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MELANCOLIA

Lindo o retrato da integração de Justine ( vestida de noiva ) com a natureza, a nos abrir o filme…

Acostumada às “intempéries e oscilações cósmicas” dentro das próprias entranhas, mostrou-se ela a única capaz de se manter tranquila diante da certeza do final dos tempos. A ponto de idealizar, para os últimos minutos de existência do planeta, uma “caverna mágica” – lembrei de nossos índios, inconsciente coletivo – capaz de proteger a pureza do pequeno sobrinho de qualquer fantasia dolorosa a respeito do que estivesse para acontecer.

Enquanto sua irmã Claire, controladora e bastante adequada aos ritos sociais, além de muito apegada aos bens materiais, angustiada, não conseguia se conformar com a total perda de controle…

Muito boa a passagem na qual as irmãs conversam sobre como passarem o derradeiro instante. Claire é ainda capaz de imaginar a tradicional taça de vinho na varanda, enquanto a irmã, sempre pronta a desconstruir, quer saber por que não no banheiro, ou de qualquer outra maneira, como a que acaba afinal por idealizar.

Quanto à covardia do marido de Claire, homem acostumado a dar conta de tudo com um talão de cheques, são dispensados quaisquer comentários.

O filme Melancolia trata do final da Terra, enquanto nos transmite a ideia, através de Justine – “Eu sei” – de que não haveria por todo o Espaço qualquer outro ser consciente, além de nós. Ninguém, portanto, capaz de dar-se conta de nosso fim. E acabo chegando à conclusão de que, sendo assim, não haveria o que temer… Pois não mais havendo vidas como a nossa, deixaria de existir também a tão temida morte. Não seria apenas o filho de Claire a deixar de crescer…

Fim de mundo mesmo talvez seja o que todos os dias vivenciam tantas criaturas ante desgraças advindas da miséria, da violência…; ou vendo suas famílias arrastadas por enxurradas destruidoras que poderiam ser menos arrasadoras não fosse a corrupção que, inacreditavelmente, continuando sobre a desgraça, acaba por atrasar qualquer tipo de reconstrução…

Fim de mundo mesmo talvez seja vermos todos os dias criaturas amáveis e educadas, como o marido de Claire ( lembram? ), a pretenderem, com seus milhões acumulados, comprar a salvação apenas para si mesmas.

A verdade é que achei o filme lindo e saí do cinema nada melancólica, muito longe de experimentar as insônias descritas por outros espectadores…

Lembrei, então, de que, para consolar a irmã, Justine fora categórica: “A Terra é má”…

Mas, de qualquer forma, se no fim estava o – nosso atavicamente reconhecido – nada, princípio de todas as coisas, quem sabe também encontrava-se ali a chance de uma nova humanidade?

Obs. E, afinal, Justine era “boa” ou “má”?, mocinha ou bandida?

Talvez apenas de repente mais consciente.

Completamente integrada à Terra, é provável que fosse diretamente desse vínculo que lhe viessem – o inconsciente trabalha sem parar, para o bem ou para o mal – os tais slogans comemorados por seu patrão, na agência de publicidade…

Quem sabe se toda a energia de tantos publicitários capazes de insights fenomenais, somada àquela que parte de nossos tantos bons criadores, fosse dirigida – ao invés de no sentido de produzir cifras a qualquer custo – para a construção de um mundo melhor, a nossa Terra não tivesse outra chance?

Redação

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