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Brasil participou de ataque à Venezuela

O governo brasileiro teve participação ativa na tentativa de golpe contra o governo venezuelano às vésperas do Natal. Reportagem de Janaína Figueiredo, que se valeu de fontes anônimas, publicada no jornal O Globo em 31 de dezembro deu conta dessa participação. Traduzimos abaixo analise do jornalista Ben Norton do projeto Grayzone sobre essa ativa intromissão do Brasil nos assuntos venezuelanos.

https://thegrayzone.com/2020/01/17/brazil-paper-reveals-bolsonaro-terror-plot-venezuela/

Ben Norton The Grayzone 17.01.2020

Governo de extrema direita do Brasil apoiou conspiração terrorista contra a Venezuela, revela importante jornal

O governo Bolsonaro , de extrema direita, apoiou um ataque à Venezuela em uma conspiração para derrubar seu presidente eleito. A chocante operação terrorista não recebeu cobertura na grande mídia americana.

O governo de extrema direita do Brasil apoiou ataques militares à Venezuela na esperança de incitar um golpe e derrubar violentamente o governo de esquerda do país.

Esse plano foi revelado por um grande jornal pró-governo no Brasil. E, no entanto, a chocante história não foi abordada por nenhum jornal da imprensa tradicional nos EUA ou na Europa. Fora de um relatório isolado do teleSUR da Venezuela – que os conspiradores apoiados por Washington estão tentando destruir – a história foi completamente ignorada pela mídia de língua inglesa.

Os Estados Unidos apoiaram uma série de tentativas de golpe contra o governo eleito da Venezuela desde 2002, o que se acelerou em 2019. Mas os detalhes sobre o papel do Brasil nessa mais recente trama são inéditos.
Em 31 de dezembro, o jornal brasileiro O Globo divulgou os planos de golpe em um artigo intitulado “Ataque a quartel por militares que se refugiaram no Brasil era parte de plano maior contra Maduro”. A legenda acrescentou: “Desertores pretendiam iniciar sublevação militar em larga escala, mas fracassaram”.

O Globo é um dos jornais com maior circulação no Brasil. Ele tem uma firme linha editorial de direita e é famoso por apoiar a ditadura militar fascista do Brasil entre as décadas de 1960 e 80.

O jornal mantém laços estreitos com o establishment político e militar do Brasil. E consultou várias fontes para reconstruir os planos dos últimos ataques à Venezuela.

Trilogia: Três ataques planejados à Venezuela, com ajuda de países estrangeiros

Com o apoio dos países vizinhos de direita, os desertores militares venezuelanos planejavam lançar três levantes militares contra o governo venezuelano na véspera de Natal ou nos dias próximos, de acordo com O Globo.

O nome oficial da operação era Trilogia. Um ataque atingiu o estado Bolívar na fronteira sudeste da Venezuela com o Brasil; um segundo ataque foi planejado como uma invasão anfíbia; e um terceiro deveria ocorrer perto da fronteira da Colômbia.

Dois desses três ataques planejados falharam, pois apenas um dos grupos executou as ordens conforme planejado.

Os insurgentes apoiados pelo Brasil invadiram o território venezuelano e, em 22 de dezembro, atacaram o Batalhão 513 de Infantaria da Selva Mariano Montilla no estado Bolívar da Venezuela, localizado a cerca de 230 quilômetros do estado mais ao norte do Brasil, Roraima, perto da fronteira dos dois países.

Um total de 16 desertores militares venezuelanos participou do ataque ao quartel de Mariano Montilla, matando um soldado venezuelano e ferindo outro.

Eles roubaram armas, incluindo 112 rifles, 120 granadas, três lançadores de foguetes, três metralhadoras, 10, bazucas e 10 caixas de munição, segundo a reportagem do Globo.

E em uma operação paralela, insurgentes apoiados pelo Brasil também atacaram soldados na cidade venezuelana de Santa Elena, perto da fronteira. Mas esta operação falhou.

Fontes sem nome disseram ao Globo que o objetivo final da operação era construir uma “força superior” fortemente armada para realizar ataques cada vez maiores contra o governo da Venezuela, iniciando uma insurgência violenta prolongada no sul da Venezuela, na área de fronteira com o Brasil.

A cumplicidade do Brasil e de Guaidó nos ataques

Esses ataques à Venezuela tiveram o apoio do governo de extrema direita do Brasil, liderado pelo presidente Jair Bolsonaro, um demagogo fascista que chegou ao poder após um golpe parlamentar e legal apoiado pelos EUA que forçou o Partido dos Trabalhadores de centro-esquerda a deixar o poder.

Bolsonaro prometeu expulsar, aprisionar e exilar esquerdistas, e defendeu firmemente a ditadura militar anterior de seu país, enquanto elogiava a junta assassina do ditador chileno Augusto Pinochet, apoiado pelos EUA.

Antes e depois dos ataques à Venezuela, segundo O Globo, havia “comunicações de alto nível” entre o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e o regime de golpe do líder da oposição venezuelana Juan Guaidó.

Guaidó, que os Estados Unidos tentam instalar à força como chefe de estado da Venezuela, foi reconhecido por Bolsonaro como o suposto “presidente” do país, embora nunca tenha sido eleito para o cargo.
Guaidó e Bolsonaro se encontraram e exigiram publicamente a derrubada do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, reconhecido pela ONU.

Juan Guaidó @jguaido
#Brasil
Nos reunimos con el Presidente @jairbolsonaro para continuar fortaleciendo la ayuda humanitaria, evaluar la situación en nuestra frontera común y establecer compromisos como parte de los próximos pasos para lograr la libertad de Venezuela.
https://twitter.com/i/status/1101427021882765312

Segundo O Globo, a maioria dos golpistas que participou do levante militar fracassado se escondeu na Venezuela. Muitos foram presos posteriormente.

No entanto, cinco dos insurgentes voltaram ao Brasil e se esconderam por vários dias entre a comunidade indígena de Taurepang, no estado de Roraima. Membros desta comunidade informaram o governo brasileiro, que decidiu resgatar e oficialmente conceder refúgio aos desertores venezuelanos em 26 de dezembro.

O Globo observou que a oposição de direita apoiada pelo exterior da Venezuela expressou “alívio” à decisão de Bolsonaro de proteger os soldados venezuelanos que haviam realizado um ataque violento à sua terra natal.

O atual governo da Venezuela, por outro lado, condenou duramente o governo Bolsonaro por sua decisão de proteger legalmente os conspiradores, afirmando que estava “estabelecendo um perigoso precedente de proteção para as pessoas que cometeram ofensas flagrantes à paz e à estabilidade de outro estado.”

A Venezuela solicitou formalmente a extradição dos cinco desertores protegidos pelo Brasil, mas o governo Bolsonaro de extrema direita rejeitou os pedidos de Caracas com o argumento de que não reconhece a legitimidade de Maduro.
Mídia brasileira confirma o que o governo venezuelano disse

A reportagem de O Globo confirma declarações públicas de funcionários do governo venezuelano após o ataque de 22 de dezembro.

O ministro da Comunicação da Venezuela, Jorge Rodríguez, declarou que os desertores não apenas receberam apoio do governo de Bolsonaro, mas também foram treinados em campos paramilitares na Colômbia.
Jorge Rodríguez @jorgerpsuv

Estos criminales fueron entrenados en campamentos paramilitares plenamente identificados en Colombia,  y recibieron la colaboración artera del Gob de Jair Bolsonaro— Jorge Rodríguez (@jorgerpsuv) December 22, 2019

Os serviços de inteligência venezuelanos rastrearam os movimentos dos infiltrados do Brasil, do Peru e da cidade colombiana de Cali, onde receberam treinamento.

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, escreveu: “Do Peru, eles entram na Colômbia e recebem apoio também do Brasil. Esta é uma estratégia golpista de  triangulação dos governos do Cartel de Lima para produzir violência, morte e desestabilização na Venezuela. ”

Jorge Arreaza M @jaarreaza  · Dec 22, 2019
Denunciamos que el grupo de mercenarios que ha pretendido generar violencia y que hoy asaltó la unidad militar en Gran Sabana, tiene su base de operaciones en Perú. Las autoridades peruanas son al menos cómplices, al permitir que estos terroristas se organicen impunemente.

Jorge Arreaza M @jaarreaza
Desde Perú entran por Colombia y reciben apoyo también en Brasil. Es una estrategia golpista de triangulación de gobiernos del Cartel de Lima para producir violencia, muerte y desestabilización política en Venezuela. Denunciamos a estos gobiernos ante el mundo. ¡No pasarán!

Os golpistas também envolveram comunidades indígenas locais em suas violentas operações, recrutando cúmplices mos grupos nativos na área de fronteira entre Venezuela e Brasil.

Nove membros da comunidade indígena venezuelana local estiveram envolvidos nos ataques, segundo O Globo, e todos foram presos por seu papel na tentativa de golpe.

As tensões entre Venezuela e Brasil permanecem em um ponto de ebulição. No entanto, Maduro hesitou em romper todos os laços com o poderoso vizinho, a fim de preservar o comércio entre os países.

As sanções unilaterais dos EUA à Venezuela já mataram dezenas de milhares de civis e dificultaram a importação de alimentos para o país. A Venezuela ainda depende de alimentos do grande setor agrícola do Brasil para ajudar a alimentar as comunidades próximas à fronteira. As importações são especialmente importantes porque Washington tenta sancionar o programa de distribuição de alimentos CLAP de Caracas, que alimenta sete milhões de famílias.

O governo da Venezuela conseguiu evitar a violenta infiltração e subterfúgio de seu poderoso vizinho. Mas, graças a um blecaute da mídia, a trama permanece desconhecida para quase todos os EUA, exceto talvez para aqueles que ajudaram na criação.

Ben Norton é jornalista, escritor e cineasta. Ele é o editor assistente do The Grayzone e o produtor do podcast Moderate Rebels , que ele co-organiza com o editor Max Blumenthal. Seu site é BenNorton.com  e ele tweets em @ BenjaminNorton .

Leia a reportagem de O Globo:
https://oglobo.globo.com/mundo/ataque-quartel-por-militares-que-se-refugiaram-no-brasil-era-parte-de-plano-maior-contra-maduro-24165689

 

 

 

 

 

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