A criação e popularização da internet aceleram mudanças na estrutura interna dos tradicionais meios de comunicação e, principalmente, estão tirando dos jornais a função de serem unicamente os mediadores da notícia. Um exemplo disso é o fortalecimento dos blogs e redes sociais na difusão e especialização de informações. ‘As Novas Mídias’ é o tema do 19º Fórum de Debates Brasilians.org, que acontece agora em São Paulo.
O debate coloca em xeque antigos conceitos da medicação na comunicação e de cultura de massa e levanta novas possibilidades da interpretação do fenômeno. Célio Turino, historiador e um dos idealizadores dos pontos de cultura, convidado para falar do assunto, destaca o papel importante das redes sociais, e da internet em si, nas revoluções sociais que se seguem nos países árabes, Estados Unidos, Europa e, mais recentemente, na Rússia. O ambiente da web tem proporcionado a troca e a construção de informações que tanto servem para fomentar e organizar ações que estão resultando na queda de ditadores como para questionar o sistema econômico vigente e em crise.
ndo o historiador, o movimento que acampou em Wall Streent, Estados Unidos conseguiu muito bem sintetizar a luta de classes na mídia, quando se autodenominou de ‘Os 99%’, termo que partiu da frase do economista norte-americano Joseph Stiglitz: “1-1-1 – o 1% eleito pelo 1% governando para o 1%”.
Mas, continua, o que se observa é a falta de capacidade de construção narrativa desses grupos sociais, ou, a impossibilidade de olharem para trás e reconhecerem suas origens. “Sem essa capacidade o processo construtivo do mundo é dificultado”, defende.
O reconhecimento da tradição, palavra que na sua origem etimológica refere-se à traição, lembra Turino, é outra ferramenta importante para uma pessoa, ou grupo, entender seu mundo e, consequentemente, ser capaz de construir suas falas.
Portanto, o reconhecimento das tradições e das origens funciona como um fio construtor da personalidade. Não entendendo isso, uma pessoa, ou grupo, acaba sendo mais vulnerável a lógica do capitalismo, no campo cognitivo, ou seja, do conhecimento. “O maior exemplo é a empresa Google que domina mecanismos de busca que podem facilitar nossa vida, assim como um GPS, mas sempre será alguém que fará a condução por nós”, considera.
A rede mundial de computadores é uma plataforma que envolve a emergência de vários segmentos sociais e da construção própria dos desejos. Pelo menos é o que se espera, pontua Turino. “Pelo contrário, isso não acontece. Os desejos são induzidos, o capitalismo cognitivo [do conhecimento] desloca a necessidade própria das pessoas, da humanidade, e induz os desejos, na forma da perda do horizonte narrativo [da origem, da tradição pessoal, por exemplo]. A narrativa envolve a capacidade de abstração, de estabelecer um roteiro de vida que pode ser individual, de classe, ou de nação. E isso não é simples, envolve trazer o rumo da construção de ideias próprias”, alerta.
No caso do mercado, por exemplo, aceitamos o fato de sua regulação ser feita apenas pelo dinheiro, “que coisifica tudo”, portanto, não existindo um sistema de regras claras sobre seu funcionamento, simplesmente nos submetemos à força do dinheiro. Assim como o Estado, um sistema também abstrato que envolve um conjunto de poderes (jurídico, executivo, etc.), mediado pelo poder, submetendo a sociedade ao invés de se submeter a ela. A Igreja também entra no rol dos sistemas que comprometem a construção própria do discurso, nesse campo a mediação é feita pela fé.
A saída é buscar outros mediadores, além de mercado, estado e igreja. Para transpor essa barreira, Turino recorre a Jacques Lacan, psicanalista que viveu entre 1901 e 1981, tendo percebido que quando a criança reconhece sua imagem no espelho dá um salto cognitivo na auto-afirmação de personalidade. “Em termos de sociedade, esse direito [de se ver refletido] é negado”. Ou seja, quando uma sociedade é tratada na mídia, por exemplo, ela está sendo folclorizada, estereotipada.
Assim, o historiador defendeu que, para falar em primeira voz, a pessoa não deve apenas ter acesso a internet e suas ferramentas, mas sim se apropriar de sua identidade e desenvolver a austeridade, “que quer dizer a capacidade de nos vermos no outro”. E esse exercício não é fácil de fazer. Pois, antes é preciso reconhecer muito bem a própria identidade, em seguida a combinação dela com a austeridade envolve constantes exercícios de civilidade. Em resumo “capacidade de construir a personalidade de dentro para fora e de fora para dentro”.
Turino destaca que os pontos de cultura – entidades apoiadas financeiramente e reconhecidas pelo Ministério da Cultura por desenvolverem ações de impacto sócio-cultural em suas comunidades – são fundamentais para a consolidação desse processo. Existem atualmente 3 mil pontos reconhecidos pelo governo. Um deles é o pontão Índio Online, canal que permite a diversas tribos indígenas produzirem seus próprios documentários, divulgados na internet.
“O que vai emergir dessa nova mídia é um salto para a inclusão com a emancipação de pessoas”, mas Turino alerta também que o desenvolvimento das novas mídias também pode ocorrer com o pior do mundo do consumo.
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