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A CNBB contra os reality shows

A “cruzada” da CNBB contra os reality shows

 

CNBB afirma que transmissão de reality shows na TV é um atentado à dignidade humana Bispos cobram o Ministério Público por mais rigor na no acompanhamento da programação das emissoras 17 de fevereiro de 2011 | 17h 33

Roldão Arruda, de O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO – A Conferência Nacional dos Bispos (CNBB) divulgou ontem uma nota com críticas aos reality shows transmitidos pela TV brasileira. Após afirmar que esses programas “atentam contra a dignidade da pessoa humana” e constituem uma “agressão impune aos valores morais que sustentam a sociedade”, o texto pede maior rigor do Ministério Público no acompanhamento da programação.

O reality show de maior audiência entre as emissoras brasileiras é o Big Brother Brasil, da TV Globo, que está no ar, em sua 11.ª edição. Na Record, o campeão é A Fazenda.

Os bispos sugerem às emissoras que reflitam sobre “seu papel e seus limites na vida social”, considerando que funcionam como concessão do Estado brasileiro. Também se dirigem às empresas que veiculam anúncios nos intervalos comerciais dos reality shows, “alertando-os sobre o significado da associação de suas marcas a esse processo de degradação dos valo res da sociedade”.

Em relação aos pais e educadores, recomendam que procurem, por meio do diálogo, “formar neles o senso crítico indispensável e capaz de protegê-los contra essa exploração abusiva e imoral”.

Para os bispos, representados pelo Conselho Episcopal Pastoral, reunido hoje em Brasília, o esforço para a superação “desse mal na sociedade”, pode ser feito com respeito à “legítima liberdade de expressão, que não assegura a ninguém o direito de agressão impune aos valores morais que sustentam a sociedade”.

O outro lado

Em resposta à declaração da CNBB, a TV Globo, que exibe, além de Big Brother Brasil, o reality Hipertensão, também divulgou nota, na qual afirma que ” é uma emissora laica, com uma visão de cultura e mesmo de comportamento social e moral que não segue preceitos religiosos”

A nota, assinada pela Central Globo de Comunicação, observa que a emissora tem “tradição de estar, no campo institucional, ao lado da maioria das causas da CNBB” e concorda com os bispos a respeito do papel dos pais: “Cabe aos pais selecionar o que seus filhos devem assistir – como tudo que pode influenciar na formação dos jovens”.

O texto da Globo também destaca a liberdade de escolha do telespectador: “É o mesmo cidadão-eleitor que, a cada momento, tem plena liberdade de decidir o que é melhor para si e sua família.”

A Record também se manifestou por meio de nota, assinada pela Rede Record de Comunicação. Segundo o texto, a declaração dos bispos não faz referência a nenhum dos cinco programas na linha reality transmitidos pela emissora: “A Fazenda convida os participantes a atividades relacionadas ao campo e à natureza, promove a vida no campo, Ídolos procura novos intérpretes, Aprendiz oferece oportunidades de trabalho, Troca de Família relata experiências de convivência de estilos de vida diferentes e Extreme Make Over Social acompanha a construção de creches.”

Segundo a Record, “todos são programas que respeitam os participantes e os telespectadores.”

Leia a íntegra da nota da CNBB:

Têm chegado à CNBB diversos pedidos de uma manifestação a respeito do baixo nível moral que se verifica em alguns programas das emissoras de televisão, particularmente naqueles denominados Reality Shows, que têm o lucro como seu principal objetivo.

Nós, bispos do Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP), reunidos em Brasília, de 15 a 17 de fevereiro de 2011, compreendendo a gravidade do problema e em atenção a esses pedidos, acolhendo o clamor de pessoas, famílias e organizações, vimos nos manifestar a respeito.

Destacamos primeiramente o papel desempenhado pela TV em nosso País e os importantes serviços por ela prestados à Sociedade. Nesse sentido, muitos programas têm sido objeto de reconhecimento explícito por parte da Igreja com a concessão do Prêmio Clara de Assis para a Televisão, atribuído anualmente.

Lamentamos, entretanto, que esses serviços, prestados com apurada qualidade técnica e inegável valor cultural e moral, sejam ofuscados por alguns programas, entre os quais os chamados reality shows, que atentam contra a dignidade de pessoa humana, tanto de seus participantes, fascinados por um prêmio em dinheiro ou por fugaz celebridade, quanto do público receptor que é a família brasileira.

Cônscios de nossa missão e responsabilidade evangelizadoras, exortamos a todos no sentido de se buscar um esforço comum pela superação desse mal na sociedade, sempre no respeito à legítima liberdade de expressão, que não assegura a ninguém o direito de agressão impune aos valores morais que sustentam a Sociedade.

Dirigimo-nos, antes de tudo, às emissoras de televisão, sugerindo-lhes uma reflexão mais profunda sobre seu papel e seus limites, na vida social, tendo por parâmetro o sentido da concessão que lhes é dada pelo Estado.

Ao Ministério Público pedimos uma atenção mais acurada no acompanhamento e adequadas providências em relação à programação televisiva, identificando os evidentes malefícios que ela traz em desrespeito aos princípios basilares da Constituição Federal (Art. 1º, II e III).

Aos pais, mães e educadores, atentos a sua responsabilidade na formação moral dos filhos e alunos, sugerimos que busquem através do diálogo formar neles o senso crítico indispensável e capaz de protegê-los contra essa exploração abusiva e imoral.

Por fim, dirigimo-nos também aos anunciantes e agentes publicitários, alertando-os sobre o significado da associação de suas marcas a esse processo de degradação dos valores da sociedade.

Rogamos a Deus, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, luz e proteção a todos os profissionais e empresários da comunicação, para que, usando esses maravilhosos meios, possamos juntos construir uma sociedade mais justa e humana.

Brasília, 17 de fevereiro de 2011

Leia nota da Rede Globo:

 

A Rede Globo é uma emissora laica, com uma visão de cultura e mesmo de comportamento social e moral que não segue preceitos religiosos. Temos tradição de estar, no campo institucional, ao lado da maioria das causas da CNBB. No que nos refere, somos gratos pelo reconhecimento do papel positivo que a televisão aberta e privada desempenha no Brasil e concordamos que cabe aos pais selecionar o que seus filhos devem assistir – como tudo que pode influenciar na formação dos jovens.

O telespectador é o mesmo cidadão-eleitor que, a cada momento, tem plena liberdade de decidir o que é melhor para si e sua família.

Leia nota da Rede Record:

A Rede Record considera que a nota da CNBB não faz referência a nenhum dos programas do tipo reality shows produzidos em nossa emissora.

O programa A Fazenda convida os participantes a atividades relacionadas ao Campo e à natureza, promove a vida no Campo, Ídolos procura novos intérpretes, Aprendiz oferece oportunidades de trabalho, Troca de Família relata experiências de convivência de estilos de vida diferentes e Extreme Make Over Social acompanha a construção de creches. Todos são programas que respeitam os participantes e os telespectadores, inclusive, alguns deles, tem classificação indicativa que permite a exibição em qualquer horário do dia.

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,cnbb-afirma-que-transmissao-…

Luis Nassif

Luis Nassif

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