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A agressividade rude na Internet

Por Renata

Uma tradução livre de

http://online.wsj.com/article/SB10000872396390444592404578030351784405148.html#articleTabs%3Darticle, artigo do Wall Street Journal, de 01/10/2012

Por que somos tão agressivos e rudes na internet

A norte-americana Jennifer Bristol recentemente perdeu um dos seus amigos mais antigos – graças a uma discussão sobre cachorros da raça pit-bull no Facebook.

O problema começou quando ela publicou um artigo de jornal onde se afirmava que pitbulls foram considerados o tipo mais perigoso de cachorro na cidade de Nova York no ano passado. “Por favor, compartilhe suas opiniões… 833 incidentes com pitbulls”, escreveu Bristol, uma publicitária de 40 anos e ativista dos direitos animais de Manhattan.

Seus amigos, muitos dos quais também atuam no mundo dos direitos animais, rapidamente aderiram à discussão. Um deles observou que “pit bull” não é considerada uma raça oficial e única; outro disse que os donos e um mau adestramento são, em geral, os responsáveis pelos cães violentos. Outro comentou que, a bem da verdade, labradores pretos mordem mais que pitbulls.

Então, um colega de infância de Bristol comentou que “Sou médico em pronto-socorro e em 15 anos de atividade nunca vi um ataque de golden retriever que tenha levado a vítima à sala de cirurgia ou causado sua morte.”

Este comentário provocou um tumulto nas discussões. Um comentarista exigiu que o médico apresentasse um estudo científico que corroborasse suas afirmações. Outro o acusou de não ter investigado a fundo qual a raça que mordeu as vítimas atendidas. Outro chegou a sugerir que ele se aventurasse para fora dos limites do pronto socorro para ver o que estava de fato acontecendo.

“Foi ridículo”, afirmou Bristol, que permaneceu fora das discussões. Seu amigo de infância, o médico, removeu-a da sua lista de amigos na manhã seguinte. Isso foi há oito meses – e desde então, nunca mais se falaram.

Por que somos tão desagradáveis com os outros no ambiente online? Seja no Facebook, no Twitter, em grupos de discussão – nós dizemos aos outros coisas que jamais diríamos pessoalmente. À esta altura, já não deveríamos ser mais sábios?

O anonimato é uma força poderosa. Esconder-se atrás de um apelido falso faz com que nos sintamos invencíveis e invisíveis. Não importa que em muitos ambientes não estamos tão anônimos quanto pensamos – não importa que não sejamos nada anônimos no Facebook. Mesmo quando estamos sob nossas identidades verdadeiras, nós nos comportamos mal.

De acordo com um estudo prestes a ser publicado, realizado por pesquisadores das Universidades de Columbia e de Pittsburgh, navegar pelo Facebook diminui nosso autocontrole. O efeito é mais pronunciado em aqueles internautas cuja rede do Facebook é composta por amigos mais próximos, dizem os pesquisadores.

Em nossa maioria, apresentamos uma imagem melhorada de nós mesmos no Facebook. Esta imagem positiva – e todo encorajamento que recebemos, na forma de “curtidas” – eleva nossa autoestima. E quando nós estamos com o ego inflado, nós tendemos a ter baixo autocontrole.

“Pense nisso como uma espécie de licença: você se sente bem a respeito de si mesmo, então você se sente no direito de tudo”, afirma Key Wilcox, professor assistente de marketing na Faculdade de Administração da Universidade de Columbia e co-autor do estudo. “E você quer proteger esta imagem melhorada, o que pode explicar por quê as pessoas reagem tão negativa e fortemente contra aqueles que não compartilham suas opiniões”. Estes tipos de comportamento de baixo autocontrole e ego inflado “aparecem frequentemente também em pessoas embriagadas, sob o efeito de bebidas alcoólicas”, completa Wilcox.

Os pesquisadores conduziram uma série de 5 estudos. Em um deles, perguntaram a 541 usuários do Facebook quanto tempo eles passam na rede e quantos amigos próximos têm em sua rede de contatos. Também perguntaram a respeito de suas vidas fora da internet, incluindo questões sobre o uso e dívidas no cartão de crédito, seus pesos e hábitos alimentares e quanto tempo passam socializando com pessoas reais por semana.

As pessoas que passam mais tempo online e que têm uma alta porcentagem de amigos próximos em suas redes de contato estão mais propensas a comer compulsivamente e ter maior índice de massa corporal. Também são mais propensas a ter dívidas no cartão de crédito, a pesquisa revela. Outro estudo revelou que as pessoas que navegam no Facebook por 5 minutos e têm laços fortes em sua rede de contatos estão mais propensas a escolher como lanche um biscoito de chocolate do que uma barra de cereais.

Em um terceiro estudo, os pesquisadores deram aos participamentes uma séries de anagramas impossíveis de serem resolvidos, mais avaliações cronometradas de QI – então mensuraram quanto tempo eles demoraram para desistir dos testes. Eles descobriram que as pessoas que passam mais tempo no Facebook são as mais prováveis de desistir mais rapidamente de executar tarefas difíceis. Um representante do Facebook se negou a comentar os resultados.

Por que somos tão agressivos online? Considerem um comentário recente, feito para esta coluna na página do Facebook, de uma pessoa que sequer conheço: “Por que eu deveria sequer pensar em escrever para você? Você não responderia mesmo”.

Nós somos menos inibidos no ambiente online porque não temos que ver a reação da pessoa a quem estamos nos dirigindo, diz Sherry Turkle, psicóloga e profesora de estudos sociais em ciência e tecnologia do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Porque, enquanto online, é muito mais difícil de enxergar e focar no que nós temos em comum, daí temos a tendência de desumanizarmos o outro, afirma.

No caso do Facebook, seu próprio nome é parte do problema. “Ele nos promete um rosto e um local onde teremos amigos”, afirma Turkle, que é ainda autora do livro “Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other” (Sozinhos acompanhados: Por que esperamos mais da tecnologia e menos um do outro). “Se você lê algo desagradável lá – no seu local de amigos-, você não está preparado para tal. Sente-se duplamente ofendido, então ataca de volta”.

Estamos em um período propício para discussões políticas, como Chip Bolcik pôde perceber. Narrador de TV, 54 anos e cuja filiação política consta como Independente, Bolcik mora na California e gosta de publicar questões políticas na sua página do Facebook. “Estou muito interessado no quê pensam as pessoas que têm opiniões políticas diferentes das minhas”, ele diz. “E, às vezes, eu escrevo coisas provocativas para me divertir vendo as pessoas ‘gritarem’ umas com as outras”.

Nos dois últimos meses, Bolcik perdeu dois amigos – da vida real – devido às suas discussões políticas. O primeiro amigo zangou-se após Bolcik ter publicado uma provocação pedindo que as pessoas respondessem se Mórmons são Cristãos. “Você está tão por fora que você nem sabe do quê está falando”, ela escreveu na página dele, posteriormente seguido por um “Você é um imbecil”. Bolcik a bloqueou de sua página: “Vou permitir o livre debate até que alguem me irrite”, disse. Às vezes, ele apaga completamente os tópicos e suas discussões.

A segunda amizade acabou ainda mais abruptamente, depois de um dos amigos mais antigos de Bolcik ter repetidamente ofendido a ele e vários de seus contatos do Facebook. “Ele estava esbravejando sobre política, ao invés de a debater”, disse o narrador. Ele escreveu para seu amigo, dizendo que o bloquearia de sua página se ele não esfriasse os ânimos. Em resposta, o amigo o repreendeu usando palavrões e acabou com a amizade no Facebook, deixando Bolcik “bem chateado”.

Ainda assim, o próprio Bolcik não se contém de inflamar os debates. Quando uma das discussões começa a se aquecer e ele não concorda com o lado para qual está indo – “direita ou esquerda, segundo ele” – ele manda mensagens privadas para alguns dos seus amigos, os quais ele considera “cães de ataque” e sugere que entrem na discussão. “Eu escrevo a eles ‘Olha, não concordo com aquela discussão, o que você acha?'”, Bolcik conta. “Então, eles vão lá agredir a pessoa que está me chateando e eu saio de tudo com a imagem de bonzinho”.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Salas de Bate papo UOL = impunidade + desrespeito.

    Gostaria de expor nesse site uma serie de agressões que recebi em sala de bate papo:

    .

    eu editei esse video sobre:

    http://vimeo.com/72654790#t=0

    gostaria que vissem e se possivel, dialogar sobre possiveis soluções, esse video e antigo, ano passado, mas o que ocorre ai e corriqueiro em salas de bate-papo.

    .

    http://philotheotrinosophia2012.blogspot.com.br/2013/07/salas-de-bate-papo-uol-impunidade.html

  • Acho também que a internet

    Acho também que a internet expõe as pessoas a situações que elas simplesmente não conseguem lidar e, como não estão cara a cara com ninguém, fica mais fácil se inflamar e brigar. Por exemplo, uma pessoa racista pode assistir a um negro falando sobre a questão do racismo em uma palestra e não se manifestar de maneira rude e violenta, porém, se algum dos seus amigos compartilhasse um vídeo da tal palestra, acredito que ele se sentiria muito mais livre e seguro para poder tecer comentários racistas a respeito.

     

    Na internet é mais fácil sabermos as bandeiras que cada um defende ou o estilo de vida que vende e as diferenças podem ofender, principalmente se a pessoa ofendida não consegue compreender a verdadeira origem de tanto ódio dentro dela.

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