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Sobre o áudio de alta resolução

Comentário ao post “Vinil ou digital? Qual é o melhor?

Um dos motivos pelos quais o áudio de alta-resolução “não pegou” foi o fato de só audiófilos e músicos conseguirem distinguir uma gravação em 48 kHz/16 bits de uma gravação em 192 kHz/24 bits – e em muitos casos, a diferença se deveu tão somente ao fato de que, nas versões de alta resolução, a mixagem e masterização ter sido feita com mais cuidado. Para mim, o maior fiasco disso foi a edição SACD de “Dark Side of the Moon”, que chamei de “Tamed Side of the Moon”.

Por outro lado, a matemática demonstra que se pode sim representar perfeitamente o espectro sonoro de 20 Hz a 20 kHz – o problema é o que o fazer com os sons que ultrapassam essa faixa de frequências, já que todos os harmônicos abaixo de 20 Hz e acima de 20 kHz voltam para o espectro amostrado como ruído, e nos primórdios os filtros passa-baixas para os artefatos de alta frequência eram ou bem ruinzinhos ou muito caros. Isso foi melhorando com o tempo, e já pela segunda metade da década de 80 isso já estava resolvido com o oversampling (alguém se lembra das inscrições “4x oversampling”, “8x oversampling” ou ainda “1-bit DAC” em seus toca CDs?), onde se amostra o sinal a uma frequencia muito mais alta que a do teorema de Nyquist, o que permite filtrar o som digitalmente. Isso contribuiu muito para melhorar a qualidade de som de nossos CDs.

Quanto à “busca desordenada pela dinâmica do som”, o que houve com boa parte dos CD’s é que a faixa dinâmica na realidade se estreitou – ou seja, os sons de alta e baixa intensidade são “equalizados”, o que se traduz em música que é cansativa para os ouvidos e para o qual se cunhou o termo “loudness war“. Isso não é uma malandragem nova, mas com o advento dos CD’s foi usada até o paroxismo.

De resto, para mim a “busca da melhor reprodução” não significa a “melhor reprodução”, mas sim a “melhor reprodução possível” – e chiados e estalos nem sempre deixam a reprodução ruim; antes, contextualizam o tempo em que o registro foi feito. Dois exemplos contrastantes:

1. Um CD com sambas de Sinhô com gravações de época. É praticamente impossível de escutar, pois se aplicou tanta redução de ruído para deixar o som próximo dos “padrões da era digital” que a música acabou morrendo no processo. Um trabalho simplesmente horroroso em que o técnico responsável de som podia entender bastante de ruído, mas zero de música.

2. Outro CD com gravações de Mário Reis da década de 30. Aplicou-se a redução de ruído necessária para que o ouvinte não prestasse mais atenção nos chiados do que na música. Ele continua lá, mas como parte da música e do contexto em que ela foi gravada. E é uma delícia de se escutar.

Luis Nassif

Luis Nassif

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