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Mais um ponto final na luta dos homossexuais

[Mas não é incrível saber que até 1973 eu seria considerado doente mental?!? Benzadeus, como diz o JC… Bom, pelo menos agora dimimuirá o preconceito contra transexuais também. Parabéns à APA!] 

http://oglobo.globo.com/saude/mais-um-ponto-final-na-luta-dos-homossexuais-7059597

Mais um ponto final na luta dos homossexuais : Com décadas de atraso, principal manual de psiquiatria deixa de considerar doentes os transgêneros

A homossexualidade era entendida como uma doença mental até 1973 e estava no mesmo grupo que necrofilia, pedofilia, zoofilia e outras mais pela chamada “Bíblia da psiquiatria”: o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (DSM). Uma forte reação de acadêmicos e ativistas conseguiu na época remover o termo do manual. Quarenta anos depois, a mesma publicação, que influencia profissionais de todo o mundo, realizará outra grande mudança. A partir do ano que vem, os transgêneros — grupo que inclui travestis, drag queens, transformistas e transexuais — serão retirados da classificação de doenças mentais.

 

A revisão da Associação Americana de Psiquiatria (APA), que coordena o manual com o apoio de 1.500 especialistas de 39 países, vem na esteira de recentes mudanças legais sobre os direitos dos homossexuais. Em 2010, o governo francês retirou a transexualidade das patologias psiquiátricas. Nesta semana, a Câmara de Deputados do Uruguai aprovou o casamento gay, e o projeto será enviado ao Senado. A lei já vale para Argentina, Islândia, Portugal, Suécia, Noruega, entre outros. No Brasil, a Justiça analisa caso a caso.

 

A médica e política americana Dana Beyer, transexual e ativista da causa, há uma década está no grupo de trabalho para a revisão do DSM-5, que foi aprovado este mês e será publicado em maio de 2013.

— Houve grande resistência nos primeiros anos por pesquisadores mais velhos e conservadores, mas isto foi diminuindo ao longo dos anos — comentou Dana por email. — Muitas das mudanças foram impulsionadas na última década pelo reconhecimento de que nós, gays e transgênero, nascemos assim.

 

Dana lembra que, apesar da remoção da homossexualidade do DSM-2, de 1973, o termo continuou presente como uma subcategoria, a “homossexualidade egodistônica”, até 1987. Já o DSM-5 trocou o Transtorno de Identidade de Gênero por Disforia de Gênero, entendida como uma condição, e não mais um transtorno. Manteve ainda o “distúrbio transvéstico” (antes fetichismo transvéstico).

— Precisamos removê-lo na próxima revisão — afirmou Dana. — A principal diferença é que a decisão de 1973 foi o que impulsionou o movimento gay, já essa revisão é uma aproximação da conclusão do movimento de direitos civis dos transgêneros.

 

Sociedade secreta e ativismo da história da APA

Já para a professora do Instituto de Medicina Social da Uerj, Jane Russo, que atua na área de gênero, sexualidade e saúde, a alteração na verdade mostrou que o movimento gay já estava forte naquele período:

— Em 1969, marca-se o surgimento do movimento gay, e em 1970, o grupo começou a pressionar a APA. Eles compareciam em congressos anuais da associação e faziam manifestações, não violentas, mas assertivas.

 

Jana conta que até este período, os próprios psiquiatras escondiam a sua orientação sexual.

— Não tinha um veto oficial, nada que proibisse um psiquiatra de ser homossexual, mas era mal visto. Exatamente porque a homossexualidade era considerada uma doença mental — explica ela.

 

Na época, inclusive, um grupo de psiquiatras homossexuais integrantes da APA reunia-se numa espécie de sociedade secreta. Jana explica, no entanto, que esta entidade tinha pouca participação política, e era mais um grupo de encontros sociais. Num dos congressos da associação, em 1972, ela conta que um psiquiatra envolto numa capa e com a cabeça coberta se declarou publicamente gay. O “Dr. Anônimo”, como se denominou, revelou que mais de 200 membros da APA eram homossexuais e que se encontravam secretamente.

 

A questão da homossexualidade no DSM é considerada uma das mais controversas de sua história, que teve início em 1952, segundo o ex-presidente da Associação Americana de Psicologia e professor de Psicologia da Universidade Temple (EUA), Frank Farley.

— As questões de gênero e a homossexualidade na história do DMS sempre foram negativas. A Ciência progressivamente vem mostrando que não existem diferenças confiáveis e válidas relacionadas ao gênero. Existem muitos estereótipos sobre este tópico — disse Farley, por email.

 

Psiquiatras “tratavam” comportamento gay

Apesar da revisão sobre homossexualidade, foi somente em 1992 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) alterou o termo na sua Classificação Internacional de Doenças (CID) — também passando por reformulação e com aprovação prevista para 2015. Ambos os guias servem de bases para profissionais de saúde e pesquisadores.

A mudança foi oficializada na década de 1980 pela Sociedade Brasileira de Psiquiatria, que alterou a associação da homossexualidade com uma doença. Já em 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) regulamentou a cirurgia de mudança de sexo.

 

Coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP, a psiquiatra Carmita Abdo afirma que antes do anos 70, também no Brasil, os homossexuais eram condicionados a manifestar atração pelo sexo oposto:

— Como isto acabava levando os indivíduos a quadros de depressão, surtos psicóticos e suicídios, os pesquisadores começaram a questionar se era realmente um tratamento adequado.

 

Carmita explica que a tendência da psiquiatria hoje é compreender a homossexualidade (e não homossexualismo, termo que remete à doença) como uma orientação que incide menos do que a heterossexualidade, mas que não é patológica, ou seja, “é apenas uma característica”, afirma.

— A sexualidade não é estática. Ela acompanha as mudanças sociais e culturais — comenta Carmita, que relembra. — No início do meu trabalho, há 35 anos, eu recebia homossexuais querendo mudar sua orientação. Hoje eu recebo pais, geralmente de adolescentes, não para mudar a cabeça do filho, mas para poderem entender e aceitar melhor a situação, saber como conduzi-la.

Hoje o transexual é o que considera ter nascido no sexo errado, segundo entendimento da psiquiatria.

 

Redação

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