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A paranóia sexista e anti-libertária da esquerda caduca

 

(Deve ter algum sexismo na figura aí)

O meu post sobre o Rafinha Bastos suscitou reações carinhosas por parte dos amigos. Um blogueiro afirmou que eu deveria ter escrito sob efeito do álcool, depois que eu tinha surtado, que se tratava de uma opinião exótica (disso eu gostei) e que eu apenas me prejudicava (essa não entendi). Uma blogueira esclareceu que “ainda” não desejava que eu quebrasse os dentes, visto que esperava uma retratação. É lindo o espírito democrático! É lindo o espírito de paz e fraternidade entre os colegas!

Todo mundo reclama da falta de diversidade de opiniões na mídia, e de repente pretendem impor a mesma teocracia monolítica na blogosfera. Vários se manifestaram como se fosse absurdo o simples fato de eu ter emitido aquela opinião. Uma tuiteira passou dias me xingando de sexista e proferindo palavrões. Uma outra já me deu tanto block que deve ter construído uma muralha de concreto, embora minhas palavras – contra a minha vontade, já que eu não quero ser mais xingado – sempre arranjem um jeito de furar o bloqueio.

Já tentaram me explicar várias vezes o que é sexismo, mas ainda tenho dificuldades para entender completamente esse tema. Talvez alguma feminista possa “desenhar” para mim (elas sempre querem desenhar para que possamos compreender). Uma delas disse que se eu elogiar o jantar preparado por minha mulher, por exemplo, estaria sendo um “sexista benevolente“…. Isso me confundiu um pouco. Na minha casa, onde sou eu o cozinheiro oficial, a recíproca seria válida?

Enviaram-me um artigo publicado na Carta Capital, da Rosane Pavam, onde somos brindados com uma longa xaropada – culta, é verdade, mas ainda sim uma xaropada – sobre o que é ou não humor. O texto é cheio de contradições insolúveis. Limito-me a reproduzir este trecho:

Chico Anysio, assim como Jô Soares, sempre proferiu piadas sexistas, machistas e misóginas, mas, como lembra o historiador Saliba, quase sempre encarnando outros personagens, como oligarcas e nhonhôs: “Os preconceitos estavam lá, todos, alguns em toda a sua crueza, mas eram reversíveis, mudavam de lado a todo o momento, os papéis eram trocados, retomando o universo do burlesco”.

Ou seja, se Rafinha inventasse “personagens”, se “mudasse de lado a todo momento”, podia continuar fazendo o que faz. Um humorista agora tem ser igual ao Chico Anísio para ser aprovado? Tudo isso segundo o historiador Saliba, não se esqueça. Viva o historiador Saliba! Os humoristas devem ler Bergson antes de abrir a boca! E o padrão de humor deve continuar sendo os programas da Globo!

Minha surpresa, no entanto, foi maior com o artigo de Marcos Coimbra, publicado no Azenha. O politólogo também demonstrou profundo conhecimento sobre humor, como se pode constatar na conclusão de seu texto:

Só se for para quem acha graça nas velhas piadas que ridicularizam mulheres, negros, indígenas, portugueses, nordestinos, homossexuais, loucos e deficientes.

Confesso que essa é uma opinião interessante. Coimbra, porém, esqueceu de acrescentar leprosos, anões, vesgos, fanhos (se bem que estes podem ser classificados no grupo “deficientes”; mas é legal detalhar), argentinos e paraguaios. Mais um pouquinho, e Coimbra incluía todo o espectro humano que, segundo ele, não pode virar objeto de piadas. Bem, pelo menos sobrarão os bichos, embora eu desconfie que algumas ongs lutarão para que estes não sofram com o nosso corrosivo e degenerado humor.

Escuso-me de comentar as suas comparações com as leis da Suécia. Neste campo da restrição à propaganda, assim como em tantos outros, sempre há alguma lei escandinava que a gente pode copiar. Deve ser por isso que a Suécia tornou-se uma potência no campo do audiovisual e da liberdade de expressão. Coimbra – ironizando a mídia – lembra que o “lulo-petismo” não chegou à Suécia. Pois é, de fato, lá chegou foi o neonazismo, no parlamento e no Executivo.

O mais curioso mesmo é que as pessoas – na falta de outro argumento – vem me atacar chamando-me de “reacionário”, como esse, que me deliciou especialmente:

Com a vantagem que uma semana me dá, seus comentários me impelem a pensar que você está se transformando – se já não era – um reacionário de direita dos piores.

O engraçado é que eu pensava justamente que o meu erro tinha sido ideologizar o debate. Ou seja, eu acreditava que isso (o ímpeto de censurar e o espírito de linchamento) não fosse necessariamente uma coisa da esquerda, mas se tratava puramente de um tolo e ingênuo moralismo da classe média “politizada”, travestido de indignação. Também tinha a esperança que as pessoas objetivavam restringir apenas a publicidade, que teria regras próprias, menos livres que outras formas de comunicação. Não, o desejo é restringir o humor também. Atenção, humoristas que gostam de dar  aquela “meia hora de bunda”! O bicho pode pegar para vocês também!

Como se pode constatar pela reação das pessoas à “sugestão” da ministra Iriny Lopes de que a Globo inserisse uma informação pública na novela das oito, há uma intenção real de interferir igualmente na ficção. Para a ministra, o certo não seria o governo fazer um anúncio no intervalo da novela – tem que enfiar a informação no meio da trama. Maravilha. Na novela do SBT sobre a ditadura, deveriam informar o telefone da comissão de direitos humanos da ONU no meio das sessões de tortura… Por que ninguém nunca pensou nisso antes!

Meus amigos, acho que meu amigo blogueiro está certo. Estou ficando louco. Toda cerveja que bebi na vida resolveu finalmente cobrar a conta da minha lucidez. Tenho opiniões exóticas. Meus dentes já começam a doer com a possibilidade de serem quebrados. E, por fim, tornei-me um empedernido e odioso reacionário!

Sim, só pode ser isso, porque é isso ou então eles que é que enlouqueceram todos! Eles é que estão bebendo muito! Eles é que se tornaram reacionários! E tomem cuidado, porque neste caso a realidade pode lhes quebrar os dentes!

Quando eu penso estar isolado numa ilha, rodeado de estranhos por todos os lados, eis que leio um artigo do Mino Carta, intitulado: “Já não se fazem gênios como antigamente?”, que me deixa ainda mais desamparado. Não estava disposto a comentar esse texto, porque gosto muito do Mino, respeito-o profundamente, etc. Mas visto que ele aparece justamente nesse contexto de opiniões esdrúxulas, sou forçado a lembrar ao grande Mino que o tempo do Renascimento, descrito brilhantemente por Jacob Burckhardt, foi um tempo de tiranos crudelíssimos, massacres, exploração mais vil do povo. O trecho abaixo, portanto, que resume a tese do meu editor preferido, contém uma premissa equivocada.

Há uma conexão transparente entre todas as atividades humanas praticadas no mesmo momento, e a Renascença é extraordinário momento de mudança e renovação. A turva, aturdida hora que vivemos agora é de decadência.

Não vivemos nenhuma decadência. O sufrágio universal (incluindo aí o voto das mulheres) só começou a ser implantado nas democracias modernas a partir da década de 60, no século passado. O analfabetismo no mundo só agora tem caído substancialmente. Ainda há desgraça, fome e doenças no planeta, mas nada que se compare ao medievo, onde a longevidade dos homens não ultrapassava os trinta anos. O mundo de hoje oferece oportunidades de ascensão social a um percentual muito mais alto da população do que na época de Michelângelo. Naquela época, os artistas dependiam de tiranos assassinos e papas corruptos para sobreviver, hoje podem vender seu trabalho diretamente ao público. Eu tenho infinita admiração pelo Renascimento italiano, Mino, e já tive o privilégio de estar em Florença por duas vezes (uma delas por quatro meses) e ler a Divina Comédia e Petrarca no original e namorar de perto o portão do Batistério e a torre planejada por Giotto na praça do Duomo, mas eu sei que as condições políticas daquele tempo eram bem piores do que vemos hoje no Brasil, por exemplo. E se não temos nenhum Dante Alighieri, tivemos um Dante Milano.

Observação importante: eu critico o Mino mas ele continua sendo meu editor preferido; não sou como alguns de vocês que, só porque não aprovam uma opinião, condenam a pessoa à fogueira eterna. A mesma coisa vale para Marcos Coimbra, um politólogo que respeito profundamente, apenas me concedo o atrevido direito de discordar nesse tema.

Observação importante 2: posso nunca ter tido nenhuma projeção midiática; sou apenas um reles blogueiro semi-anônimo; mas o respeito ao indivíduo e à dignidade que vocês cobram diariamente da grande mídia, espero que tenham comigo.

Temos um país repleto de problemas trágicos para serem solucionados. As grandes cidades brasileiras que eu conheço estão semidestruídas. Lixo na rua, saneamento precário, saúde pública deficiente. Tipo de problema que já não apoquenta muito os suecos. A Dilma teria se acovardado ao recuar no caso do novo imposto da Saúde? O Brasil precisa melhorar a gestão do setor, mas precisa também de mais recursos. E o governo – através da ministra Iriny Lopes – se desgastando perseguindo Rafinha Bastos, publicitários de empresas de lingerie e novelistas de tv!

Quanto aos programas de humor e telenovelas, continuo defendendo mais e mais liberdade, e zero interferência do governo. Em casos extremos, que a questão seja decidida pela Justiça, mas que esta julgue, por sua vez, sempre com bonomia e tolerância máxima. Há situações excepcionais que devem ser coibidas, como aquela tv que mostrou uma menina sendo estuprada em pleno dia. De resto, porém, deixemos de ser hipócritas, reacionários e censores. O sexismo na TV e no humor só poderá ser vencido pela luz, pela transparência, pela liberdade, não pela mão pesada, quase sempre desastrada nesses assuntos, do Estado.

http://oleododiabo.blogspot.com/2011/10/paranoia-sexista-e-anti-libertaria-da.html

Redação

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