A estagnação da indústria, mesmo sem Covid, por Luis Nassif

Há um tiroteio de leituras sobre os índices de desempenho da indústria.

Analisando os três últimos meses, houve desaceleração. Em agosto, o Índice geral foi de 3,953%; em setembro, 1,131% e em outubro 1,13%. Com as oscilações promovidas pela Covid-19, são dados insuficientes para conclusões mais taxativas.

Em outubro, dos 23 setores acompanhados pelo IBGE, houve alta em 13 e queda em 10.666

Na análise das maiores altas e quedas, deve-se levar em conta as peculiaridades da pandemia. No período maior de isolamento, houve maior consumo de alimentos em casa e queda substancial na compra de produtos como automóveis. Com o relaxamento, há mudanças no perfil de consumo em relação ao período anterior.

Justamente por isso, sugere-se levar em conta períodos maiores na análise dos indicadores.  O Índice Geral da Indústria mostrou crescimento de 1,13% em outubro e de 1,02% desde outubro do ano passado, o que demonstra que este mês permitiu voltar aos níveis de um ano atrás, o que significa quase-estagnação.

A maior queda foi em Outros Equipamentos de Transporte exceto Veículos Automotores, que engloba a construção de embarcações e estruturas flutuantes, veículos ferroviários, aeronaves, motocicletas, até cadeiras de rodas e veículos semelhantes para deficientes físicos. Mas é significativa a queda em Artigos de Vestuário, de 14,6%.

Uma análise sobre a normalização ou não da indústria, tem que tomar como referência outubro do ano passado. Há setores que têm bom desempenho, como Produtos de Madeira, Produtos de Fumo e Equipamentos de Informática, com altas expressivas.

E quedas em 4 setores.

Quando se compara com períodos mais largos, percebe-se a ampla estagnação da indústria.

Veja o gráfico da Indústria Geral desde janeiro de 2014. Hoje em dia, o nível da indústria está 11,1% abaixo. No caso da indústria extrativa, 9,8% abaixo, mesmo com a explosão das commodities com a pandemia. Já a Indústria de Transformação está 11,1% abaixo.

E aí se entra na sinuca de bico do Ministro Paulo Guedes. O que segurou parte da queda foi a renda básica distribuída. Deve ser interrompida no final do ano. O discurso da área econômica continua sendo irracional. Sustenta que a interrupção do consumo das classes de menor renda será compensado pelo aumento do consumo das classes de maior renda, que economizaram e ganharam na poupança neste período.

Obviamente, é algo sem pé nem cabeça. Primeiro, pelo fato de que a maior renda consome apenas um percentual de sua renda. Depois, porque é quantitaivamente menor do que as classes de menor renda.

Há um sério problema pela frente. E não serão apenas as vacinas que resolverão o problema para Guedes.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Com essa gente,estagnação é lucro. Não tem milagre. É matemática simples,das quatro operações. SE não tem renda,de onde viria o crescimento da economia? OK! poderia vir das exportações. Mas,como,se além de um momento atípico com a pandemia atingindo o mundo todo,temos um desgoverno que insiste em não dialogar e ainda ataca os principais parceiros comerciais?
    A distribuição de renda é a única forma da economia crescer mas este parece ser um ponto inflexível do desgoverno que tem na pobreza sua fonte de dominação.

  • Distribuição de renda no Brasil, só se for "bolsa banqueiro", pois bolsa família não pode, é coisa de"vagabundo" que não quer trabalhar. Pessoas e crianças passando fome não abala nem um pouco esses predadores.

  • Viramos uma grande fazenda. Agro é pop, agro é tech, socorro! O que move os países mais ricos é a indústria. Podia ao menos fazer uma politica industrial mais agressiva com aqueles setores que o BRASIL tem expertise?? Calçados, agroindustrial, alimentos... não !! Falta COMPETÊNCIA em elaborar uma plano nacional de desenvolvimento com distribuição de renda para os mais POBRES.

    FRENTE AMPLA DE CENTRO-ESQUERDA 2022. HADDAD / DINO.

  • Nos primeiros parágrafos do texto, está a expressão: "Em outubro, dos 23 setores acompanhados pelo IBGE, houve alta em 13 e queda em 10.666". Como versa sobre números inteiros, talvez haja erro no 10.666. Talvez seja uma falha pensando nas bestas da economia brasileira. De todo modo, como o texto corre o risco de fazer parte daqueles que tem agora a visão do estudo milionário dos detratores do ME, cabe a revisão, se for o caso.

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