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Nossos murdochs são piores que o dos ingleses

 

Revista Veja, Folha de São Paulo, Estadão, Globo e muitos outros poderiam fazer uma pausa para reflexão.

Grampos inventados, matérias de alertas a banqueiros acusados de crimes graves, ilações oportunistas, falsificação de dados, partidarização deslavada, escutas telefônicas, criação de factóides, práticas intensas de difamação, calúnia e injúria, escandalização, acusações sem prova, condenações prévias, chantagem, vingança, uso de reportagens para forçar publicidade.

Essas práticas espúrias, acima de qualquer razoabilidade profissional, não são uma particularidade dos veículos do australiano Rupert Murdoch.

Sabe-se, perfeitamente, que Murdoch é visto como gênio por estas bandas, e um certo dono de revista, por exemplo, sente-se a própria tradução italo-brasileira desse personagem que fez do jornalismo um vale-tudo de sujeiras e apelações.

A murdoquização da imprensa brasileira, principalmente, a partir dos anos 90, chegou para os indefesos leitores/telespectadores/ouvintes num pacote com dois agravantes: primeiro, era muito pouco original, por se inscrever no costume colonizado de tudo copiar do exterior (um certo “exterior”) sem a reflexão necessária; segundo, instalava-se num ambiente marcado por enorme concentração de mídias.

Enquanto a sociedade britânica discute a própria mídia, o baronato da grande imprensa brasileira aponta armas fulminantes para qualquer tentativa de questionamento, acusando questionadores e críticos de atuarem contra a liberdade de imprensa.

Isso porque o baronato da midia  nacional associou o padrão “vale-tudo” de Murdoch a toda uma tradição de elites econômicas do país, que se acreditam no direito de reprimir, através de suas capatazias, qualquer manifestação em favor da multiplicação das vozes sociais.

Nosso murdochs também trazem outros vícios de berço: são adeptos à malandragem e à esperteza.

O exemplo mais recente foram as acusações levianas contra uma professora e uma pequena editora em relação a um livro didático corretíssimo.

Além de um conhecido capataz da imprensa paulista ter chamado estes educadores de criminosos, sem qualquer prova e sem qualquer pudor, diversos veículos ressoaram o conjunto de injúrias, calúnias e difamações contra os autores, sem, no entanto, se darem ao trabalho de lerem a própria obra acusada de conter erros.

Não houve um pedido de desculpas a essas pessoas feridas em sua seriedade profissional. Ao contrário, criaram pautas atenuadoras, que funcionariam como um mea-culpa velado, como se, malandramente, fosse possível desfazer o flagrante de gatunagem contra a honra alheia.

Espertos, malandros e preguiçosos, os nossos barões não se poriam mesmo a refletir sobre suas práticas.

Pensar dá trabalho e exige um pouco mais de inteligência.

Oportunistas, os seus capatazes jamais retirariam dos seus currículos as citações de exemplos de puxa-saquismo desavergonhado e perseguições aos desafetos dos barões. Não porque acreditam que estas citações enriqueçam os seus currículos. Mas, sim, porque o agregado, historicamente, sempre temeu perder o luxo que representa sentar no colo do patrão.

Redação

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