Corrompidos, todos fomos, somos ou seremos…

Sarney foi um presidente fraco que se sabia fraco. Poderia ter sido removido do poder, mas nele foi convenientemente mantido em razão de se adaptar perfeitamente ao poder do PMDB. Sarney foi “filhote da ditadura”, mas teve a capacidade de se refazer durante a redemocratização. O PMDB de Ulisses Guimarães também foi “refeito” por Renan Calheiros, mas isto não é um elogio. 

Do tempo de Sarney lembro-me de uma história picante, que mostra como todos nós podemos corromper e ser corrompidos. O congelamento gerou desabastecimento de tudo, inclusive de cerveja. Naquela época, toda sexta-feira eu e alguns amigos perambulávamos de bar em bar à procura do líquido precioso em Osasco SP. Quando encontrávamos uma boa alma que tinha o produto e queria vendê-lo, fazíamos a festa.

Certa vez, chegamos num bar em que o dono tinha umas 20 latinhas de cerveja para vender. Eu e três amigos compramos todas, pagamos adiantado o preço abusivo pedido pelo comerciante. Depois nos sentamos e ficamos vagarosamente tomando nossas birras e discutindo amenidades. 

Um  outro consumidor chegou e pediu cerveja. Não tenho, disse o dono do bar. O cara pediu uma caipirinha e sentou-se na mesa ao lado da nossa. Então eu levantei, fui até o balcão e peguei mais uma rodada de cervejas. Quando cheguei à mesa o cara levantou e foi tomar satisfações com o dono do estabelecimento.

Mas que porra é esta! Você disse que não tem cerveja e depois vende três latinhas para aqueles malucos sentados ali- disse urrando e apontado para nós. Calmamente o dono do bar disse-lhe que nós havíamos comprado todas as cervejas que ele tinha, pagando adiantado. O notívago frustrado fez menção de vir até nossa mesa. Eu e meus três “manos” levantamos demonstrando nitidamente nossa hostilidade. O sujeito pegou a caipirinha dele, foi sentar numa mesa distante e ficou resmungando.

O que corrompe não é o excesso, mas a carência. Há sempre alguém querendo ser corrompido. Há sempre algum disposto a corromper. A necessidade e a oportunidade ligam os pontos.

Há os que corrompem diretores de petrolíferas. Há os que corrompem um dono de bar. O conflito resultante da corrupção é sempre previsível. Mas nem sempre acaba em pancadas ou em prisão, pois um canalha violento sabe muito bem quando pode e quando não deve correr o risco de confrontar quem se tornou o dono da situação por algum motivo.

A corrupção sempre acarreta um sobre-preço pago voluntariamente. Aplica-se neste caso uma versão totalmente inversa da lei de mercado, pois a oferta e a procura não é regulada pela competição e sim pelo desejo de controle daquele que está disposto a pagar mais caro para obter o que deseja excluindo os competidores.

Apóio a repressão à corrupção na Petrobras, desde que a mesma ocorra dentro da legalidade. Mas não apoiarei um movimento genérico contra a corrupção, nem a utilização do falso-moralismo para depor a presidenta que ajudei a eleger. Afinal, por uma razão ou por outra, todo ser humano é passível de se corromper. E certamente há na oposição vários corruptos que se fazem de santos porque querem ficar impunes. Mais uma birra, please…, mas sem ágio, pois o preço não está tabelado.