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Agente operador gera aumento de contratos

Criada no fim do ano passado com o objetivo de reduzir a volatilidade de preços do etanol e de reforçar a visão do produto enquanto commodity, a resolução 43 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Naturas e Biocombustíveis (ANP) começa a apresentar resultados positivos. A medida remodela o mercado, criando as figuras dos agentes comercializador e operador do mercado de etanol, o que já permitiu um aumento de praticamente 100% no número de contratos comercializados na BM&F Bovespa.

De acordo com o diretor de Abastecimento da agência, Allan Kardec Duailibe, a resposta do mercado em relação ao agente operador foi uma surpresa. O novo agente, responsável por negociar títulos na bolsa de mercados futuros, incentivou a criação de dois novos contratos pela BM&F em maio deste ano. Neste mês, o número de contratos fechados foi 580, saltando para 1.115 contratos em junho, um aumento de praticamente 100%. 

Duailibe explica que as medidas foram formuladas pra ter uma resposta do mercado no médio e longo prazo, já que se trata de uma adição de dois novos atores onde antes apenas três figuravam, o produtor, o distribuidor e o revendedor.  “Esperávamos respostas do mercado no médio e longo prazo, mas o aumento no número de contratos nos deixou com as melhores expectativas”, diz o diretor.

Em relação ao agente comercializador, por enquanto nenhum se estabeleceu após a medida. No momento as empresas avaliam o cenário e estudam a entrada no ramo. De acordo com Duallibe, há um número crescente de produtores consultando a agência para entender como podem entrar no ramo de comercialização. Ele acredita que uma resposta mais agressiva deverá vir nos próximos meses, com uma maior procura de empresas.

Na prática, já existem duas comercializadoras no Brasil, Copersucar e a CPA Trading. O comercializador é responsável pela compra e venda física do produto, com capacidade de estocagem.

Novo modelo

Embora ainda considerem cedo para fazer avaliações, já que a medida tem apenas sete meses e esteja passando pela sua primeira safra, agentes do mercado a consideram uma ação acertada da agência, já que atende uma demanda antiga e torna as negociações mais flexíveis.

O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz, diz que as mudanças são bem vindas, mas ainda é cedo para avaliar seus impactos no setor.  Ele reforça a preocupação com a instabilidade de preços e o esforço da ANP no combate as oscilações, mas lembra ser necessária a devida fiscalização dos comercializadores que podem vir a entrar no mercado, no intuito de combater possíveis fraudes.

Na prática, o agente operador já existia antes da medida, mas era impossibilitado de efetuar a entrega física do produto. Para o diretor-técnico da única, Antônio de Pádua Rodrigues, esse foi um dos ganhos da medida. Ele acredita que deverá crescer o número de empresas que fazem hedge do produto.   

Rodrigues, explica outras mudanças e vantagens ao setor com a resolução, como a possibilidade criada pelo comercializador de escoar a produção para outros estados.  

“O preço de compra é um só em São Paulo. Um produtor do estado pode fornecer no Rio Grande do Sul, se ele estiver lá instalado, sem que ocorra a contaminação de preço”.

Outro ponto abordado por Rodrigues é que pode haver negócios entre os produtores, com isonomia tributária. Pode ser vendido o etanol carburante, de forma a complementar a produção e cumprimento da entrega, com a mesma alíquota. 

Em relação à volatilidade, o diretor salienta que essas medidas trazem mais segurança, pois o mercado produtor de etanol possui alguns riscos, como clima, produtividade e oferta, o mesmo não ocorre com o mercado comprador. “Precisamos criar um ambiente mais equilibrado entre os agentes. O produtor tem mais ônus financeiro”. Uma das possibilidades de redução da volatilidade de preço é a estocagem pelos comercializadores, que vão contar com uma linha de crédito do BNDES.

A agência tem participado de seminários e fóruns de discussão em vários países, apresentando a nova organização do mercado e as vantagens do etanol brasileiro. De acordo com Duallibe, há ainda muitas críticas em relação ao produto, mas não mais questionamentos tecnológicos. O foco dos questionamentos é social e ambiental, mais especificamente sobre trabalho escravo e desmatamento da Amazônia.  “Comprovada a viabilidade técnica do etanol, as críticas agora são em relação ao trabalho escravo e desmatamento da Amazônia. Abas são infundadas, pois o governo tem atuado para inibir desmatamento e o foco da produção é em São Paulo. Sobre trabalho escravo, há um processo de mecanização, reduzindo cada vez mais o trabalho do corte”.

Entenda

A resolução 43 foi aprovada no dia 22 de dezembro do ano passado. À época, a agência informou que a medida contribuir para o aperfeiçoamento do processo de comercialização do produto, aumentando a segurança e a regularidade do abastecimento de etanol. Os resultados previstos são a redução nas oscilações de preço decorrentes da sazonalidade e o aumento da liquidez dos contratos futuros de etanol negociados na BM&F.

O comercializador pode ser um produtor, ou mais, organizados em cooperativas, de modo desverticalizado, ou seja, não pode ter ativos de produção ou industrialização de etanol. A capacidade de estocagem é fundamental para a comercialização na entressafra.

A introdução do agente comercializador no mercado pretende trazer ganhos de eficiência para o abastecimento, permitindo o compartilhamento de logística e de instalações de estocagem entre unidades produtoras e a formação de estoques. O novo agente também contribuirá para maior facilidade de financiamentos e de captação de capital para lastrear os custos de operação.

Operador negocia na Bolsa de Mercados Futuros os títulos que podem ter entrega física ou não. A atuação do agente operador de bolsas proporcionará mecanismos de proteção financeira em períodos de entressafra, além de criar uma referência para preços futuros do produto, que hoje funciona praticamente no mercado à vista.

Redação

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