequado: encontrar o corpo de Garrincha para que seja enterrado, ao lado da amada, em um panteão para as grandes personalidades brasileiras do século 20.

O túmulo de Mané foi abandonado, depois que a família deixou de pagar em Magé, no Rio de Janeiro. Foi despejado, os ossos jogados em uma vala, com os restos mortais de outros familiares. Houve uma época em que um prefeito da cidade anunciou trabalhos para identificar os restos mortais. Mas ficou por isso mesmo.

Por isso, a maior homenagem que se poderia dar a Elza seria a identificação dos restos mortais de Mané Garrincha, e a união de ambos em um memorial em homenagem a dois dos grandes brasileiros da história.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Ah! você levantou a bola para os oportunistas.
    Amanhã anunciarão com pompas e fogos que não só acharam a ossada como já contrataram uma assessoria para transferí-la para o tumulo de Elza. e decretaram feriado municipal em Magé.
    Isso, se não informarem que a SAF Botafogo já está tomando as providências.

  • A maior homenagem que podem fazer para Elza Soares, é comentar sobre a vida dela, enaltecer a voz, a carreira da cantora e compartilhar seu trabalho e não encontrar a ossada do ex jogador. Parece-me que ela merece ser homenageada por si mesma e não por ter casado com Garrincha. Ficar aqui lembrando o trágico casamento que ela teve com ele, não é motivo de homenagem, menos ainda lembrar o quanto a sociedade brasileira fou e é machista que condenou a cantora, por ter ficado com ele. Na real, a cantora foi massacrada pelo jogador, que bateu nela e chegou a agredir um filho deles. Ou seja, quem merece homenagens agora é ela, como cantora, como sambista, como uma mulher adiante de seu tempo, isso é que merece ser homenageado. As ossadas do jogador , merecem ser encontradas, mas isso não é relevante nesse momento da morte da grande Elas Soares.

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