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Marina já perdeu estas eleições

O novo quadro que se apresenta com a morte trágica e lamentável de Eduardo Campos já tem uma perdedora: Marina Silva. Se não podemos antever o resultado do pleito eleitoral, ao menos podemos apontar alguns elementos que desde já se caracterizam. Todos sabem que Marina apostava na derrota de Eduardo Campos, ao qual se aliou eleitoralmente, apesar das grandes afinidades que construiu com ele durante a aproximação. O principal resultado que ela esperava era fortalecer o partido que criará no próximo ano independente de quaisquer outros desdobramentos, a Rede Solidariedade. O partido só não existe e embasa sua candidatura por conta de ter sido barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral, por não terem cumprido os requisitos formais em tempo hábil, vale dizer.

Marina saindo candidata na forma de vice da imagem de Eduardo Campos, do qual se falará a campanha inteira e teria um vice da vice de menor expressão, dentro do PSB, para manter o partido depois de sua saída. Precisariam de um nome novo, jovem de preferência que aposte em 2018, ou melhor ainda, em 2022. Não pode ser um nome pífio, como fez Serra aceitando Índio da Costa, em 2010.

Uma segunda hipótese, menos pior para ela, mas ainda assim de derrota, seria contribuir para a candidatura de um nome forte para a Presidência dentro do PSB e permanecer de vice, assumindo que seu objetivo é firmar bases para o novo partido e não ser Presidente da República. Neste caso agradaria a militância do partido que torce o nariz para a candidata. Além disto, fica com uma certa áurea de pureza, pela humildade de abrir mão da natural candidatura em nome de alguns princípios, dado que se concordasse plenamente com o PSB não teria motivos para fundar um segundo partido e, se pretende o fazer é porque tem alguma ideia que difere de sua sigla atual. Aceitando a situação de vice, entretanto, Marina Silva poderá parecer ter se acovardado diante do desafio da campanha. Se somado esse fator à perda de prestígio em função das posições conservadoras apresentado por ela nos últimos anos, pode até liquidar sua expectativa de um mandato presidencial no futuro. O candidato presidencial que assuma a posição na chapa herdará o apoio de Eduardo Campos, transmutado em santo como todo falecido. Em 2018 teria toda a condição de se reapresentar ao eleitorado com um novo patamar.

Neste caso, o problema é ter um nome forte e disponível no PSB para a empreitada. Vejo duas possibilidades neste caso. Uma primeira é a candidatura de Luíza Erundina, com a qual já dividiu sigla no passado, quando ambas foram do PT e com a qual não teria problemas em conviver. Erundina é disciplinada o suficiente para aceitar a convocação, mesmo sabendo que não é uma campanha fácil. Tem expressão nacional, apesar do legado de certa rejeição no eleitorado paulista. Tem, entretanto, também uma legião de fãs, pelas realizações e até lendas associadas à sua passagem pela administração da cidade de São Paulo nos anos 90.

Outro desdobramento deste caso seria a possibilidade de tirar um bom volume de Dilma, dado que ambas circulam no mesmo eleitorado, tendo suas imagens igualmente associada à Lula, apesar de que este faria clara indicação de Dilma. Neutraliza ainda o efeito “mulheres no Poder”. Mesmo não sendo uma questão tão forte no eleitorado até agora, acenderia uma polêmica reduzindo o papel de Aécio na disputa.

O segundo nome que me ocorre é o de Ciro Gomes. Já talhado pela eleição presidencial, consistente em seu discurso e igualmente disciplinado para assumir a tarefa, mesmo sabendo também que a derrota é o cenário mais provável. Com suas frases de efeito e sua sinceridade mordaz, elevaria o padrão do debate e exporia em muito as fragilidades de Aécio, apesar de já ter elogiado publicamente o candidato mineiro. Mesmo com críticas ao governo federal, Ciro não tem espaço para o contraponto completo e seria driblado por João Santana, que é o marqueteiro da Dilma. Com 12, contra 2 minutos, chega a ser um massacre publicitário se bem trabalhado. O volume de ideias que pode ser divulgado e explorado, para ficar só no alto nível, fragilizaria o segundo de maneira mortal. Isto sem considerar a possibilidades de acusações ou insinuações, que se para ser rebatidas à altura consomem o tempo e deixam a campanha na defensiva, o que não é bom para ninguém.

Esse problema da desigualdade no tempo de TV acaba repercutido também financeiramente, dado que com o financiamento privado de campanha a escolha dos apoiadores segue a lógica do jóquei, isto é, não se aposta em cavalo azarão, a não ser que se esteja disposto a um grande risco, que não é o perfil dos endinheirados brasileiros. O tempo de televisão é um fator decisivo nas eleições, dado que recolocam o peso das informações atualmente veiculadas pela grande imprensa. Mesmo que o horário eleitoral em si não seja o único fator, em função da baixa audiência acentuada pela expansão da internet, os programas eleitorais podem pautar os debates.

A depender da forma com que a propaganda eleitoral pode fazer a grande imprensa “correr atrás” para explicar algum tema apresentado pela candidata majoritária. Mesmo com o propósito de ataca-la, não será possível desconsiderar omitir os temas chamados pela campanha de Dilma. Não se pode subestimar o fogo da imprensa sobre o PT, seu alvo preferencial, mas o modelo de cobertura adotado subordina a pauta do jornalismo ao programa eleitoral. Primeiro os telejornais apresentam uma síntese editada do programa partidário da noite anterior e da agenda dos candidatos, certamente dosando as tintas de acordo com os interesses do chefe. Depois disso tentam apresentar alguma pauta, a depender do tempo restante, descontado o tempo aplicado nos desdobramentos da pauta trazida pelas campanhas.

De qualquer maneira, nestes cenários apresentados, seja assumido a titularidade da campanha ou mantendo-se vice de direito e de fato, Marina tem a derrota como certa nestas eleições presidenciais. É claro que a política é extremamente mutável e outras perspectivas podem surgir, mas o impacto da morte de Eduardo Campos sobre Marina Silva será maior que a perda trágica de um amigo, o que já não é pouco.

 

Redação

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