Macron, entre o recuo, a renúncia e o golpe de estado.

Macron, entre o recuo, a renúncia e o golpe de estado.

A saída da direita na França foi montada a partir de uma montagem de um governo de “centro” em que o seu líder é o ex político do partido socialista francês, Emmanuel Macron, que além de uma passagem meteórica pelo governo socialista de François Hollande, um ano e meio como ministro da economia, possuía vínculos e financiamento do sistema financeiro internacional, onde o mesmo foi sócio do Banco Rothschild.

Após esta passagem pelo governo socialista e como sócio do Banco Rothschild, Macron fundou para si mesmo um “novo” partido de “centro” Francês, o Em Marcha, que neste partido a imensa maioria dos deputados eram pessoas advindas de quadros superiores de diversos escalões de empresas francesas.

Obtendo no primeiro turno das eleições 24,01% dos votos, logo a frente da candidata de extrema direita Marine Le Pen (21,3%) e dos candidatos de direita tradicional Francois Fillion (20,01%) e de esquerda Jean-Luc Mélenchon (19,58%), no segundo turno manobrando como espantalho a figura de Marine Le Pen, Macron consegue se eleger com 66,10% dos votos.

Como as eleições parlamentares na França são logo após as presidenciais, os eleitores para não criarem o que eles chamam de coabitação (presidente de um partido e deputados de outro) e como as eleições são distritais, Macron ganha uma sólida maioria de novos deputados, saídos do nada e com votações por distrito em torno de 20% a 30%.

Apesar de ter recebido no primeiro turno um pouco mais de 28% dos votos o Em Marcha consegue 53% dos deputados, que junto com o partido de direita Modem que com 4,12% dos votos consegue 7% dos deputados, a soma destes dois partidos dá a Macron uma confortável maioria no parlamento Francês.

Todos estes dados são importantes para se entender a fragilidade que passa o atual governo Macron e as suas perspectivas perante o movimento de massa atual de contestação ao seu governo, os Coletes Amarelos.

Da mesma forma que o aumento do combustível dos caminhoneiros criou um fortíssimo impacto no governo Temer, o movimento dos Gilets Jaunes está criando um impasse ao governo Macron. Para quem não sabe um “gilet jaune” é um colete de segurança amarelo com faixas reflexivas que todos os motoristas franceses devem ter nos seus carros para em caso de parada na estrada eles devem vesti-los.

No fim deste ano, no dia primeiro de janeiro, deveria começar a ser cobrada uma taxa suplementar sobre o óleo diesel que na França é utilizado por uma quantidade significativa de automóveis, esta taxa seria cobrada para inibir o consumo do óleo diesel que provoca grande poluição nas grandes cidades francesas, logo seria um imposto ecológico. Quando os franceses descobriram que aproximadamente 90% deste imposto seria utilizado para cobrir o déficit criado pela retirada do imposto sobre a fortuna, extinto por Macron, o caldo virou.

Macron já era conhecido pela imensa parte da população francesa (mais de 70%) como o presidente dos ricos devido as desonerações fiscais aos mais ricos e o aumento de impostos e taxas aos mais pobres, os franceses via um movimento convocado por redes sociais, conclamaram ao bloqueio das estradas pelos motoristas furiosos de coletes amarelos, daí surge o movimento dos Gilets Jaunes (coletes amarelos).

No início deste movimento, parecia um movimento típico de direita, um movimento anti-impostos, a própria esquerda parlamentar francesa, assim como as confederações trabalhadoras de esquerda a CGT, por exemplo, desconfiou deste movimento e varias manifestações contra imigrantes e racistas apareceram nos primeiros dias do movimento, porém logo após a primeira semana, como a recuperação do movimento pelo partido de extrema direita o atual Reunião Nacional (Rassemblement National), herdeiro a 100% do antigo Frente Nacional (Front National) fracassou rapidamente, pouco a pouco os militantes de base dos partidos de esquerda e dos sindicatos, junto com os coletes amarelos das mais diversas posições políticas (inclusive do Front National) começaram nos cruzamentos das estradas a discutirem política e ampliarem a gama de reinvindicações além da suspensão da taxa sobre o diesel.

Como a base dos coletes amarelos eram de pessoas que procuravam nas pequenas cidades francesa fugir dos aluguéis monstruosos das grandes cidades (um apartamento de 15m² em Paris, pode custar mais de R$2.500,00 por mês), e ao mesmo tempo os últimos governos franceses vinham retirando serviços básicos das pequenas cidades como correios, banco postal, maternidades, transporte ferroviário e outros serviços públicos, o preço do combustível virou um artigo de primeira necessidade na França. É importante chamar atenção que também o comércio de proximidade se encontra praticamente demolido pela presença de grandes zonas comerciais que se situam fora dos limites das pequenas cidades. Em resumo, um francês que fica doente, que precisa de um banco ou mesmo fazer o rancho do mês tem que pegar o seu carrinho, caindo aos pedaços e andar algumas dezenas de quilômetros para fazer algo. Até mesmo para o trabalho, para chegar ao mesmo, ou se utiliza um automóvel ou vai de automóvel até uma das estações de trem que estão sendo desativadas.

Com o início do movimento, as listas de reinvindicações coletivas foram aumentando, e se começa até o questionamento do sistema representativo francês.

Nos governos anteriores ou da direita tradicional ou da esquerda, os Republicanos e os Socialistas, já havia uma política que foi intensificada por Macron, porém estes governos contavam com bases eleitorais mais ou menos sólidas, que aparavam as besteiras de seus governos, porém os “novos” do Em Marcha de Macron, devido a sua artificialidade e considerarem o governo como uma Startup, dinâmica que deve ter lucros, e não um deficitário serviço público, estão completamente fora do ar. Há poucos dias uma deputada do Em Marcha mostrou num debate com dois representantes dos coletes amarelos que não sabia nem o valor do salário mínimo francês, o que os levou a indignação e a saída do debate televisivo.

A ausência de um partido tradicional com uma militância de base, e com um partido de “playmobils” (o apelido que ganharam os deputados do Em Marcha) que só sabem levantar a mão para aprovar os decretos vindos do executivo e que se negam terminantemente de discutir qualquer coisa que saia do “script”, transformou a sólida base parlamentar de Macron numa verdadeira meleca.

Atualmente Macron ficou reduzido a quatro alternativas, não faz nada e espera que todos se acalmem, ou recua e aceita uma série de demandas dos coletes amarelos que desconfigurariam por completo o seu governo neoliberal, ou renuncia e convoca novas eleições ou finalmente dá um golpe legal instituindo o Estado de Emergência.

A cada semana que passa, os coletes amarelos se aproximam mais dos sindicatos, dos estudantes e dos partidos de esquerda, e esta aproximação pode gerar algo verdadeiramente revolucionário, que talvez Macron esteja esperando para convocar o Estado de Emergência, porém esta hipótese pode resultar no recuo dos coletes amarelos ou ressuscitar um velho hábito Francês, a Guilhotina para o Rei.

 

Redação

Redação

Recent Posts

A Reconstrução do Rio Grande do Sul, por Lurdes Furno da Silva & André Moreira Cunha

Não temos a pretensão de oferecer um pacote pronto, fechado e detalhado. Isso é impossível…

27 minutos ago

Foto e infâmia de Maria, por Urariano Mota

Não estava na parede, porque ali não poderia figurar na hierarquia dos santos e do…

49 minutos ago

A história de dois soberanos, um lacaio e uma babá, por Pepe Escobar

A Rússia não rejeita o diálogo com Ocidente, está pronta para o diálogo sobre segurança e estabilidade…

1 hora ago

Petrobras reduz preço do gás natural para as distribuidoras

Potencial de queda chega a 35%, a depender dos contratos e volumes movimentados; queda no…

14 horas ago

Medida provisória viabiliza importação de arroz

Para evitar especulação e manter preço estável, governo federal autoriza a compra de até 1…

15 horas ago

Governo do RS levou meses e milhões para projeto climático; UFRGS o faz em dias

Governo de Eduardo Leite levou mais de 7 meses e R$ 2 milhões para projeto…

15 horas ago