CIA, Manuela e Araraquara, por Rogério Mattos

CIA, Manuela e Araraquara, por Rogério Mattos

Com a confirmação de Manuela D’Ávila da invasão de seu celular em 12 de maio, a narrativa da “quadrilha” presa pela Polícia Federal parece achar sua prova de verdade. Porém, com ele não encontramos o fio da narrativa: entramos no mundo de fumo e espelhos, o mundo das agências de espionagem e de seus funcionários, ocultos ou não.

Assim, mesmo sob um monte de questionamentos, muitos estão depositando esperanças que as mensagens dos celulares dos suspeitos possam confirmar o material do The Intercept…

Foi esquecido muito facilmente que Sergio Moro, num espaço curtíssimo de tempo, visitou por duas vezes os Estados Unidos. Na primeira vez, constava em sua agenda a visita aos órgãos de inteligência, referência logo depois apagada. O questionamento, nesse caso, é muito simples: por que o álibi do contato do “hacker” com a Manuela se o The Intercept mantém um link para fontes fornecerem materiais? [aqui] Quando Julian Assange foi preso, Pepe Escobar o exaltou ao mesmo tempo em que colocava dúvidas a respeito do trabalho de Greenwald. Mas qual a virtude ou o defeito deste? Ele se tornou, pós-Snowden, numa fonte confiável e num editor, fazendo o trabalho jornalístico que a Wikileaks não faz. Esse trabalho jornalístico dá uma dimensão qualitativamente superior ao Intercept em comparação ao Wikileaks [escrevi sobre isso aqui] . Para que a ânsia de saber o telefone do Glenn Greenwald? Mais uma prova de seu “amadorismo”? Nesse caso, com o suposto contato de tantas pessoas e podendo ganhar muito dinheiro, podemos chamar os hackers simplesmente de “ingênuos”? O mais provável é que esse rastro de verdade (a confirmação do contato por Manuela D’Ávila) está servindo para se fazer uma montagem do trabalho das agências de espionagem estrangeira por cima do material dos estelionatários. Alguém soube desse contato previamente ou o provocou e agora o usa. Todo o resto da história são meras probabilidades. Como se sabe, o modo de agir tradicional de todo setor de inteligência é usar um rastro de verdade para dar lastro a uma mentira imensa. Como operação criada por essas agências estrangeiras, a Lava-Jato é o maior exemplo atual desse princípio. Verifica-se uma corrupção residual e recorrente e se cria o maior caso de corrupção da história do país… Quantos tolos mais serão enganados? Veja também: O método do The Intercept segundo seu editor Rogério Mattos: Professor e tradutor da revista Executive Intelligence Review. Formado em História (UERJ) e doutorando em Literatura Comparada (UFF). Mantém o site http://www.oabertinho.com.br, onde publica alguns de seus escritos.
Redação

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