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A oposição e a democracia de massa

Coluna Econômica – 28/06/2010

A divulgação da última pesquisa do IBOPE mostra a candidata Dilma Rousseff a dois pontos da vitória no primeiro turno – se se levar em conta seu percentual de votos sobre o total de votos válidos. Há outros pontos sustentando seu favoritismo: empatou com José Serra no voto feminino; passou-o no sudeste. E ainda conta com 25% do eleitorado que ainda não sabe que ela é a candidata de Lula.

O grande desafio, daqui para frente, será preservar as bases do que poderá ser a oposição ao provável futuro governo Dilma.

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Para a oposição, o ponto central será entender a nova dinâmica social e política brasileira. Por não entender os novos tempos, o Partido Democrata norte-americano perdeu o bonde das eleições da Guerra da Secessão até a eleição de Franklin Delano Roosevelt, nos anos 30.

Infelizmente para o PSDB, a era Fernando Henrique Cardoso deixou marcas. Embora sociólogo, de uma família de construtores da pátria, nem ele nem José Serra souberam interpretar adequadamente os novos tempos. Fernando Collor teve essa percepção – quando identificou o fenômeno dos “descamisados” – assim como Lula. FHC passou ao largo.

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O processo é bastante similar ao que chacoalhou os Estados Unidos no século 19. As mudanças decorrem da inclusão das massas pobres ao mercado de consumo.

Primeiro, houve um processo de industrialização na costa norte do país, que ganhou impulso a partir da década de 1820. Quando essa região ganhou musculatura, havia a necessidade de ampliar o mercado. Esse movimento impulsionou presidentes a ampliarem programas de integração social.

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Em 1828 foi eleito Andrew Jackson, herói de guerra, o primeiro a perceber a nova democracia de massas que se desenhava. Apresenta-se como homem comum, usa um linguajar bem simples, abre os portões da Casa Branca à população e passa a percepção de que um homem do povo poderia governar o país – embora fosse de posses e proprietário de escravos.

Foi um governo de altos e baixos. Liquidou com reservas indígenas, provocou uma recessão com seu rigor fiscal, mas passou a entender o país como fruto de um desenvolvimento integrado, de setores, classes sociais, da política e da diplomacia (em 1823 surge a Doutrina Monroe, que definia a área de influência dos EUA). O país só avançaria dentro de um pacto federativo, que permitisse juntar esforços da União, estados e municípios.

Assim como no Brasil de hoje, a sociedade civil organizada exerceu um papel fundamental na consolidação do modelo norte-americano. Houve uma febre de associações civis, políticas, empresariais por todo o país, com os mais variados objetivos.

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Em cima dessas lições históricas, os princípios para uma oposição viável:

1. O desenvolvimento é um sistema integrado, atendendo a todas as partes. Mas não será viável nenhum projeto político que não contemple os excluídos, as novas classes sociais e o desenvolvimento regional. Se não entender a era da democracia de massa, dança.

2. Nesses processos de grandes mudanças, sempre haverá o choque entre a civilização (os que procuram uma transição pacífica) e a barbárie. O pior que poderia acontecer para o país seria a radicalização de qualquer lado. Nos EUA, levou à Guerra da Secessão, anos depois. 

Luis Nassif

Luis Nassif

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