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A Trilha Oculta Para Machu Picchu

 

 

 

2ª parte.

The New York Times

Por Mark Adams 

Se você quiser ler a primeira parte clique aqui. 

A história soou um pouco piegas na primeira vez que a li, mas depois de se locomover para o mesmo local, encontrei uma visão que realmente parecia se estender para o infinito – montanhas e geleiras, rios e profundos vales verdes que se estendem tão ao longe fazendo minha cabeça doer. Então eu percebi que estaria cobrindo grande parte dessa vastidão a pé – e por um momento eu quase invejei os turistas esperando na fila para o ônibus com ar-condicionado até Machu Picchu.

Quando partimos de Choquequirao em direção ao norte, John calculou que no momento em que chegarmos a Machu Picchu, teremos subido e descido serras tanto como subir e descer o Monte Everest a partir do nível do mar. “Confie em mim, suas pernas vão se adaptar depois de alguns dias”, ele me assegurou. E elas obedeceram, durante a caminhada de quatro dias na montanha-russa para Vitcos – cerca de 25 quilômetros de distância no vôo do condor e 40 quilômetros a pé.

Em nosso caminho para Vitcos, aproximadamente na metade de nossa jornada, os sinais direcionais e outros vestígios de turismo desapareceram. Em algumas manhãs encontramos pequenos grupos de crianças que iam para a escola, sempre carregando pequenas varas de lenha para cozinharem a sopa escolar.

Enquanto caminhávamos para o norte, a nossa viagem começou a entrar em um ritmo natural. John e eu acordávamos pouco antes do amanhecer, a essa altura os tropeiros já estavam na ativa por mais de uma hora. Eles desmontavam as nossas tendas, enquanto John e eu saboreávamos nosso café da manhã, eles arriavam e carregavam os animais e tocavam em frente e os seguíamos depois em um ritmo constante; quando chegávamos ao ponto de encontro marcado, eles já tinham o almoço pronto em uma mesa para dois.

À noite, as temperaturas despencavam no momento em que o sol desaparecia por detrás das montanhas. Em uma tenda iluminada à luz de velas, o nosso sempre ocupado cozinheiro Justo Suchli serviria tradicionais guisados ​​andinos com molho aji, feito de pimenta fresca para cortar o frio. Logo depois do jantar Juvenal, cuja família tem liderado exploradores e viajantes através destas montanhas ao longo de décadas, dava aulas improvisadas de como manejar as mulas.

Numa noite, a cerca de 20 quilômetros de Vitcos, dormimos em um estreito, do tipo fjordlike canyon, cujas íngremes paredes expõem no topo, gigantes cabeças esculpidas nos penhascos de granito assustadoramente semelhantes às da  Ilha de Páscoa. O Sr. Justo acordou-nos às 4 da manhã, já com as canecas de café na mão. Precisávamos começar cedo: a área era conhecida por imprevisíveis micro-nevascas que poderia despejar 03 metros de neve na nossa rota matinal, uma garganta com 5.000 metros. Nosso caminho seguiu sobre o que parece um modelo em miniatura da Grande Muralha da China (tinha apenas três metros de altura), mas era, na verdade, um dos melhores trechos restantes do sistema original das auto-estradas incas, um remanescente da estrada real que uma vez conectou Choquequirao a Vitcos. Um bocado de folhas de coca mastigadas enquanto caminhava, evitava sentir a doença da altura, o tempo  suficiente para atravessar a passagem, misericordiosamente, antes de a neve cair. De lá, descemos 3,500 degraus feitos pelos incas de pedras altas, caindo dois quilômetros de altitude em apenas algumas horas e ganhando cinquenta graus centigrados de temperatura. Nós não tínhamos visto nenhuma outra alma em dois dias. Os arquitetos incas se especializaram em espetaculares acessos, e o caminho que conduz a Vitcos foi uma das suas obras-primas: uma passagem longa e estreita que leva a um majestoso edifício de pedra, provavelmente um palácio nos idos tempos. A partir desse acesso, as linhas de montanhas em todas as direções se estendem, dando ao visitante a sensação de pisar no palco do maior anfiteatro do mundo.

Mas, embora a alvenaria em pedra das portas do palácio, os melhores exemplos da imperial alvenaria inca no local, rivaliza tudo no Peru, o que levou Andrew Bingham – e eu – para Vitcos foi a Pedra Branca, uma extraordinária pedra de granito esculpida do tamanho de um trailer (e agora coberto com cinza líquen). Bingham encontrou a rocha que havia sido mencionado em uma crônica espanhola do século 17, pensando que poderia orientá-lo para a cidade perdida dos Incas, Vilcabamba. Fiquei encantado ao descobrir que parecia exatamente como estava nas fotos de Bingham de 1911. Formas geométricas abstratas foram gravadas em sua face oriental. Sua parte traseira foi cortada em suaves camadas que foram, possivelmente, altares. Ela poderia ter sido jogada naquele exuberante campo verde pelos modernistas aliens. De Vitcos, começamos a bruta caminhada de 50 quilômetros para baixo, a descida para Espiritu Pampa, uma antiga cidade cravada na selva. “Lá em cima estão os Andes”, John disse, gesticulando para trás enquanto atravessávamos uma ponte suspensa vacilante. “Lá embaixo está o Amazonas.” Durante o curso de três dias suados, nós atravessamos uma bacia pantanosa, subimos até um vão onde ventos com a força de uma tormenta quase nos derrubou, e passamos por uma zona de névoa desolada e dotada com piscinas de sal verde. O caminho desce abruptamente e a paisagem quase que instantaneamente virou selva. John frequentemente desembainhada seu facão para cortar os ramos e abrir passagem contra a vegetação que invadia a pista. Nós entramos em Espiritu Pampa através de uma longa e tortuosa escadaria de pedra que descia naquela que agora é uma cidade fantasma camuflada com plantas tropicais invasoras, sempre verdejantes. A cidade, que os Incas abandonaram às pressas quando foram atacados pelos conquistadores espanhóis em 1572, tem um ar assustador, que o faz sentir um frio na espinha. Enormes matapalos (clusias) que estrangulavam as figueiras avultavam sobre a praça central, suas folhas refletiam a luz do sol quando caia sobre as dezenas de edifícios de pedra, muitos dos quais já transformados em um monte de entulho. Uma pilha de pedras arredondadas – John imaginou que foram munição para os estilingues dos incas – amontoadas, presumivelmente intocada depois de quase cinco séculos.

Perto do acampamento Ossos-Nus em Espiritu Pampa, os homens estavam ocupados esfregando pilhas de cerâmica quebrada e outros artefatos descobertos recentemente, que podem algum dia, fornecer informações sobre o mistério dos últimos dias dos Incas. Em todos os lugares no Peru, os jornais estavam atentamente acompanhando a ação judicial do país contra a Yale University exigindo a devolução dos artefatos retirados de Machu Picchu por Bingham durante sua visita no retorno de 1912. (A disputa foi finalmente resolvida a favor do Peru em novembro passado.) Em Espiritu Pampa, uma equipe liderada por Javier Fonseca, o simpático arqueólogo-chefe do sitio, estava regularmente descobrindo peças tão impressionantes como qualquer coisa encontrada por Bingham em Machu Picchu. Enquanto estávamos no interior das muralhas do antigo templo do sol, um dos assistentes do Sr. Fonseca agachou-se e pegou o cabo de um pote inca do tamanho de uma ameixa, onde o formato da cabeça de uma onça-parda foi trabalhado. A única coisa de que Espiritu Pampa não tinha muito era visitante. Embora esteja apenas a 70 quilômetros, cheios de obstáculos, a oeste de Machu Picchu, a caminhada para chegar lá é tão árdua – a mesma caminhada para Choquequirao porem duas vezes pior, e no calor sufocante da selva – somente 1.800 pessoas tinham assinado presença na cabana dos visitantes ao longo da última década. “Devemos ter chego durante a baixa temporada”, eu disse a João, quando caminhávamos de volta ao acampamento vazio. Eu estava esperando por uma noite decente de sono antes de caminharmos por várias horas ao norte das ruínas na manhã seguinte. Nós fomos encontrar a Toyota Land Cruiser que nos transportaria por 12 horas em empoeiradas estradas de terra, onde se anda de lado invariavelmente, rumo a Machu Picchu.
“Na verdade, há menos pessoas vindo aqui agora do que havia em meados dos anos 90,” John disse. “As pessoas simplesmente não são mais aventureiros como eles costumavam ser”.

Bingham passou apenas dois dias no Espiritu Pampa em 1911, localizando apenas alguns edifícios interessantes espalhados no meio da densa folhagem da floresta. Mais tarde ele concluiria que Machu Picchu foi Vilcabamba, a cidade perdida, um pressuposto que agora é considerado errado: A maioria dos especialistas hoje concorda que a cidade anciã foi Espiritu Pampa.
Esses mesmos especialistas acreditam que Machu Picchu foi construída em meados dos anos 1400 como uma propriedade para o maior imperador inca, Pachacutec. Nos últimos 20 anos,
Johan Reinhard, antropólogo e explorador residente da National Geographic mais conhecido por encontrar uma múmia inca, congelada no topo de uma montanha a 7.000 metros de altitude em 1995, desenvolveu uma teoria de que os Incas posicionavam seus edifícios – aqueles de Machu Picchu, especialmente – em relação aos caminhos celestiais do sol e das estrelas. John garantiu que Llactapata, nossa próxima e última parada antes de Machu Picchu, daria uma excelente ilustração da teoria do Sr. Reinhard. Llactapata tem sido chamado de “Subúrbio Perdido dos Incas”, porque está assentada em frente ao vale de Machu Picchu e, com um par de binóculos decentes, é visível a partir dele. Bingham, sempre pressionando, passou apenas algumas horas lá em 1912. John me mostrou como, na manhã do solstício de Junho – o dia mais curto do ano no Hemisfério Sul e uma das mais sagradas datas no calendário inca – um corredor de Llactapata se alinha perfeitamente com o Templo do Sol em Machu Picchu e o ponto exato no horizonte onde o sol nasce. Os incas eram engenheiros soberbos; um eixo invisível assim não poderia ter sido uma coincidência.
“OK, mas o que isso significa?” Eu perguntei a John.
“Isso significa que todos esses locais que vimos não eram separados – eles estavam ligados de algum modo que Bingham nunca poderia ter imaginado, porque ele sempre estava com muita pressa”, disse John. “E, provavelmente, de maneiras que ainda não descobrimos também”
Depois de descer a pé o canyon que fica entre Llactapata e o Santuário Histórico de Machu Picchu, uma reserva com 80.000 hectares que contém o sitio principal e a Trilha Inca, os viajantes podem pegar um trem para Machu Picchu que serpenteia através do canyon do rio Urubumba. Ou, como John e eu fiz, eles podem dar uma escorregadela pela entrada dos fundos caminhando os últimos dez quilômetros através dos trilhos do mesmo trem. Logo chegamos em Aguas Calientes, uma caótica cidade turística que serve como uma espécie de ponto de entrada para Machu Picchu. Após duas semanas de tranqüilidade, longe da tecnologia, achei seus Internet cafés, promoções da happy hour e as lojas de souvenires dissonantes. Na manhã seguinte, compramos dois bilhetes e seguimos no ônibus que sobe o zig zag da estrada Hiram Bingham em direção ao nosso destino final. A primeira visão que alguém tem de Machu Picchu é um pouco parecido ao ver a Mona Lisa depois de olhar por anos sua imagem em um ímã de geladeira. Você sabe exatamente o que esperar, e ao mesmo tempo, não consegue acreditar que a coisa real excede o hype (hipérbole). Também como a Mona Lisa, Machu Picchu é mais compacta do que parece nas fotos. Em menos de uma hora John e eu fomos capazes de visitar a maioria das ruínas que Bingham viu a 100 anos, na mesma ordem que ele as encontrou: a caverna do Mausoléu Real, com suas paredes interiores, que pareciam ter sido derretidas, a curva perfeita do Templo do Sol; as estruturas titânicas da Praça Sagrada, montado a partir do que Bingham chamou de “blocos de tamanho ciclópicos, superior ao homem”, e, acima das ruínas principais, a enigmática pedra Intihuatana, em torno da qual uma multidão de visitantes misticamente inclinados estavam com suas mãos estendidas, na esperança de absorver qualquer boa vibração que irradia do granito. Ao meio-dia, quando o trem dos viajantes de um dia chegou, John e eu fizemos uma longa caminhada até o Portal do Sol mascando barras energéticas de quinôa e assistimos grupos turísticos enfrentarem o “descansa e vai” tráfego para cima e para baixo nas antigas escadas de pedras de Machu Picchu. Às três horas da tarde, a multidão que se hospedava em Cuzco evacuaram através da saída como a água de uma banheira, e nós perambulamos as principais ruínas por mais duas horas antes de pegarmos o último ônibus do dia às 5:30.Na última manhã de nossa viagem, ainda se sentindo um pouco anti-multidão, eu perguntei a John se ele sabia de algum lugar em Machu Picchu que Bingham tinha visto, mas que nunca atraiu a maioria das pessoas para visitar.
“Eu conheço exatamente o ponto”, disse sem hesitar. “Mount Machu Picchu”.
Subir uma escada de 1.ooo metros de altura não é algo que eu normalmente faço nas minhas férias. Mas a visão dos olhos do condor no topo do Monte Machu Picchu, um pico verdejante que paira acima das ruínas, era o tipo de coisa que obriga um homem citar Kipling. Uma vez no seu cume, tivemos visões de “apus” sagrados estendendo-se por todas as direções, o Rio Urubamba serpenteando o seu caminho em torno de Machu Picchu, no seu caminho para a Amazônia: e até mesmo a lotada Trilha Inca. Estávamos dentro dos limites de Machu Picchu, e ainda, como Bingham cem anos antes, podemos apreciá-la em paz.

Como já foi citado na primeira parte, pontos remotos como Choquequirao e Pampa Espiritu ainda pode ser alcançado apenas a pé, assim para visitá-los requer uma equipe de expedição como a que Hiriam Bingham organizou: um guia, (como John Leivers), mantimentos, cozinha, mulas e tropeiros. Mais fotos »

 

 

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