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Ganhadores e perdedores

Caros,

 

Essa eleição, embora ainda não terminada, já aponta alguns ganhadores, um grande perdedor e algumas incógnitas.

 

Entre os ganhadores, a democracia brasileira, o presidente Lula, Dilma e Aécio. Entre os perdedores, Serra, o PSDB paulista e o PIG.

 

A democracia brasileira sai fortalecida pela resistência que demonstrou à sucessão de baixarias de viés fascista do candidato da oposição. A pior das baixarias não foram as agressões explícitas ou veladas, as chamadas telefônicas, os vídeos satanizadores, a campanha do bem contra o mal, a política do terror. Como escrevi ontem, a direita golpista brasileira (seus partidos e seus aliados na imprensa tradicional) usou desses expedientes sempre que disputou eleições na nova democracia, e sempre contra Lula. A pior das baixarias foi o escárnio com que Serra tratou o eleitor brasileiro. Um pessedebista que acordasse de um coma de 2 anos para assistir aos programas eleitorais desta semana que finda pensaria que Serra tinha sido finalmente escolhido por Lula para sucedê-lo  Ele se apropriou das políticas de Lula como se fossem suas; mostrou obras pelo Brasil como se fossem de seu governo; acusou Lula de privatizar a Petrobras; usou todos os argumentos da campanha de Dilma, que mostraram os estrondosos avanços do governo Lula em relação ao o de FHC, invertendo-os a seu favor. O nome disso é embuste, e só alguém que pensa ser o povo brasileiro idiota pode imaginar que uma estratégia dessas seria exitosa. Essa a maior baixaria de Serra. Tripudiar do eleitor. Dizer, na cara dele, e sem corar, que sabe que ele é idiota. Manipulável. Burro. Ao mostrar-se capaz de dicernir o certo do errado, o verdade do embuste, o povo brasileiro está dando uma lição histórica à elite golpista, que continua batendo na tecla de que ele não está preparado para a democracia.

 

Lula fará seu sucessor, ou melhor sua sucessora. Seu governo coroa-se não apenas com o êxito acachapante de suas realizações, mas também com a certeza da continuidade. Depois de oito anos no poder, vai deixá-lo como o melhor presidente da história. A vitória de Dilma também é histórica. Primeira mulher na presidência, alcançada a partir de uma trajetória pouco visível que lhe renderam, ainda em 2009 e pelo mesmo PIG derrotado, o epíteto de “poste”, ou “preposto” de Lula colocada ali para segurar a vaga para o retorno dele em 2014. Dilma mostrou que tem luz própria, que quer governar o Brasil e comandar o processo ainda em curso de mudança pela inclusão social, o combate à miséria e à desigualdade. A tarefa é árdua, porque a sombra de Lula se projetará sobre seu mandato, como o faria sobre o de Serra, fosse ele o eleito. Lula ainda será o principal nome da política brasileira nos próximos anos, porque Dilma será, todo o tempo, comparada com ele e julgada contra o pano de fundo do sucesso dele. Vai precisar mostrar sua fibra e sua capacidade de compreender o Brasil, marca mais importante do carisma de Lula.

 

Aécio Neves é o outro grande vencedor destas eleições. Elegeu-se senador com o voto massivo dos mineiros, fez seu sucessor (no caso de Anastasia o PIG não falou em “poste”…) e livrou-se de José Serra. Esta, creio eu, é a maior vitória de Aécio. Para ele, na verdade, não havia como perder. Ele sempre soube que vencer Lula seria praticamente impossível. Ao recusar o posto de vice de Serra, deixou que este quebrasse a cara sozinho. Ao entrar com tudo na campanha no segundo turno, cacifou-se dentro do PSDB, que não lhe pode atribuir a derrota. E se Serra ganhasse, ele levaria os louros por ter dado a Serra o que este não tivera no primeiro turno, o voto dos mineiros. Na vitória ou na derrota de Serra, Aécio sairia vencedor. Do alto dos milhões de voto que teve e do controle quase total da política mineira, ele tem armas para tentar despaulistizar seu partido, hoje em franca decadência por sua incapacidade de compreender o Brasil. Será o maior nome do PSDB fora de São Paulo, e é seu candidato natural em 2014. Isso, claro, se o PSDB descer de seu pedestal paulista. Tenho minhas dúvidas. Alkimin também venceu (embora não tão bem) e levou uma vaga no Senado, contra todas as previsões. E o fez trazendo FHC de volta à campanha. Apesar da derrota de Serra, o PSDB paulista ainda tem força para barrar as pretensões de Aécio.

 

Mas não tem força para se oferecer como alternativa real de poder nos moldes em que está estruturado. O PSDB sairá desta eleição mais magro do que entrou, ao menos no parlamento. Perdeu cadeiras na Câmara e no Senado, terá menos espaço e poder de fogo para obstar as políticas de Dilma, estará obrigado à oposição golpista com seus aliados raivosos, o DEM e o PIG. Uma oposição de opinião, que não conseguirá impedir na prática o aprofundamento da mudança em curso nas maneiras de propor e implementar as políticas públicas de interesse da coalizão vencedora destas eleições. O PSDB precisará se aproximar mais do DEM, afirmando-se programaticamente como um partido liberal e não como socialdemocrata, espaço hoje inteiramente ocupado pelo PT e aliados. A cartilha já está escrita. O PSDB sob Dilma será o partido da redução de impostos, dos gastos públicos, do Estado. O crítico da ineficiência, da gastança. Das políticas, enfim, que levaram Dilma ao poder. Se bem sucedida em seu governo, Dilma colocará uma pá de cal no PSDB paulista. Se bem sucedida, Dilma jogará Aécio no colo do PMDB ou de um novo partido por ele criado.

 

Serra volta para casa com o rabo entre as pernas. Tentou de tudo para chegar ao poder. Apresentou-se como indivíduo solitário, judiado, David contra Golias. Como se não tivesse partido, correligionários, equipe de governo. Queria ser presidente porque “é do bem”… Os brasileiros, que não são bobos, viram que o santo é do pau oco. Para sorte do Brasil, este está se aposentando.

 

E o PIG… Bem, os jornalões e a Globo sentirão nos bolsos a rejeição dos consumidores de informação ao seu tendenciosismo covarde, preconceituoso e antidemocrático. O PIG precisará trabalhar muito se quiser recuperar aquilo que é o principal capital de um meio de informação: a credibilidade. A dinâmica das duas últimas campanhas ensinou os brasileiros a ler, ver e ouvir nas entrelinhas do noticiário. Lê-se o jornal e vê-se a tevê com um pé atrás. Há sempre a suspeita de que estão armando uma. Essa suspeita contamina todo o PIG. Como o tendenciosismo pende sempre para o golpismo das elites, é natural a associação, pela população, entre o PIG e determinada fração de classe. Aquela que perdeu o osso. Que se está encastelando nos governos locais. Que não consegue enxergar o Brasil.

 

Abraços a todos,

adalberto

Redação

Redação

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