Entidades médicas, conselhos de classe das profissões de saúde, OAB-SP, Fecomércio e outras agremiações convocam os médicos para passeata na capital paulista no próximo sete de abril, Dia Mundial da Saúde. Segundo os organizadores, na ocasião será distribuído material preparado pela chamada Frente Democrática em Defesa do SUS: panfletos, faixas, balões e adesivos com os dizeres “SOS SUS” e sacos de lixo personalizados para carro. “As lideranças irão expor suas opiniões sobre a insuficiência de verba para o atendimento da população e a situação precária da saúde pública”. O objetivo é sensibilizar a sociedade para “aumentar o financiamento da saúde pública”.
O engajamento da classe médica na defesa da saúde pública é sempre muito bom e valioso. Mas lembramos que em manifestações de rua recentes ressoaram bordões e se estamparam imagens nem sempre compatíveis com a Constituição Federal e o decoro dos lares. A algumas passeatas compareceram certas figuras em roupas, digamos, folclóricas e outras sem roupa nenhuma. Independentes das intenções dos organizadores, as bizarrices ganharam destaque com incrível velocidade nas redes sociais e na imprensa nacional e internacional. Portanto há que se ter cautela redobrada no dia sete de abril, pois poderão aderir à passeata cidadãos alheios à área da saúde, os quais não estão obrigados a “zelar pelo prestígio e bom conceito da profissão” como manda o nosso Código de Ética Médica.
Após a ampla repercussão negativa das denúncias da “máfia das próteses”, de abusos sexuais de alunas da Faculdade de Medicina da USP, de trotes violentos a calouros da Medicina da Unicamp e da PUC de Campinas, e da festa de estudantes da Faculdade de Medicina da Unesp em que supostos veteranos vestiam traje de carrascos fantasmagóricos, sem falar na insatisfação generalizada dos usuários da saúde privada contra abusos cometidos por algumas operadoras planos de saúde e cooperativas médicas, o minuto de silêncio previsto para sete de abril poderia ser interpretado por parte da sociedade de forma bem diferente da que imaginam os organizadores da passeata.
Confiamos que a Frente Democrática em Defesa do SUS (Parênteses: qual a sua composição? Quem responde pela liderança? Quais seus objetivos? Onde está sediada? Quem a financia? Procurei a página da Frente na Internet, mas não encontrei. Agradeço se me informarem.) saberá agregar à passeata do dia sete somente compatriotas conscientes da grandeza e dignidade da luta pela melhoria do SUS.
Torcemos para ver no Dia Mundial da Saúde, de braços dados com os médicos, uma gigantesca massa cordial, pacífica, respeitosa e ordeira com moradores da periferia e das favelas, trabalhadores rurais, quilombolas, indígenas, imigrantes, sem-teto e representantes dos mais diversos movimentos sociais que combatem: o racismo, a discriminação de gênero, a homofobia, a mercantilização da saúde, a sonegação fiscal, a lavagem de dinheiro, etc.
Seria lastimável ver uma causa tão nobre correr o risco de ir para o beleléu se comparecessem ao evento paulistano oportunistas interessados apenas em aparecerem diante das câmeras e faturarem um saco de lixo personalizado para carro como brinde.
Aracy P. S. Balbani, médica CRM-SP 81.725.
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