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A IDOLATRIA PELO BARCELONA

Em primeiro lugar, há anos que não comento no meu próprio blog. Uso-o antes de mais nada para registro, e ontem li tanta coisa sobre a derrota do Barcelona que resolvi escrever a valer sobre o tema. Por isso, teci alguns arrazoados sobre a derrota e o que ela significa.

Em primeiro lugar, cai a soberba. Não do Barcelona, mas da imprensa esportiva. Ontem li e ouvi vários jornalistas sérios apostando em vitórias do Barcelona por dois, três e até quatro gols de diferença, como se o Chelsea fosse um Zaragoza qualquer (com todo o respeito ao time espanhol). Além disso, já contavam os dias para uma eventual final com o Real e mais um título europeu na estante. Durante o jogo, a incredulidade diante da ineficiência de um time tido como imbatível e da jornada mal sucedida de seu astro maior. Pior: lendo as diversas resenhas de hoje, vejo que deram notas 7,0 para Messi, que perdeu um penalti decisivo, jogou mornamente e de bom mesmo, apenas um passe para gol e uma bola na trave, mais nada. Se fosse em qualquer clube brasileiro em uma semi de Libertadores, levava no máximo um 4,5 – ah, mas é o Messi…

O endeusamento do Barcelona, em que pese ser de fato um grande time, parece ser mais uma vez a fixação em criar algo que inexiste: um time próximo do perfeito. Ora, durante a transmissão da ESPN ontem, várias vezes houve uma certa irritação do comentarista do jogo com o time do Barcelona (“está muito impaciente”, “vários erros bobos, tem que pôr a bola no chão!”), com o juiz (“o Messi perdeu, mas como se adiantou Cech – ele tirou um dos pés antes da cobrança, mas o juiz é banana para voltar”) e até com a torcida (“se a torcida apoiasse mais, o resultado poderia ser outro”), como se ele estivesse torcendo para o time catalão. Isso, desconsiderando totalmente o time do Chelsea. E olha que ele mesmo afirmou que o Barcelona, a rigor, só teve 3 chances no segundo tempo. Haja idolatria.

Além disso, há a completa desconsideração do que jogou o Chelsea ontem. Ora, vejamos: o time sai perdendo por 2×0, fica com 10 jogadores no primeiro tempo faltando 7 minutos para acabar a etapa. E o que faz o time: reage, consegue um gol e passa a jogar com o coração. Se há uma verdade no futebol que diz que “nem sempre o melhor futebol vence”, o que todos os comentaristas, na TV, nos jornais e quetais ficaram alardeando, repetindo e de certo modo choramingando a derrota do Barcelona, há uma outra máxima ainda maior: “no futebol, quando a técnica é semelhante, a raça e o coração desequilibram”. E o Chelsea fez isso ontem. Porém, parece que os cronistas insistem em não lembrar disso: o Barcelona jogou quase 55 minutos com um jogador a mais, com 75% da posse de bola, e só teve 3 chances de gol a mais que os ingleses durante o jogo: o pênalti, os dois gols, uma bola na trave de Messi e uma boa defesa de Cech em chute de Sanchez. De resto, mais nada. Ora, isso é futebol arte? Futebol perfeito? Um massacre (como escutei e li em vários veículos esportivos hoje)? Claro que não.

Na verdade, insistem na tese do imbatível, como se fosse algo que tivéssemos que aceitar independentemente da opinião. E vejam: se discordamos, somos taxados de pachecos, nacionalistas e cegos sobre o futebol. Bobagem. Se pegarmos as crônicas dos jogos do Brasil em 93 pelas Eliminatórias da Copa, o time de Parreira empatou com o Equador e perdeu da Bolívia nessas mesmas condições – posse de bola imensa, sem efetividade e tomando gols bobos em contra-ataques. A diferença? O Brasil não jogava na Europa e não tinha a mídia esportiva inteira a seu favor.

Na minha opinião, mais uma vez somos vítimas do famigerado “complexo de vira-latas”, onde tudo que vem da Europa é perfeito e tudo daqui é uma porcaria. Nem uma coisa, nem outra. Há que se valorizar o Barcelona, de fato, mas ele é muito menos do que dizem que ele é. Além disso, poucos ou nenhum veículo parece ter dado o devido valor ao que fez o Chelsea: jogar com 10 jogadores durante 55 minutos saindo de um 2×0 e conseguir um empate contra o dito melhor time do mundo na casa do adversário. A forma foi na defesa, mas e daí? Joga-sem como se pode diante das circunstâncias. E a rigor, o Barcelona pouco fez com sua imensa posse de bola – para mim, inúltil na tarde de ontem.

Concluindo, temos que saber reconhecer o mérito alheio, assim como formas diversas de jogar futebol e que, antes de mais nada, o Barcelona é um time comum que conta com um craque que, se está num dia não tão inspirado, a coisa não anda. Elevaram Xavi e Iniesta a um patamar de um Zico, de um Ademir da Guia, de um Didi, quando não passam de um Silas ou de um Felipe (do Vasco), comparando com jogadores brasileiros em termos de técnica. Mas infelizmente, os jornalistas esportivos brasileiros parecem não enxergarem o óbvio. Paciência.

Redação

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