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Inflação baixa muda o costume de jovens brasileiros

Jovens não conhecem os reais efeitos da oscilação monetária e têm costumes diferentes dos adultos que vivenciaram a crise durante a década de 80

 

Patríca Basílio

 

Três décadas parecem pouco quando pensamos que o Brasil foi descoberto há 510 anos. Entretanto, a partir de 1980, o país passou por tantos altos e baixos durante o período inflacionário que gerações antes tão próximas se tornaram economicamente bastante distantes. Quase metade da população brasileira, com 193,2 milhões de habitantes, é composta por jovens que desconhecem os impactos da inflação porque não eram nascidos ou eram bebês. Durante esse período, a alta dos preços atingiu 2.000% ao ano, sendo que na última década a média ficou em 5% ao ano.

A universitária Jéssica Fracaroli Tolentino, de 19 anos, sabe o que significa a inflação, mas não imagina como reagiria diante dessa oscilação, principalmente por ter o costume de guardar dinheiro na poupança. Em contraposição, o seu pai Antônio, de 40, que tinha a mesma idade de Jéssica durante a crise inflacionária, não conseguia poupar durante a sua juventude e acabou até recorrendo a agiotas para dar conta das dívidas. “O que mais se via nos supermercados eram as maquininhas de etiquetar preços. E qualquer oportunidade de compra antes da remarcação não podia ser desperdiçada”, conta o gerente de fornecimento da Mercedes-Benz.

Para Otto Nogami, economista do Insper (antigo Ibmec), o comportamento dessas gerações é totalmente diferente. “O hábito de guardar dinheiro  em poupança ou em previdência privada é moderno por conta da estabilidade econômica que vivenciamos hoje”, diz.  Evaldo Alves, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), concorda: “A juventude anterior não tinha referência de preços e acabava gastando muito”.

Outra diferença entre essas duas gerações está nos objetivos de vida. Enquanto os jovens da década de 80 priorizavam o sucesso no trabalho, os de hoje apostam no equilíbrio entre carreira e vida pessoal. “Ele (trabalho) foi muito importante durante a minha juventude porque eu precisava pagar as contas de casa”, diz Antônio. Em contraposição, para Jéssica, não há carreira bem-sucedida sem a alegria na vida pessoal. “Os conceitos vêm juntos”.

Crise monetária mudou o cenário no Banco Central
Com a alta oscilação monetária da década de 80 até o início dos anos 90, não foram só as pessoas que ficaram enlouquecidas. O próprio Banco Central viveu um verdadeiro caos por conta da revolta da população.
“A inflação muito alta fazia com que as pessoas quisessem tudo muito rápido para evitar perda de dinheiro. Hoje, é muito mais tranquilo”, afirma Márcia Aparecida Fabio, de 55 anos,  ex-funcionária do setor de câmbio do banco.

A relações públicas lembra também que, durante a presidência de Fernando Collor de Mello (1990-1992), centenas de pessoas se revoltaram por conta do confisco das poupanças e foram ao Banco Central para tentar reaver o dinheiro.

“Tinha gente que havia perdido um ente querido e não tinha como pagar os custos com o funeral. Por isso, faziam vaquinhas para arrecadar os fundos “,  conta a ex-bancária.

Inflação
É a queda no valor de mercado ou poder de compra do dinheiro. O maior pico foi em 1990, chegando a  3% ao dia.

Gatilho salarial
Foi implantado durante o Plano Cruzado para corrigir automaticamente os salários sempre que a inflação pelo IPCA ultrapassasse 20% ao mês.

Fiscais do Sarney
O presidente José Sarney tabelou o preço dos produtos e popularizou o termo “fiscal do Sarney”, que era o cidadão que denunciava quem desrespeitava a regra.
 
Overnight
Eram aplicações feitas durante o dia para serem resgatadas no dia seguinte. O objetivo era evitar que o dinheiro perdesse valor.

 

http://www.diariosp.com.br/index.php?id=/dia_a_dia/economia/materia.php&cd_matia=3205

Redação

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