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Crise: O Efeito Dominó do Brexit

O EFEITO DOMINÓ DO BREXIT

 

REFERENDO SOBRE O BREXIT

Referendo com participação histórica no Reino Unido

Numa jornada histórica, que teve na mira de todo o mundo, o Reino Unido foi às urnas para decidir se mantém-se ou não na União Europeia. As primeiras prévias davam vantagem à permanência na UE.

 

A rede de noticias Sky News anunciou que os primeiros indícios do resultado dariam à campanha por “permanecer no Reino Unido” uma estreita margem.Ao longo do dia em que 47 milhões de britânicos se reúnem para votar no referendo sobre a filiação do país à União Europeia, prévias da intenção de voto mostram um resultado muito apertado. A relação do Reino Unido com a UE está por um fio.

Segundo uma projeção de YouGov, baseada numa enquete de 5.000 pessoas durante os comícios, a opção de “permanecer” levaria a dianteira com 52%, enquanto que a opção por “sair” obteria 48% dos votos. Por outra parte, a City parecia ter plena confiança em que o Reino Unido ficará na UE.

Na votação de 23 de junho a pergunta a que deviam responder os britânicos era: “Deve o Reino Unido seguir sendo Parte da União Europeia?” a qual seguiam duas opções “Sair” e “Permanecer”.

Segundo a Comissão Eleitoral algo mais de 46 milhões de pessoas se registraram para votar sobre a filiação do Reino Unido na União Europeia, uma cifra recorde, em particular se se tem em conta que no Reino Unido o voto não é obrigatório. A contagem de votos se fará em 382 estações eleitorais e o resultado se anunciará na sexta-feira, 24/06, na cidade de Manchester.

A campanha eleitoral do referendo esteve marcada por um alto grau de tensão e polarização social. Só uma semana antes da consulta, a jovem deputada trabalhista Jo Cox, morreu logo que recebeu vários tiros durante uma fala em um debate a favor de permanecer na União.

Trata-se da segunda ocasião em menos de 2 anos na que se convoca aos britânicos a ir às urnas para decidir sobre questões relacionadas com a soberania de seu país. Em 18 de setembro de 2014, a consulta dizia: “Deveria a Escócia ser um país independente? Sim ou Não”. Nessa ocasião, o “Não” à independência se impôs com 55,3 % dos votos, frente a 44,7 % dos partidários pela separação.

No marco de uma intenção de voto tão ajustada, cada voto vale. No entanto, interrupções na rede de transporte urbano do povoadíssimo sul de Londres pelas chuvas, deixaram milhares de pessoas paradas nas estações mais transitadas da cidade. Isto poderia ter afetado negativamente o voto por “permanecer’, já que Londres é um bastião da opção europeísta.

As chuvas intensas e as fortes tempestades dos últimos dias tem feito estragos na rede suburbana. Na estação de Waterloo, pela qual diariamente circulam umas 250 mil pessoas, não se registraram serviços. Outras estações de muito trânsito, como Cannon Street, Charing Cross, London Bridge e Victoria, também se viram afetadas – todas elas recebem diariamente trabalhadores dos serviços, empresas, dependências públicas que deixaram suas casas muito cedo antes de abrirem os locais de votação. Várias linhas da rede ferroviária também tiveram seus serviços interrompidos.

A diferença de outras votações é que nesta ocasião não terá pesquisa de boca de urna, por tanto, a imprensa não terá previsões e terá que esperar até a madrugada de sexta-feira para ter uma aproximação do resultado da consulta.

Algumas pesquisas predizem que vários distritos de Londres e Oxford seriam áreas segura para o voto a favor de ficar, já que é um eleitorado jovem, muitos deles graduados. Outras cidades do país, como Manchester e Bristol, com bairros muito populares apontariam à opção europeísta também.

As mesas eleitorais abriram às 07:00 da manhã e fecharam às 22:00 hora local, num clima de normalidade numa jornada de presença constante às mesas.

REFERENDO SOBRE O BREXIT

O Brexit, o establishment e a classe trabalhadora

Alguns elementos sobre a campanha do brexit e o voto dos setores descontentes com o establishment. Um “trumpismo” britânico? A crise do laborismo e sua campanha

Josefina L. Martínez

Madrid | @josefinamar14

Em um artigo publicado dia 10 de junho no The Guardian, o jovem intelectual britânico Owen Jones observa que se a opção do brexit resulta vencedora (no momento da publicação desse artigo as pesquisas favoreciam a opção pelo brexit sob a escolha do “remain”), será em parte sobre os votos de um setor da classe trabalhadora descontente. Que o partido laborista está fracassando em chegar – com a campanha a favor de seguir dentro da UE- a um grande número de trabalhadores e setores pobres, camadas sociais que o laborismo supostamente “representava”.

Segundo uma pesquisa de YouGov realizada nos dias 5 e 6 de junho, os partidários por permanecer alcançavam 43% frente a 42% dos dispostos a saírem. A separação por afinidades políticas mostra que entre os votantes conservadores a opção por sair sobe para 50%, enquanto apenas 39% se pronuncia por permanecer e 10% se mantem indeciso.

A comparação da intenção de voto entre homens e mulheres não expõem grandes diferencias percentuais. Mas um contraste notório aparece pela segmentação social do voto. Nesse caso, os integrantes da franja ABC1, de maior renda, escolhem permanecer com um percentual de 52%, contra 36% pela proposta de sair. Enquanto que no outro polo social, o C2DE de menor renda, se inverte a proporção: 32% se inclinam por permanecer, enquanto 50% preferem sair da União Europeia.

Um primeiro Ministro conservador como Cameron, alinhado com o establishment numa campanha por permanecer, fortalece a vontade de “sair” de parte dos setores sociais descontentes, os que não se pode convencer ameaçando com o risco de instabilidade, pois suas vidas já são por si inseguras, diz Jones. Um sentimento de descontentamento e medo, aproveitado pela extrema direita e os partidários da campanha pelo brexit. Do lado do “remain” se encontra a City londrina, os ricos com empresas off shore e seus amigos os políticos de Westminster, um conjunto que gera profundas rejeições.

Por isso os líderes da campanha do brexit representam uma sorte de “trumpismo” em toda a linha, aponta Jones, uma campanha de setores que buscam uma maior concentração da riqueza e do poder, fazendo se passar por protetores da “rebelião anti establishment” que destila um forte sentimento anti- imigrante.

É dessa forma, que expressam, por uma direita e de forma reacionária, as frustações, de setores de trabalhadores que viram se degradar suas condições de vida, que identificam essa situação com os “políticos de Londres”, com a adesão à UE e que percebem os imigrantes como ameaças.

A campanha de Corbyn, em oposição, se diferencia da “oficial” dirigida por Cameron e promove o discurso de que no abandono da UE se perderá o “marco social europeu” de direitos. Sua campanha encontra apoio em outros setores de trabalhadores e jovens, que repudiam a ofensiva xenófoba de Farage.

Sem dúvidas, a campanha do laborismo tem sido pouco convincente. Owen Jones, que esta terça feira se encontrava na Espanha apoiando a campanha de Unidos Podemos para as eleições de 26 de junho, considera que ao laborismo falta mais ênfase na proposição de “permanecer na União Europeia para mudá-la” por dentro. Sem dúvida, as próprias contradições de Corbyn no laborismo – com os setores mais conservadores do mesmo -, assim como as limitações de seu frágil programa de reformas, impedem contrapor a “radicalidade” do discurso da direita e os eurocéticos.

Racismo e euroceticismo

Nas últimas semanas da campanha do brexit adotou-se um viés cada vez mais centrado na questão da imigração. Os cartazes de campanha de Farage do UKIP, colocaram o eixo claramente nessa questão.

Segundo a pesquisa YouGov, diante da pergunta “Você acha que haverá mais ou menos imigração no ReinoUnido se sairmos da UE, ou não haverá nenhuma diferença? ”. Os partidários da saída da UE, se inclinam em 87% pela afirmação de que sair significará menos imigração em Reino Unido, algo que esperam alcançar.
Um forte sentimento anti imigrante que promove e aproveita a campanha da extrema direita, mas que também tem sido estimulada pelo governo Cameron e outros defensores de seguir na UE. É dizer, que na “cruzada ant imigrante”, Farage e os seus semelhantes são tidos como representantes mais decididos de uma política e um discurso que também tem influenciado dirigentes políticos do campo de continuar como parte da UE.

Enquanto que Corbyn e uma ala a esquerda do laborismo sustentam a solidariedade com os refugiados, o rechaço ao racismo e a xenofobia como questão central, sua campanha se vê prejudicada nesse ponto por compartilhar o campo de “permanecer” com os conservadores e Cameron.

Permanecer ou sair?

Os trabalhadores que lutam contra os ataques do governo, pela defesa da saúde e da educação, a juventude que se solidariza com os imigrantes e forma parte de redes de ativistas solidários, não tem nada a ganhar com esse referendum em que competem duas opções igualmente reacionárias: uma política nacionalista anti imigrante representada por Farage e os partidários do Brexit, ou uma alternativa europeísta xenófoba e austeritária, dentro da União Europeia.

Owen Jones, como Podemos e grande parte da esquerda “europeísta”, propõem uma estratégia de votar por “permanecer para mudar por dentro”. Mas se esta estratégia já fracassou na Grécia com o governo do Syriza, se mostra ainda mais equivocada nesse caso, quando a campanha por seguir na UE liderada por Cameron e as grandes multinacionais britânicas.

Então, votar por “sair” ou por “permanecer”? Nesse caso, a única opção política independente de classe passa pela abstenção e por difundir uma posição anticapitalista e internacionalista.

 

REFERENDO SOBRE O BREXIT

 

Reino Unido: a esquerda e o referendo pelo brexit Alejandra Ríos

Londres | @ale_jericho

O destino do Reino Unido e sua relação com a UE será decidido no referendo; entretanto, essa discussão foi artificialmente instalada pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, logo após as eleições de maio de 2015. Temeroso de mais deputados saírem para o partido de extrema direita UKIP (Partido Independente do Reino Unido), o primeiro-ministro convocou o referendo para apaziguar a ala eurocética de seu próprio partido.

Nos últimos dias, as discussões econômicas foram desprezadas pelo debate em torno da imigração. Isso se aprofundou com o terremoto político que significou o assassinato da jovem deputada trabalhista, Jo Cox, que gerou a suspensão momentânea das campanhas pelo referendo. E se exasperou ainda mais quando se soube que uma das principais pistas da investigação do assassinato levava à relação do atacante com grupos de ultradireita, nacionalistas e anti-imigrantes. Por sua vez, o UKIP reforçou sua política anti-imigrante ao revelar um cartel de campanha que tem claras associações com um outdoor de propaganda nazi que desperta medo e é uma antecipação da narrativa que seguramente se fortalecerá, se ganhar a saída da UE.

Com as sondagens das últimas semanas mostrando vantagens em vários pontos para os brexit, – ainda que as novas enquetes prevejam uma leve vantagem à permanência – e tenham a queda da bolsa como pano de fundo, Cameron e o establishment empresarial e político alçam sua campanha com declarações alarmistas sobre o futuro do país. E dizem: o brexit significa o colapso da economia do país, a falta de remessas da UE, a ausência de instâncias para negociar a cota de imigrantes com as competências necessárias para incorporar-se ao mercado de trabalho.

O debate do referendo do Reino Unido fortaleceu os setores nacionalistas e anti-imigrantes que acusam os imigrantes de todo o mal que existe e por haver no país desde o esvaziamento do sistema nacional de saúde, passando pela falta de desenvolvimento industrial e a crise econômica. Essas manifestações de polarização e o grau de rivalidade política – não vista em nenhuma campanha eleitoral nas últimas décadas – põem em cheque a jogada de Cameron.

Por que escolher entre Cameron ou Farage?

Lamentavelmente, quase todos os grupos e setores da esquerda britânica acabaram presos em uma das duas opções da pergunta do referendo: deve o Reino Unido seguir sendo um membro da União Europeia ou deve abandoná-la? As respostas possíveis são duas: Remain a member (permanecer) ou Leave (sair).

A luta pelos direito dos trabalhadores e das trabalhadoras, dos migrantes, da população pobre não se encontra em nenhum dos dois bandos do referendo, e a primeira resposta da esquerda deveria ser denunciar o referendo pelo que ele é, uma manobra de Cameron para solucionar sua própria divergência interna.

O Socialist Workers’s Party (SWP) é parte da plataforma “#Lexit: a campanha por uma saída pela esquerda da UE” com outras organizações políticas de esquerda. Em seu texto de apresentação, dizem, corretamente, que os votantes merecem mais que optar entre a posição europeísta de Cameron (ou o sonho impossível de uma “Europa Social”), por um lado, e a campanha reacionária eurocética da UKIP e a ala direita do partido conservador, por outro. Para enfrentar essas falsas opções, argumentam, lançaram o #Lexit (acrônimo de “esquerda” e “saída” em inglês, com o fim de impulsionar uma campanha “principista, antirracista e internacionalista comprometida com a democracia, a justiça social e a sustentabilidade do meio ambiente”. Lexit é apoiada por Counterfire e o Partido Comunista da Grã-Bretanha e por Antarsya (Grécia).

Justificam votar pela saída com os seguintes argumentos: a UE segue uma agenda patronal, que inclui negociações secretas da Associação Transatlântica para o Comércio e o Investimento (ATCI) e os programas de austeridade na Grécia, Chipre, Irlanda e Portugal. Em segundo lugar, a UE é ingovernável, com instituições megaburocráticas como a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE). Terceiro, o argumento de que a UE defende os direitos dos trabalhadores é um mito, todas as conquistas são produto da luta. Em quarto lugar, a UE é uma fortaleza europeia envolvida em planos de deportação massiva, e a livre mobilização dos trabalhadores se aplica exclusivamente aos comunitários. Por último, no plano político, não representará automaticamente um giro à direita. Se o Reino Unido sair da Europa, poderia se desenvolver uma grande crise para a classe dominante.
Em relação ao assassinato de Jo Cox, opinam que é produto da atmosfera de racismo e islamofobia na qual os imigrantes e refugiados são o bode expiatório.

Ninguém na esquerda nega a agenda liberal da UE nem seus aspectos reacionários; contudo, grupos solidários com o movimento migratório opinam que, caso ganhe o brexit, o racismo aumentará.

A posição do SWP não deixa de ser perigosa, porque a campanha pela saída está associada com o Farage e a extrema direita. Como pode um Farage encorajado representar uma situação melhor para a luta e abrir uma situação favorável às massas?

O Socialist Party (pertencente ao Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores) se localiza pela saída da UE também. Em seus materiais, argumentam que o fazem desde uma perspectiva internacionalista de classe e que se trata de uma oportunidade para que os trabalhadores expressem sua oposição ao governo conservador e à classe capitalista. Sobre o assassinato de Jo Cox, sustentam que, ao não haver uma campanha de independência de classe em torno do referendo que unifique a voz contra a austeridade e o racismo em um só grito, não se pode descartar um resultado perigoso do referendo com um aumento dos ataques a migrantes e pessoas das minorias étnicas.

Por sua vez, tanto Socialist Resistance (organização-irmã do NPA, França) como Left Unity, a formação que conta com o apoio do cineasta Ken Loach, localizam-se no outro extremo do arco político. Em seu folheto “A União Europeia e o Referendo: por um voto crítico a favor de ‘permanecer’ contra a xenofobia”, denunciam o caráter antidemocrático e neoliberal da UE, suas instituições e do referendo. Argumentam que a campanha pela saída da UE é um projeto da direita xenofóbica e que seu triunfo alimentará o sentimento anti-imigrante e racista no Reino Unido e na Europa. Descartam absterem-se pelas terríveis consequências do brexit.

A organização Left Unity trata de estabelecer um diálogo com as pessoas que defendem que permanecer é mais progressivo, mas seu ponto débil é o embelezamento do projeto europeísta. Posiciona-se fortemente contra o governo conservador e suas políticas de cortes, porém, ao discutir com a esquerda que defende o contrário, esclarecem que a vitória do brexit lhe daria poder e credibilidade à extrema direita e ao sentimento anti-imigrante.

As posições cruzadas, por permanecer e por sair da UE, têm dividido a esquerda britânica. O referendo se apresentava à esquerda como uma oportunidade de denunciar conjuntamente e de maneira militante que se trata de uma disputa burguesa e negar-se, assim, a tomar partido nesses bandos. Depois de tudo, o debate está dominado inteiramente por campos burgueses: o de Cameron com um discurso pró-empresarial e neoliberal e o de Farage com uma narrativa populista de direita.

Os jovens descontentes com o establishment que se mobilizaram pela candidatura de Jeremy Corbyn seguem ativos em outros fenômenos políticos. Vão aos centros de detenção de imigrantes, trabalham como voluntários em Calais e se mobilizam na luta contra o racismo e pelos direitos dos imigrantes e se pronunciam pelo pertencimento à UE.

Diante da perspectiva do fortalecimento da ideologia reacionária – no marco da ausência de uma campanha que defenda uma solução independente, a favor dos trabalhadores, do povo pobre, da luta das mulheres, dos direitos dos imigrantes e da comunidade LGBT, permanecer na UE é visto como um mal menor.

No entanto, é necessário defender claramente que não é uma alternativa. A luta contra o nacionalismo xenófobo e racista está necessariamente unida à luta contra União Europeia do capital, por uma perspectiva internacionalista e de classe.

BREXIT

Reino Unido vota pela saída da União Europeia

As redes de televisão britânicas BBC e ITV, acompanhadas pelos principais periódicos digitais como o The Guardian, The Independent, e os jornais das finanças como o Financial Times, anunciaram antes do final da votação a diferença de quase 1 milhão de votos que colocava ponto final no resultado do plebiscito, que resultou na votação da saída do Reino Unido da União Europeia. Grande derrota para o primeiro ministro David Cameron a um ano de sua reeleição.

 

Reino Unido vota pela saída da União Europeia

 

André Augusto

São Paulo| @AcierAndy

 

Nesta sexta-feira pela madrugada se confirmou a decisão histórica do Reino Unido de se separarem da União Europeia, o bloco político e econômico que hoje congrega 28 países e ao qual aderiram em 1973. O processo ainda precisa passar pelo Parlamento, mas um veto pelos legisladores é considerado suicídio político.

As principais redes de TV britânicas —BBC, Sky News e ITV— projetaram a vitória da saída logo após as 4h30 de Londres (0h30 do Brasil). Pesquisa do instituto YouGov divulgada logo após o fim da votação apontava 52% para a permanência e 48% para a saída da UE — sinal de quão acirrada foi a disputa.

A consulta popular registrou índice histórico de comparecimento — 71% do eleitorado— e recorde de 46,5 milhões de eleitores registrados.

O processo de negociação da ruptura deve levar dois anos. Com votos de 87% dos distritos do Reino Unido apurados, a opção por deixar a União Europeia prevalecia, abalando mercados financeiros e provocando uma onda de choque e incredulidade global.

Nigel Farage, líder do partido xenófobo de extrema direita UKIP (Partido da Independência do Reino Unido), um dos capitães da campanha pró-saída, “declarou” o 24 de junho como o “Dia da Independência” do Reino Unido.

Nem bem terminada a contagem, a libra esterlina (moeda inglesa) afundava nos mercados financeiros internacionais, perdendo mais de 9%, sua pior marca desde 1985, e arrastando atrás de si as bolsas asiáticas de Hong Kong e de Tóquio, que perderam mais de 5%.

Este resultado, temido por todo o establishment político e midiático, representa uma enorme derrota para o primeiro ministro David Cameron, que muito provavelmente deverá renunciar ao cargo. Cameron, que foi reeleito em maio de 2015 durante uma crise dentro do Partido Conservador (Tories), prometeu como resultado do triunfo eleitoral convocar um plebiscito pela permanência do Reino Unido na UE como forma de apaziguar as disputas internas com o líder Conservador e ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, que encabeçou a campanha pelo Brexit.

Trata-se da segunda ocasião em menos de 2 anos na que se convoca aos britânicos a ir às urnas para decidir sobre questões relacionadas com a soberania de seu país. Em 18 de setembro de 2014, a consulta dizia: “Deveria a Escócia ser um país independente? Sim ou Não”. Nessa ocasião, o “Não” à independência se impôs com 55,3 % dos votos, frente a 44,7 % dos partidários pela separação.

Nas regiões de composição majoritariamente operária, como o nordeste e sudeste da Inglaterra, a votação pela saída da União Europeia foi majoritária. Excetuando-se Liverpool, as regiões nordeste, noroeste, leste, sudeste e sudoeste da Inglaterra votaram pelo Brexit. Em Sunderland a diferença foi de mais de 22%, alcançando 67% dos votos pela saída. Na zona de Newcastle (uma cidade universitária, mas com grandes bolsões de empobrecimento fruto da desindustrialização e perda de emprego) onde era esperada a vitória com folga do “Remain” (permanecer), esta opção ficou apenas 1% acima do Leave (sair).

A Escócia votou majoritariamente pela permanência, enquanto a opção pelo Brexit venceu no País de Gales e na Irlanda do Norte. Isto deixa em aberto o futuro destes países como parte do Reino Unido da Grã-Bretanha, assim como inspiram o fortalecimento das forças políticas de extrema direita que se utilizaram da campanha pela saída da UE como tribuna de xenofobia contra os imigrantes.


Nigel Farage, líder do UKIP

Um partido da Irlanda do Norte, Sinn Fein, postou em sua conta de Twitter que “o governo britânico abdicou de qualquer mandato para representar os interesses econômicos e políticos do povo da Irlanda do Norte”, exigindo plebiscito separatista do Reino Unido. Patrick Harvie, líder do Partido Verde Escocês, disse que “apoiaria” um novo referendo pela separação da Escócia frente à Inglaterra, caso a líder do SNP (Partido Nacional Escocês), Nicola Sturgeon, queira convocá-lo.

Já Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade, de extrema direita na Holanda, parabenizou os britânicos e disse que “é hora dos holandeses saírem da União Europeia. Referendo na Holanda já!”.

O chanceler George Osborne já havia anunciado que no caso do Brexit vencer, haveria “necessidade de cortar gastos e aumentar impostos” pelas dificuldades econômicas que veria com a queda da libra. Analistas econômicos, em parte para enfatizar a campanha em favor do “Remain”, como o ex-secretário do Tesouro norteamericano Lawrence Summers e o colunista-chefe do Financial Times, Martin Wolf, enfatizaram os problemas derivados da desvalorização da libra esterlina no pagamento da dívida estatal britânica, o encarecimento do crédito para as finanças londrinas e a queda no investimento estrangeiro direto como consequência das incertezas da saída.

Entretanto, quanto mais campanha faziam os meios oficiais e o governo em favor da permanência na UE, mais se aprofundava o sentimento de repúdio ao sistema e o empobrecimento de amplas camadas de trabalhadores fruto da crise econômica mundial. Este rechaço ao regime político tradicional e seus partidos (que na Inglaterra está composto principalmente pelos conservadores e os trabalhistas do Labour Party) atravessa alguns países centrais da Europa e também os Estados Unidos, dando origem ao crescimento de fenômenos de extrema direita como o UKIP de Farage e organizações paramilitares como o Britain First, responsável pelo assassinato da deputada do Labour, Jo Cox, durante a campanha do plebiscito.

Como dissemos no Esquerda Diário, os trabalhadores que lutam contra os ataques do governo, pela defesa da saúde e da educação, a juventude que se solidariza com os imigrantes e forma parte de redes de ativistas solidários, não tem nada a ganhar com esse referendum em que competiram duas opções igualmente reacionárias: uma política nacionalista anti-imigrante representada por Farage e os partidários do Brexit, ou uma alternativa europeísta xenófoba e austeritária, dentro da União Europeia.

 

 

 

 

 

Redação

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